Listo os sete roteiros de filmes mais relevantes sobre o lado bom e heróico do jornalismo.
Têm em comum a ideia do jornalista como herói contra a opressão e a manipulação do poder político.
Não à toa, a lista é encabeçada por Todos os Homens do Presidente, a primeira em que o jornalista deixou de ser tratado como galã.
É, como os demais, uma aula sobre ética, rigor profissional, espírito público e crença no papel missionário da imprensa.
Minha próxima lista, em preparação, será sobre os sete que não dignificam tanto assim a profissão.
Seguem em lista de importância pelo meu julgamento de eficácia do roteiro, do melhor para o pior. Dos sete, só tenho restrições ao último.
Todos os Homens do Presidente – All The President’s Men
Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein do The Washington Post (Robert Redford e Dustin Hoffmann) vão apurar o que parecia um crime comum, de invasão da sede do Partido Democrata no edifício Watergate, e acabam chegando a um dos maiores escândalos do século XX.
A apuração incansável da dupla vai acumulando camadas de evidências e tensão de que a invasão, por homens do FBI e da CIA presos com materiais para grampos, como veio a se saber, tinha envolvimento do presidente Richard Nixon.
Até desaguar na sua renúncia, em 1974, a primeira de um presidente americano, por obra e graça do trabalho dos dois e da mão firme do diretor de Redação Ben Bradlee.
Principal referência de filme sobre jornalismo, está no topo de todas listas de melhores filmes sobre o tema, ao lado de Cidadão Kane. Roteiro premiado no Oscar de William Goldman e direção excitante de Alan J. Pakula, foi também o primeiro a tirar o glamour da profissão. De 1976.
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Spotlight – Segredos Revelados
Um grupo de jornalistas do The Boston Globe enfrenta todas as dificuldades para apurar e publicar outro dos maiores escândalos do século XX, sobre o acobertamento pela Igreja de padres envolvidos em pedofilia.
Lotados no caderno Spotlight, que dá nome ao filme, vão romper o bloqueio da Boston sufocada por uma Igreja católica intocável por séculos de acomodamento e acochambramento de autoridades, políticos, advogados e jornalistas.
Sintomático que sejam estrangeiros que vão mudar o quadro — o repórter descendente de portugueses vivido por Mark Ruffalo, o advogado armênio de Stanley Tucci e, sobretudo, o novo diretor-geral judeu, o extraordinário ator Liev Schreiber.
Melhor filme do Oscar de 2016, deu o prêmio de melhor roteiro original para o diretor Tom McCarthy em parceria com Josh Singer, autor também The Post, de 2017, sobre a briga do Washington Post para publicar os papéis do Pentágono sobre as mentiras dos presidentes na Guerra do Vietnã. De 2015.
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The Post – A Guerra Secreta
Richard Nixon ainda tinha poder, no início dos 70, quando proibiu por razões de Estado o The New York Times de publicar uma bomba, os chamados papéis do Pentágono que revelavam o quanto os presidentes americanos tinha mentido sobre a Guerra do Vietnã.
Os papéis caíram nas mãos de seu principal concorrente, o mesmo Washington Post que iria revelar Watergate, e dariam à vacilante herdeira do jornal, Kathie Kay Graham (Meryl Streep), a oportunidade de se impor no meio e fazer história.
O filme flagra as idas e vindas das altas negociações entre a redação e Graham para convencê-la a enfrentar o risco de punição do governo e descrédito público, às vésperas de lançar suas ações em bolsas de valores, para se capitalizar.
Steven Spielberg, limitado para tratar de psicologia de personagens, faz aqui outro filme arrastado e burocrático como Lincoln, dando importância demais a cenas irrelevantes. O roteirista Josh Singer, parceiro de Liz Hannah aqui, não parece o mesmo do excelente Spotlight. de 2016.
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Frost/Nixon
Também trata de Richard Nixon, Watergate e os reflexos do maior escândalo revelado por jornalistas. Trata de uma série de entrevistas que deu três anos depois da renúncia, em 1977, para um apresentador de TV britânico, David Frost.
Estima-se que aceitou a entrevista por dinheiro (600 mil dólares), por algum cálculo de se reabilitar politicamente e pelo pouco risco de enfrentar um entrevistador sem manha política e formação de jornalista.
Só que David Frost conseguiu encurralá-lo e conduzi-lo a admitir erros e de certa forma o acobertamento de que foi acusado em Watergate. Pelo menos no filme, já que biógrafos do presidente garantem que o roteiro força a mão sobre uma confissão que não houve literalmente.
O roteiro é do meu escritor de filmes políticos favorito, Peter Morgan, de A Rainha, The Crown e O Último Rei da Escócia. Adaptou de sua peça teatral que fez sucesso na Broadway com os mesmos atores do filme, Martin Sheen e Frank Langella. De 2008.
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Boa Noite e Boa Sorte
Boa Noite e Boa Sorte era o bordão com que o mais influente âncora da televisão americana dos anos 50, Edward R. Murrow, fechava seu jornalístico diário See It Now, na CBS.
Ganhou projeção ao enfrentar o poderoso senador Jack McCharthy, que deu nome a outro dos grandes escândalos americanos, o machartismo, nome que se deu à comissão do Senado, presidida por ele, que perseguiu artistas sob a acusação de comunismo.
O âncora Murrow e sua equipe de produtores vai denunciar as mentiras e exageros do senador, sob semelhantes às que viveu o Washington Post no caso dos papéis do Pentágono, retratado em The Post.
O certinho e politicamente correto George Clooney, da equipe de produtores do programa, também dirigiu o filme com mão firme (seu segundo), indicado sem vitória em seis categorias do Oscar, inclusive de melhor roteiro para o próprio Clooney com Grant Heslov. De 2005.
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O Informante – The Insider
Outro grande filme sobre jornalismo, O Informante (The Insider) põe a prova o poder da imprensa para enfrentar os grandes conglomerados e, de certa forma, o próprio meio capitalista em que ela se insere.
Também baseado num fato real, conta a história da luta travada pelo produtor do Sixty Minutes, Lowell Bergman, para convencer um ex-diretor da indústria do tabaco, Jeffrey Wigand, a violar seu contrato de confidencialidade e tornar pública sua denúncia.
Tinha tudo para ser um filme de Al Pacino, vigoroso como sempre no papel do produtor do programa referência de jornalismo nos Estados Unidos, apresentado na época por Mike Wallace (Christopher Plummer, no papel). Mas Russel Crowe, de O Gladiador, estava apenas assombroso.
O roteirista Eric Roth havia ganho o Oscar de 1994 por Forrest Gump. Viria a ser indicado a outros quatro também por roteiro adaptado, como a nova versão de Nasce Uma Estrela, de 2018. Afinou com o diretor Michael Mann, co-autor do roteiro, que tem certo prazer por sujeitos obsessivos e filmes policiais. De 1999.
Faces da Verdade – Nothing But The True
A repórter do Sun Times Rachel Armstrong (Kate Beckinsale) é presa por se negar a entregar o nome de sua fonte na denúncia de que o governo ignorou as informações de uma agente da CIA para ordenar ataques aéreos sem motivo na Venezuela.
Vai cumprir pena de mais de três anos, firme no seu propósito de não arrebentar a vida de mais um, depois de ter estragado a vida da agente, Erika Von Doren (Vera Farmiga), mãe da coleguinha de escola do seu filho.
Dramalhão de interpretação livre do caso de Judith Miller, repórter do New York Times que passou 85 dias na prisão, em 2005, por também se negar a revelar sua fonte sobre o vazamento do nome de um agente da CIA para os jornais.
Mais interessado no drama, o pouco expressivo diretor e roteirista Rod Lurie não aprofunda no que é a parte mais interessante do drama — a de que os princípios férreos podem camuflar interesses pessoais e que a responsabilidade é de mão dupla.
Márcia de Paula Wiesen diz
Alguns já assisti e são realmente excelentes.
Muito obrigada pela dicas