Depois de conhecer as fórmulas 1-3-1 do texto clássico, da pirâmide invertida e do tópico que voa, está na hora de turbinar sua redação.
O texto criativo é o que faz a diferença entre uma redação correta e uma redação envolvente, entre o mediano e o grande escritor.
Criatividade requer boa leitura, capacidade de perceber recursos estilísticos e relacionar conceitos.
Parece complicado, mas fica fácil se você tiver a orientação correta, ler os materiais certos e tiver exposição para observar.
Observar, sobretudo. Em um livro, um filme, em um capítulo de série, onde o autor colocou ganchos e viradas.
Não posso ensiná-lo a ser criativo, mas posso lhe dar os passos essenciais. E o primeiro, melhor, mais desafiador e ao mesmo tempo mais fácil de compreender o da jornada do herói.
Que vou falar mais à frente, não sem antes rememorar o que você deve ter aprendido até aqui.
Que são as fórmulas simples de fazer a redação correta. Depois de sabê-las, é que você deve se aventurar na criatividade.
Como disse o rei ao coelho de Alice no País das Maravilhas que não sabia por onde começar: “comece pelo começo e prossiga até chegar ao fim; então, pare”.
Pode parecer simples, uma platitude com se diz das expressões que repisam o óbvio. Mas tem aqui suas razões.
Porque o que empaca qualquer escritor, são duas coisas:
- excesso e não falta de informação,
- querer ser criativo antes de conhecer o básico.
Diante do desafio de enfrentar uma página em branco, quer se mostrar inteligente e espirituoso.
Quer ser criativo antes de conhecer as regras, ser engraçado antes de contar sua história, saltar etapas para não parecer medíocre. Falta humildade, afinal.
O problema é que, se não der certo, se o texto não sai, a insegurança aumenta e pode colocar tudo a perder.
É melhor escrever sem medo, obedecendo as regras, para depois ser criativo.
Depois, quando tiver segurança, você pode desestruturar, desconcentrar, subverter a ordem, colocar o carro na frente dos bois.
Aí é onde se encontra a criatividade. Ela é sempre produto da desconstrução dos padrões estabelecidos. É ela que vai fazer você ser reconhecido, ganhar fama e talvez fortuna.
É ela que explica os livros mais admirados, os filmes mais premiados, os palestrantes mais reivindicados.
Tem aqueles livros e filmes como início meio e fim, em que você já sabe tudo o que vai acontecer: o moço encontra a moça, perde a moça e reencontra a moça.
E tem aqueles mais sofisticados que o moço pode não reencontrar a moça e mesmo assim oferecer uma outra solução mais atraente e com outra verdade mais universal.
É o que faz a diferença entre o clássico e o criativo, o óbvio e a obra criativa, o comum e o premiado.
Sua meta deve ser chegar lá. Mas, antes, porém, voltemos ao coelho de Alice. Começar do início
Rememorando as três fórmulas
Como eu mostrei no artigo Os passos da melhor redação para o Enem, você tem três fórmulas isoladas ou superpostas de fazer uma grande redação.
- A 1-3-1 do texto clássico.
- A da pirâmide invertida.
- A do texto que voa.
Meu conselho é que você aprenda primeiro a estrutura clássica do bom texto, base de todo bom artigo, livro, roteiro de cinema ou TV.
Que é início, meio e fim. Qualquer dessas peças de expressão, independente do tamanho, é dividida em três blocos: introdução, desenvolvimento e conclusão.
É preciso fazer o básico: apresentar sua tese, desenvolvê-la e concluí-la. Começar do início.
Na minha fórmula 1-3-1, você aprendeu a dividir o texto em cinco blocos ou cinco parágrafos, para descomplicar.
A Apresentação de sua tese no primeiro, o Desenvolvimento nos três seguintes e a Conclusão no quinto.
Numa pequena sofisticação, o primeiro pode virar dois em se apresenta e se formula a tese. E o último também se transforma em dois: a conclusão e uma lição moral.
Leia o artigo Como escrever a redação perfeita em cinco passos
Na Pirâmide Invertida, de longe a melhor para espantar o branco e organizar o raciocínio, você aprendeu a hierarquizar a informação por ordem de importância.
A partir das respostas que os jornalistas procuram dar ao que o leitor procura de imediato: quem fez o quê, quando, onde, como e por quê.
Chama-se pirâmide invertida por colocar a base que dá sustentação ao texto no topo, o resumo do mais relevante logo no primeiro parágrafo, o lead. Vai afinando do mais para o menos importante, no pé.
>>> Leia meu artigo Pirâmide invertida ajuda a organizar o raciocínio e treinar a escrita
E a fórmula do texto que voa diz respeito ao tópico frasal, em que a primeira frase anuncia o conteúdo do parágrafo e a última antecipa o seguinte.
O primeiro anuncia o texto e antecipa o segundo, que por sua vez puxa o terceiro, e daí em diante.
O que faz aquela redação que parece voar do papel e suscita elogios do tipo: “li seu livro numa sentada”.
>>> Leia o artigo O tópico frasal ou como escrever uma redação leve que voa
Tenho consciência dos três, é hora de se aventurar na técnica mais criativa – a da Jornada do Herói.
A fórmula da jornada do herói
Como no texto tradicional, de qualquer bom artigo ou livro, a Jornada do Herói se estrutura com uma Apresentação, um Desenvolvimento e uma Conclusão.
Com a diferença que se concentra na jornada do protagonista, em torno em torno de quem tudo acontece.
Todos os grandes livros e histórias reais têm um padrão de crescimento emocional do protagonista, por quem ou contra quem torcemos.
Mas ganhou fama e consistência no cinema, onde a principal matéria prima são heróis extraordinários diante de desafios maiores do que ele com condição de crescimento.
Nos filmes mais eficientes e envolventes, os três blocos se apresentam assim:
1. Apresentação: Mostra-se cenário, o protagonista, o antagonista e o problema ou conflito. O protagonista pode ser a questão que se vai discutir, o antagonista os desafios para superá-la e o problema, o conflito pontual que se apresenta.
2. Descrição: Descreve-se a jornada de crescimento do personagem e do problema, com as tentativas de enfrentamento, até estabelecer o conflito em que é preciso optar por uma das alternativas possíveis. E encaminhar para a…
3. Conclusão: É onde se escolhe o caminho optado e prova-se porque foi essa a melhor opção.
A Jornada do Herói é um achado do antropólogo americano Joseph Campbell sobre o rito básico que está na jornada dos mitos clássicos.
Toda história de grandes heróis, desde Jesus, Moisés ou Buda — passa por essas três fases centrais — a partida, a iniciação e o retorno — e se encaixa nos três blocos/capítulos pelos quais o seu herói irá passar.
É uma jornada de provação, enfrentamento e aprendizado.
A grosso modo, ele tem um problema no primeiro capítulo, enfrenta-o no segundo e caminha para sua solução no terceiro.
A teoria, de 1949 no livro O Herói de Mil Faces, foi adotada em filmes da Disney no final dos anos 70 e contaminou toda a indústria cinematográfica a partir de Hollywood.
Os roteiristas passaram a demarcar até com precisão dois pontos de viradas na mudança do primeiro para o segundo e do segundo para o terceiro blocos, exatamente aos 25 e aos 75 minutos de um filme de 100.
O herói deixa a zona de conforto na primeira, enfrenta o inimigo até o fundo do poço de onde vai para a segunda, o clímax.
Neste, ele terá que tomar a decisão que o encaminhará para um final não necessariamente feliz, mas sempre moral. O retorno e o aprendizado.
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Prestando atenção, você verá que o padrão está em toda grande história dos mitos modernos, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Eva Peron.
No cinema, da Ariel de A Pequena Sereia, no Neo de Matrix, em Rocky Balboa e no Luke Skywalker de Star Wars.
E pode, deve, estar em sua história. Seja a que você estiver contando de alguém ou a sua própria.
Você será tão envolvente quanto um roteiro de Hollywood se contar como enfrentou um grande problema, uma tragédia pessoal de preferência, o que fez para enfrentá-la, como venceu e o que aprendeu.
Então, num resumo:
- Aprenda a desenvolver uma redação de texto clássico, de início meio e fim, com a fórmula 1-3-1.
- Considere quebrar o branco com pirâmide invertida.
- Turbine para que seu texto voe com o tópico frasal.
- Tente nele a jornada do seu herói
- Leia três livros a respeito — O Herói de Mil Faces, A Jornada do Escritor e Manual do Roteiro. Links a seguir:
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