Do que leio, vejo e ouço, principalmente dos relatos pavorosos que ouço de amigos vítimas de assalto, você tem sim motivos para ter medo, muito medo de sair na rua. Pelo menos sete:
1. Os pequenos e grandes infratores perderam o medo da polícia e de irem para a cadeia, de onde saem fácil ou se encontram com os amigos em ambiente familiar, dominado pelas gangues.
2. Não são só profissionais e armados de revólveres que cometem crimes. Jovens de faca diante de uma oportunidade, um carro aberto, um velho, uma mulher ou uma criança, vulneráveis, atacam. Funcionários revoltados com seus patrões também perderam o medo. Associam-se a jovens também sem medo e voltam para fazer estrago.
3. Assaltos e mortes por roubo ou droga não são mais privilégios de capital. Acontecem nas cidades do interior, mesmo pequenos. Acontecem na zona rural. Acabou a utopia de se ter um canto de paz para plantar e colher com a mão a pimenta e o sal.
4. A maioria dos crimes de repercussão, que pode ser considerada uma boa mostra estatística, tem policiais ou menores envolvidos. E ambos não estão automaticamente ao alcance da lei. Policiais têm relações de cumplicidade, medo e restrições de encarar ambos.
5. Vítimas de roubo ou assalto relatam angustiantes experiências de má vontade policial, no socorro, na apuração e no encaminhamento – sem falar da qualidade – das ocorrências. Policiais civis e militares, com a autoridade de quem prende hoje os que o Judiciário vai soltar amanhã, compartilham com os cidadãos a sensação de que “não adianta”.
6. Parte ostensiva, mais fraca e despreparada, a polícia militar é menosprezada pelas outras polícias, por promotores e juízes, que não raro desqualificam seu trabalho.
7. Além de desqualificada, é manietada por uma geração de promotores e juízes de conceito progressista enviesado, segundo o qual deve-se respeitar o direito de ir e vir. O que a impede mandar para casa, para escola ou para o reformatório o pivete sem pais nas ruas. Criança, como se sabe, não tem que ficar na rua.
Não culpo Executivo, Legislativo ou Judiciáario, todos ao mesmo tempo culpados e vítimas de um sistema em decomposição de séculos, pelo caldo de cultura que construímos. Mas também não aceito que venham com a panaceia de sempre, de anunciar mais uma lei ou mais uma comissão para mascarar a inoperância.
Não vejo solução a vista, nem ao cabo de gerações. Para os que como eu não viverão para ver um quadro diferente, recomendam de coração que, se puderem, tirem seus filhos daqui.
E, por enquanto, tenha medo. Muito medo.
Maria diz
Tem coisas bem piores pra ter medo ! 🙂