Leio Freak, sobre a arte de pensar fora da caixa, dos economistas Stephen Dubner e Steven Levitt, autores de Freakonomics, e esbarro na história da “transfusão fecal”.
O gastroenterologista australiano Thomas Borody inventou o transplante de fezes para o tratamento de algumas doenças estomacais, incluindo a colite aguda, e colheu bons resultados até em casos de esclerose múltipla e mal de Parkinson.
Consiste em retirar fezes do organismo de uma pessoa sadia e injetar em organismos doentes. Adiciona-se uma mistura alcalina ao excremento, que o transforma num tipo de leite achocolotado a ser ingerido por uma cânula pelo nariz.
Nosso corpo é um caldeirão de micróbios bons e maus, herdados por genética ou circunstância, em luta pela sobrevivência. A doença ocorre quando o mau vence a parada num organismo debilitado.
O cocô de uma pessoa sadia, injetado nesse organismo doente, teria a capacidade superior aos dos antibióticos de aumentar o poder dos bons sobre os maus.
O médico se inspirou em outra experiência revolucionária, de seu conterrâneo Warren Marshall, Nobel de Medicina em 2005. Marshall destruiu parte da fortuna da indústria de remédios para gastroenterite ao descobrir como que a bactéria H.Pilory, ponto de partida da úlcera duodenal e de outros tipos de cânceres, sobrevivia no mingau ácido do estômago. Testou-a no próprio organismo.
Pensando fora da caixa, fico pensando como que toda a bosta gerada no organismo sadio da operação Lava Jato pode ser reinserida no organismo algo apodrecido do sistema político brasileiro, para ajudar a reforçar o que resta de colônias isoladas de micro-organismos bons.
De uma forma geral, tendo a achar que as ações do juiz Sérgio Moro, como foram as de Joaquim Barbosa no STF, são pontos fora da curva da tradição brasileira, duas únicas bactérias boas num organismo que vem sendo debilitado desde a chegada dos portugueses.
Tomar consciência disso, com sentido histórico e para além das paixões políticas, pode ser um jeito de pensar fora da caixa. E ajudar um país a sair da caixa.
Ou não? Ou sou eu que talvez esteja também precisando de uma transfusão.
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