O primeiro O Planeta dos Macacos, de 1968, inspirado no livro do francês Pierre Boulle, teve a sacada de discutir se o homem era mais inteligente que o macaco.
O mundo futuro, em que os humanos eram caçados e aprisionados como os símios hoje, era uma bela especulação sobre a imbecilidade de uma raça que, pouco mais de 20 anos depois da maior de todas as guerras, estava de novo atolado até o pescoço no inferno sem fim do Vietnã.
O Planeta dos Macacos – A Origem, além da boa sacada de especular como aqueles macacões chegaram onde chegaram, fizeram a boa crítica de que, do jeito que a raça vai em seu instinto autodestrutivo, só pode chegar à extinção e ser dominada por organismos mais resistentes.
Esse terceiro O Confronto (Dawn of The Planet of the Apes) tem a sagacidade de se colocar num estágio intermediário, entre a origem e aquele estágio consolidado futuro, num embate feroz em que se expõe as armas e as fragilidades de cada lado.
Tem a inteligência comercial de deixar uma porta aberta para mais uma continuação e uma tremenda sensibilidade para ligar as duas pontas. Remete à origem e esboça o futuro para encontrar um interessante ponto de equilíbrio contra o maniqueísmo dos outros dois.
Sim, o terceiro filme dessa linhagem, mais generoso, expõe pela primeira vez que os macacos podem não ser melhores que os homens.
O mal não está só de um lado
O líder César – interpretação do ator inglês Andy Serkis mais cheia de nuances que as dos atores sem máscara – tem o lema de que que “macaco não mata macaco” na comunidade pacífica que lidera na floresta em que se refugiaram dos experimentos humanos do filme anterior.
É um diplomata, algumas vezes superior moralmente aos homens que aparecem por lá com a urgência de consertar uma usina. Localizada na reserva, é a única capaz de restabelecer a energia para salvar o que restou da raça humana nos escombros da cidade de San Francisco.
A maioria de seus liderados acha que ele faz uma concessão suicida. Vai dar aos humanos os recursos de que precisam para restabelecer a força e destruí-los. Homens, como eles sabem, não prestam.
– Eles estão desesperados – César contemporiza. – Se não deixarmos entrar, eles nos atacam. Podemos vencer, mas morrerão muitos de nós.
O confronto não é o que aparenta
A tensão levará ao confronto do título. Que não se dá – vai-se descobrir – em sua carga emocional mais densa entre macacos e humanos, mas entre o líder e seu principal antagonista na tribo, Koba.
O macaco maltratado em experiências humanas no filme anterior e salvo por César é uma usina de rancor e vai precipitar uma guerra que não interessa a nenhum dos lados.
No vai e vem, César tem tempo para se aproximar de humanos bons que inclusive lhe salvam a mulher doente e se convencer de que o mal pode não estar só de um lado:
– Achava que os macacos fossem melhores do que os homens. Agora, vejo que podem ser piores.
Basta isso para recomendar esse libelo suave sobre as limitações humanas nesses tempos de guerra sem solução à vista na Palestina. Sem nem precisar elogiar o roteiro cristalino e a direção enxuta.
O diretor Matt Reeves e os roteiristas Amanda Silver, Rick Jaffa e Mark Bomback (os dois primeiros de A Origem) misturam tensão e delicadeza – preste atenção na cena do macaquinho que liga as duas raças numa cena comovente – e cuidam de deixar muito claro o que só aparenta uma luta do bem contra o mal.
Deixe um comentário