Em cognição sumária, como diria Sergio Moro, dado o enorme e excitante volume de informação e entretenimento nas cinco horas de vídeo do depoimento de Lula ao juiz da Lava Jato, posso dizer que:
- Com sua proverbial competência para falar de acordo com a plateia, Lula tratou Sergio Moro com respeito, bateu duro nos procuradores e editou a versão do encontro para a militância, depois, em praça pública. Três públicos, três discursos.
- Ele delimitou sua relação com o caso do triplex a apenas duas ocasiões: quando soube da compra da cota da Bancoop, por Marisa Letícia, em 2005, e quando foi levado por Leo Pinheiro para conhecer a cobertura, em 2013. Firmou pé aí para negar conhecimento sobre toda e qualquer movimentação anterior ou posterior a isso.
- Tentou ser sucinto o tanto quanto possível, na linha “só responda o que for perguntado”, mas foi traído pela tentação de lembrar fatos quando lhe interessavam. Ora era o grande responsável pela Petrobras, ora não sabia de nada que se passava lá. Ora não tinha influência no governo e nem no PT depois que saiu da Presidência, mas acionava João Vaccari sempre que preciso, inclusive para convocar uma reunião com Renato Duque.
- Sua estratégia visível foi pedir uma prova concreta, desqualificar os procuradores (lembrou o quanto pôde o malfadado powerpoint de Deltan Dellagnol, que o colocava no centro do universo da corrupção) e acusar a Lava Jato de fazer uso da imprensa para condená-lo e os demais acusados antes do julgamento.
- Foi malabarista para deixar subentendido que toda a responsabilidade pelas transações do triplex é da mulher, Marisa Letícia, sem acusá-la diretamente. Ao se concentrar em dizer que nada sabia além do que soube em 2005 e 2013, poupou-se de culpá-la sem deixar de sugerir.
- Teve seu salto com vara no último trecho de 20 minutos da audiência, quando Sergio Moro lhe franqueou a palavra e julgou que teria um palanque. Apesar de enquadrado e interrompido pelo juiz por três vezes ao tentar defender seu governo e fazer um balanço dos ataques que estaria recebendo da imprensa, conseguiu vender seu peixe: relacionar o mérito de sua fala à causa, expor os métodos de uso da imprensa pelos procuradores, reduzir todo o julgamento a uma farsa na falta de prova concreta e, de quebra, encadear seu velho e bem concatenado discurso de perseguido, em que apelou para até bulliyng aos netos. Impressiona como incorpora tão fundo a versão que construiu.
- Não conseguiu enrolar, barrigar, desmontar, irritar, atropelar ou sensibilizar Sérgio Moro, com drama ou piada, suas metáforas, suas generalizações ou suas comparações de grande apelo popular em praça pública. Como na que comparou a ida de Marisa ao apartamento ao da mulher que vai a uma loja de sapatos e irrita o vendedor depois de mandar descer 30 caixas e não comprar nada. Esse vendedor, claro, como Léo Pinheiro, vai acabar fazendo delação premiada. Além de não dar curso, não achar graça e interromper as histórias, o juiz mais sem graça do mundo, sem nenhum senso de humor e uma impressionante rapidez de raciocínio, devolvia com perguntas difíceis de ser respondidas. Quando Lula comparou os diretores da Petrobras a um filho que esconde notas escolares, que poderia ser o de Moro, o juiz respondeu que não deixaria de checar depois. Quando acusou os procuradores de terem prometido liberdade a Renato Duque em troca de citá-lo nas denúncias, Moro devolveu: “Quem prometeu a liberdade a ele?”
Alavanca de defesa
De tudo o que se apurou até agora, segundo os depoimentos, o que de mais provável aconteceu em relação ao triplex, num resumo rápido, é o seguinte:
- Marisa Letícia comprou uma cota de um apartamento comum do prédio da praia de Guarujá em 2005, da cooperativa do sindicato dos bancários, a Bancoop.
- Ao assumir as obras paralisadas em 2009, a pedido do presidente da Bancoop, João Vaccari, e em compensação por contratos com a Petrobras, a OAS deu prazo de 30 dias para os moradores optarem por desistir e receber o dinheiro de volta ou assumir novo contrato de novas prestações para conclusão da obra.
- Marisa não fez nenhuma das duas coisas. Matéria de O Globo de 2010 e os depoimentos de Leo Pinheiro sinalizam que, já em 2010, foi pedido por Vaccari que a cobertura fosse destinada ao casal Lula, sem qualquer pagamento.
- Entre essa data e 2013, Léo Pinheiro tentou convencer Vaccari e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, sem sucesso, a transferir a titularidade para a família Lula. Pediam para aguardar até uma conversa com o ex-presidente.
- Depois de encontro com Leo Pinheiro, em 2013, em janeiro de 2014 Lula aceitou visitar o apartamento em companhia de Marisa, de Léo Pinheiro e de funcionários da OAS, quando teriam solicitado, ele ou ela, reformas que incluíam uma nova cozinha e um elevador.
- Marisa participou de conversas sobre as reformas e a encomenda da cozinha com profissionais da OAS ou da empresa de arquitetura, contratada pela empresa, e foi com o filho Fábio vistoriar os serviços em agosto de 2014. Chegaram a cogitar de passar o Ano Novo no local.
- Com o recrudescimento da Lava Jato e a prisão de Leo, em novembro de 2015, só então ela decidiu exercer seu direito de compra e receber o dinheiro de volta, condição dada aos demais compradores, por 30 dias, apenas em 2009. Rasuras em documentos que modificaram o número da cota comprada por ela em 2005 estão por ser apuradas.
Como a presença de Lula em qualquer desses episódios intermediários seria comprometedora, ele disse desconhecê-los, embora seja uma impossibilidade estatística que não tenha conversado com a mulher sobre eles. Apega-se tão somente à existência de um documento, qualquer um, tátil, que prove sua propriedade.
Sim, salvo testemunhos e confrontações, e como não é de seu hábito ter conversas comprometedoras com mais de um interlocutor, não há. É sua alavanca de defesa.
PS – Ah, esse seu advogado, Cristiano Zanin, é um mala.
eraldo diz
Esse ódio preconceituoso desde Tal de Ramiro e paneleiros dá sustentação as atrocidades Que o mau Caráter do Temer tem feito Contra o povo trabalhador do Brasil.
Inclusive Contra alguns q se pautam p Grande mídia. Galinha Que segue pato morte afogada.
Douglas diz
Caro Ramiro, lendo seus comentários chego à conclusão que vimos dois depoimentos diferentes. Porque você declama exatamente o oposto do que vi, então deve ter havido outro depoimento. Passa aqui o link do que você viu.
JLT diz
‘copiei e colei’ o que escrevi em um blog aqui no EM:
Assisti várias vezes de noite e madrugada afora em vários canais de tv o depoimento do lula.
Assisti também as opiniões de vários comentaristas onde cada um era tendencioso, cada um empurrando sua opinião de acordo com o que pensava!
Eu creio(acredito nas evidencias) como alguns dos comentaristas que o lula é certamente culpado em um montão de ilegalidades que levam à condenação e até à prisão!
Meu sincero ponto de vista é conforme consta na lei:
Mesmo com dezenas ou centenas de pessoas sendo testemunhas de acusação, o testemunho verbal vale muito pouco para condenar alguém pois as pessoas ficam em silêncio, ou mentem, ou ‘temperam’ os depoimentos!
Nunca fui petista, detesto vários políticos ligados ao partido, não votei no lula e acho que o pt deve ser extinto MAS:
SE e somente SE a acusação apresentar provas(documentos) ou o réu se declarar culpado de atos ilícitos, haverá condenação!
JUAREZ ANTÔNIO AVELAR FERNANDINO. diz
Pelo que parece a nova estratégia de defesa já está traçada: transferir as responsabilidades para Marisa Letícia. Continua um autêntico falastrão, como nunca deixou de ser..
Alexandre diz
Existem milhares de provas: extratos bancários, documentos fiscais, comprovantes de pagamento no Brasil e no exterior, contratos fajutos, notas fiscais frias, e-mails, trocas de mensagens, planilhas, vídeos, fotos, registros de encontros clandestinos, depoimentos incriminadores da maioria dos empresários que pagavam Lula. Envolvem crimes no BNDES, na Sete Brasil e nos fundos de pensão. Coletivamente, organizadas em função do que pretendem provar, são destruidoras, irrefutáveis. Mas isso também não interessa à Seita Pixuleco. Assim que for condenado em primeira e segunda instância, começarão a reclamar da “justiça parcial” e da “perseguição política ao pai dos pobres”.
Gilney Guimarães diz
O leitor Aloisio fala em provas, mas cadê as provas contra Aécio? Os petistas tem fotos ou filmes do aeroporto de primeiro. mundo que passa dentro dos latifundios do Aécio? E os desvios milionários que vcs dizem, onde estão as evidencias? Ou é tudo apenas convicções também? Aécio já é réu? Meus caros petistas, o Moro tem muito mais que convicções, podem estar certos disto. A 2a. instancia também.
José das Mercês de Souza diz
Tudo o que vem desse grupo UAI, assim como as outras mídias golpistas são para denegrir a imagem de alguém contra quem não têm provas consistentes. Até quando será essa tremenda cara de pau?
Juca diz
Quando vc precisar de um advogado procure um bonzinho, bem submisso e pacato. Ou melhor vá sem advogado, afinal eles só perturbam e tulmutuam não é isso. Essa foi a maior besteira que já ouvi.
Marcos Pimenta diz
Não sei se elogio o Moro por sua paciência e capacidade ou se me manifesto decepcionado com ele por ter dado tanta chance para esse palanqueiro falastrão e fazer de uma audiência mais um canal de suas estultices.
Não assisti a todo o depoimento porque não suporto a voz, as mentiras e a imagem daquele bandido, mas parece que ao Moro faltou uma pergunta: Se D. Marisa não gostava de praia, por que comprou a tal cota do Bancoop no mesmo prédio, frente para o mar?
aloisio santos de sá diz
Provas amigos provas. Isso vcs não tem, tem ilações de jornais e revistas. No seu PS. vc reclama do Advogado, ora ora ora, vc não é parte do juízo e ainda assim reclama de uma advogado. Advogado é direito garantido, constitucional, vc mesmo já deve ter feito uso de um advogado chato que estava presente num juízo para sua defesa. Você trabalha em conjuminância com seu patrão para convencer seus leitores e condenar antecipadamente baseado em convicções e matérias de jornais. Vocês tem uma moral seletiva e arrogante, tipica de gente mesquinha que não tem como provar o que diz mas diz tantas vezes a mesma coisa até que essa coisa se torne verdade para alguns.