Uma Dilma Rousseff de quase corpo inteiro e uma habilidade desconhecida para seus padrões de impaciência brotou das 14 horas de pronunciamento na Comissão Especial do Impeachment, no Senado.
Firme na maior parte das vezes, embora um tanto tortuosa como sempre, emplacou algumas manhas para dissimular seus erros no discurso lido por 47 minutos e nas respostas aos questionamentos dos senadores:
- Citou Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Goulart como exemplos de presidentes que sofreram golpes, mas teve o cuidado de não chegar a Collor de Mello. Que foi derrubado com a ajuda do PT e hoje é um aliado que, quem sabe, ainda pode votar a seu favor contra a cassação.
- Elegeu um inimigo malvado, Eduardo Cunha, para não ter que se indispor com mais ninguém, sobretudo os senadores. Mesmo com o risco de fingir ignorar que seu impeachment foi responsabilidade de não um, mas de 376 deputados.
- Acusou Michel Temer de trair o programa com que foram eleitos para implantar como interino um governo neoliberal, sem dizer, evidentemente, que foi ela quem contradisse tudo o que prometera em campanha logo depois de vitoriosa e antes de convocar o protótipo dos neoliberais Joaquim Levy para o Ministério da Economia.
- Previu que as crenças liberais de Temer vão colocar em risco conquistas sociais e o Pré-Sal, como se ela já não as tivesse ameaçado com sua gestão temerária e a degradação da Petrobras.
- Reduziu toda a acusação a três decretos presidenciais de ilegalidade discutível, não culpou ninguém de sua equipe (poupou até o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin que começou toda a lambança contábil) e desconversou em toda a oportunidade em que foi instada a falar sobre o tamanho da recessão com inflação e desemprego que provocou.
- Negou qualquer ação que resultasse em benefício pessoal para se diferenciar de seus acusadores e camuflar que patrocinou desvios de recursos públicos para a campanha.
- Usou com parcimônia sua experiência de tortura e de um câncer, suas duas primeiras quase mortes, sem cair no sentimentalismo estranho a seu estilo.
Acusada de sempre colocar a culpa da crise em fatores externos, foi bastante convincente em situar o marco do descarrillamento da crise em outubro de 2014, ao responder ao último questionamento do dia a Janaína Paschoal, e de como o Congresso operou para boicotá-la a partir daí, inviabilizando todas as propostas de ajuste de que o país precisava.
— Num momento em que o país precisava de ajustes, tivemos que ceder a gastos e a pautas bombas.
Omitiu, é claro, sua responsabilidade no desgaste da relação com a Câmara e de todas as pontes que explodiu com os deputados.
Estratégia de comunicação
Já escrevi que, sim, o PMDB lhe inviabilizou o governo para dizer que ela não dava conta. Mas ela com seus incendiários favoritos — Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas — tinha peitado Eduardo Cunha na eleição para a presidência da Câmara e viria a boicotar as tentativas de articulação de Temer que começavam a dar resultado.
Para agravar, também por isso, não conseguiu convencer os deputados de que não estava por trás das ações do procurador geral da República, Rodrigo Janot, quando ele começou a catar político a laço em ações espetaculares, como as prisões dos carrões de Collor e as batidas em gabinetes parlamentares, em julho de 2015. Não havia quem os convencesse de que o Palácio apostava na pulverização das denúncias em cima da classe política para poupá-la.
Dilma foi melhor no texto de 47 minutos de leitura, redondo em seu propósito de evocar sua história, sua legitimidade constitucional, suas conquistas e o encadeamento de maldades que resultou no que pode ser entendido, do ponto de vista de sua estratégia de comunicação, como um golpe parlamentar.
Nas respostas, embora bem orientada pelas oito mãos que lhe ajudaram a produzir o discurso (Jaques Wagner, Mercadante, Rosseto e Lula), voltou a ser Dilma, com suas limitações comunicativas, sua dificuldade de apelar emocionalmente e criar empatia. Não precisava ter fechado com referência a golpe. Mas com um jogo de cintura até razoável para seu histórico.
Saiu maior do que entrou. Pela festa que provocou para seus aliados, ao final, pode estar saindo como um trunfo que o Partido dos Trabalhadores, sempre resistente a ela, pode dispor para recomeçar a sua refundação.
É o que, junto à bandeira do golpe, lhe sobrou.
Ângela Carvalho diz
Beatriz Oliveira, golpistas como você vivem de quê? Só de golpe?
Afonso Lemos diz
#Foraosdois
José Afonso diz
Volte BRASIL
Gilmar Gonçalves vieira diz
Bom dia, muito bom o texto, eu não faria melhor só diria que no contexto politico não há inocentes há sim descontentes de não participar da farra do dinheiro publico distribuido aos tubos ou aqueles que receberam menos do que achavam que mereciam e aí veio a discórdia, ali em Brasilia os que não estão sujos estão respingados por algum amigo ou colega, então é assim não cite meu nome vossa excelencia que eu não cito o seu.
Beatriz oliveira diz
#Fora Dilma
Chaves diz
#Fora Temer