Hollywood vem vilipendiando as biografias dos heróis de nossa infância para produzir estrondo de pancadaria.
Quer dar uso às salas de surround, cada vez mais esvaziadas pela meninada dos tablets e dos smartphones.
Sacrifica a história pessoal de uma legião cuja maior graça era um certo sentido de inadequação no mundo. Aquele em que os superpoderes eram mais um problema que solução para arrnajar namorada.
O atentado mais recente ao maior dos meus heróis, o Super Homem, anulou a bela história do repórter tímido em que os poderes especiais constituíam empecilho para se afirmar entre os normais.
Entregou um semi-deus imbatível contra inimigos também superpoderosos, numa hecatombe ensurdecedora de cidades pulverizadas, em que humanos não passavam de detalhes.
Agora é Drácula – a história nunca contada. Ou muito mal contada.
O filme do novato Gary Shore (roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless) transforma a outra bela história do vampiro solitário que vaga por séculos matando quem ama num gladiador capaz de derrotar um exército de mil homens a mão e outro, de 100 mil, com ajuda de morcegos.
Curiosamente, seu rito de passagem é o mesmo do Super Homem. Aquela geleira do Polo Norte onde o jovem Clark Kent vai se encontrar com o fantasma do pai e tomar consciência de suas responsabilidades vira aqui uma caverna, onde o príncipe Vlad em trauma de consciência vai negociar sua imortalidade com um vampirão ancestral.
Dela sai, como Clark, consicente do peso e das responsabilidades de seus superpoderes – superaaudição, visão de raios X, capacidade de voar como morcegos.
O problema maior é que matam a história sem entregar um outro espetáculo que valha à pena.
As coreografias marciais desse Drácula beiram o incompreensível, por escuras e confusas, em que mal se sabe quem mata quem. Só é possível saber que o guerreiro da Transilvânia está vencendo a guerra quando paira solitário sobre uma planície de corpos lacerados.
Difícil acreditar que esses espetáculos pirotécnicos sem fundo consigam reter qualquer tipo de telespectador, de qualquer idade.
Acreditar nisso é admitir que histórias bem contadas só têm lugar em tablets e smartphones. Que pessoas não vão ao cinema pelo desejo universal do compartilhamento pessoal, mas pela qualidade de som que só faz sentido em certa idade.
É ter em muito baixa conta os produtores do cinema mais poderoso do mundo, ainda farol do comportamento humano, banquete em torno do qual se reúne a maior parte do planeta uma vez por ano para conferir as premiações de sua academia.
Talvez não seja nada isso. Seja só um caso de roteiro ruim nas mãos de um diretor idem.
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