Joaquim Barbosa é um progressista.
Trouxe para o julgamento do mensalão duas teorias arrepiantes para os costumes da alta Corte: a do “domínio do fato”, que pune o mandante pelo conhecimento do crime mesmo sem provas objetivas, e a do “direito achado na rua”, que considera a pressão da opinião pública na interpretação da lei.
— Vossa Excelência não está nas ruas – disse certa vez, numa briga célebre com Gilmar Mendes.
Quis o destino que o PT, forjado na pressão dos movimentos populares por distribuição de justiça e oportunidades, ficasse contra ele.
2. Celso de Mello é um conservador.
Toda a sua biografia foi pautada por uma compulsiva interpretação da intenção da lei, indiferente a qualquer pressão externa.
Desincumbiu-se com absoluta convicção da dura tarefa de aceitar os últimos embargos que adiariam a condenação dos envolvidos no escândalo do mensalão, embora convencido da gravidade dos crimes, atento estritamente à letra da lei, sem qualquer medo de ignorar a voz das ruas.
— O Supremo não pode se expor a pressões externas, como aquelas resultantes do clamor popular e da pressão das multidões.
Quis o destino que o PT, forjado na pressão dos movimentos populares por distribuição de justiça e oportunidades, torcesse por ele.
3. Se há alguma coerência nos dois casos, é que o PT mudou de lado. Ficou mesmo conservador, do lado de quem manda, manobra e controla como qualquer um que chega ao poder e quer mantê-lo.
Numa variável da piada de que ser de esquerda aos 20 anos é obrigação mas, aos 40, é burrice, pode-se dizer o mesmo do seu jeito de ser ou não progressista fora ou dentro do governo: parece-lhe obrigatório antes e estúpido depois.
Ou, como já disse o filósofo José Sarney, com quem o partido e seu líder maior desenvolveram grandes afinidades, “governo é como violino, você toma com a esquerda e toca com a direita”. Para o PT e a grande esquerda que o apoia, tem sido uma questão de datas, com uma eleição no meio.
4. Não há problema algum em mudar convicções quando diante de novas circunstâncias, novos argumentos e novas responsabilidades. Principalmente quando se assume um governo e tem-se a obrigação de transformar o discurso em ação.
O que há de direita no país, nas instituições e em parte da mídia, também não saiu-se melhor no episódio do mensalão: apoiou o progressista do direito das ruas – Joaquim Barbosa – quando lhe interessava e condenou o garantista da letra da lei – Celso de Mello – quando ficou conveniente.
5. O problema desse partido que nunca sai do palanque e de seus simpatizantes nas mídias sociais e nas ruas é estar sempre participando do convescote como se estivesse de fora.
É especialista em acusar as elites e uma tal “mídia conservadora” de terem orquestrado e manipulado todo o julgamento para desmoralizar o primeiro governo popular, liderado por um homem do povo.
Ora, até para preservar sua imagem e sua história, deveria ficar calado. Que vá governar, antes que o PMDB o faça. E, uma vez assumindo-se dentro do governo, assuma suas responsabilidades.
E tome o voto de Celso de Mello como uma lição. A de que o respeito à lei, na forma como discutida e votada pela maioria dos representantes do povo, é a garantia constitucional da segurança do indivíduo, da ordem e dos princípios do que é certo ou errado na sociedade.
O que esse país bipolar e dividido, com boa dose de demagogia de ambos os lados, vem escamoteando.
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