O presidente Michel Temer mandou bem em sua defesa enquanto mirou Joesley Batista e o maior dos erros políticos do procurador Geral Rodrigo Janot, de ter-lhe dado em contrapartida pela delação a hospedagem 5 estrelas em Nova York.
O que lhe deu fôlego para colocar sob suspeita também a prova, as gravações clandestinas do delator, e canalizar bem a insatisfação nacional pelos termos do acordo, como tratei aqui em artigo logo após o pronunciamento em que reassumiu o controle da narrativa.
>>>Temer monta nos erros do aversário, domina o discurso e controla a narrativa
Escolhera também o inimigo certo.
Apesar do erro de Janot e das provas não conclusivas da gravação, não havia muita dúvida na opinião pública de que o “bandido notório”, conforme as próprias palavras do presidente, era o dono da JBS, o empresário enrolado em 15 anos de propinas e quatro operações da Lava Jato, capaz de gravar um presidente da República na calada da noite e ainda vender ações e comprar dólares nas vésperas de sua delação e de sua fuga em jatinho para uma cobertura na Quinta Avenida.
No seu discurso em tom de bunker ontem, porém, Temer escolheu Janot e caiu em pelo menos três erros básicos de estratégia política:
- Escolher um inimigo que sugira comparações inevitáveis que lhe sejam desfavoráveis. Entre Michel Temer e Rodrigo Janot, com quem a opinião pública ficará?Esse tipo de desqualificação do adversário não funciona quando você sugere comparar coisas diferentes e é burra se você está em desvantagem. Um erro administrativo de servidor público não se equipara a corrupção.Um funcionário no exercício da sua função trabalhando à luz do dia com uma equipe de procuradores não é a mesma coisa de um político que recebe um investigado clandestinamente depois das 10h da noite e lhe sugere procurar um assessor que vai atuar contra o governo e carregar uma mala de dinheiro.
- Atacar as instituições ao invés de firmar pé em alguma versão que colocasse em dúvida a denúncia do procurador. Sair da denúncia para pular na jugular do acusador dá sempre sinal de culpa. E atacar o edifício institucional que nos rege sugere sempre a ideia de que a plateia é idiota, que nós que o erigimos estamos todos errados. Só ele é que está certo, parece dizer.
- Assumir o ônus de ele mesmo de partir para o ataque direto e assacar as suspeitas para desqualificar o inimigo.
Políticos experientes não cometem esses erros, a não ser que estejam em estado algo catatônico, como Temer, que vem cometendo erros primários, como o afastamento do ministro da Justiça amigo pela imprensa, que acabou por jogar seu assessor no colo da polícia.
O básico é terceirizar o ataque. Falso ou não, raposas políticas e ainda mais no exercício do poder de autoridade pública, mantém um mínimo de compostura em respeito às instituições. Falar em nome e em defesa delas sugere sempre grandeza e dignidade.
E falar menos.
Nossas história recente mostra que presidentes a caminho do cadafalso mais se afundaram quanto mais acharam que precisavam ir à TV quantas vezes fossem necessárias: Fernando Collor de Mello, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha.
A fala e o corpo, como se sabe, traem. E a certa altura é difícil para a opinião pública distinguir entre contradição e cinismo.
Aconteceu com Collor, Dilma, Cunha e em grau ainda controlável com Lula, a águia de longo alcance que veio perdendo voo à medida que preferia atacar o Judiciário ao invés de se explicar, mesmo com versões ruins. “Eu não sabia” seria melhor.
Um tanto atônito como Temer, parecer ter perdido a acurácia com que contornou a crise do Mensalão, de onde saiu para a reeleição sem atacar ninguém, a não ser a ideia vaga de que as elites não o queriam candidato.
Circulou ontem a versão de pelo menos um deputado da base de que a situação do presidente piora a cada fala. Não é a primeira vez que ouço isso a respeito de presidentes em risco, nos últimos 30 anos.
Eleições diretas
Para FHC ter apelado publicamente a Temer que renuncie é porque a coisa é feia mesmo.
Ele é um defensor atávico das regras constitucionais e contra mexer na Constituição porque as circunstâncias mudaram. É coisa de país retardado, porque os EUA passaram pelo diabo, um monte de guerras, e sua Constituição só teve umas duas dezenas de emendas em quase 300 anos.
Não seria de todo ruim, porque um gesto de grandeza de Temer aliviaria as coisas e o prazo, de uns nove meses para eleições diretas, cortaria pouco do seu mandato. E ainda poder-se-ia votar junto algum mudança importante, como o parlamentarismo, por exemplo.
Mas é também uma bobagem. Por fim, a eleição seria antecipada em em uns seis meses. O que não muda quase nada. Então, melhor esperar.
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