Difícil um roteiro voltar a falar da passagem do tempo e de seus estragos de forma tão simples e extraordinária quando em Boyhood.
O diretor Richard Linklater filmou os mesmos atores por 12 anos, acabando por criar um grande ator no menino Ellar Coltrone, que entra com 7 anos e termina com 18 na fita.
Parece um recurso bobo – de carpintaria complicadíssima –, mas as alegrias e as angústias da passagem do tempo ficam muito mais convincentes quando se assiste ao mesmo ator viver a experiência, de menino a homem.
Poderia ter encurtado algumas cenas de conversas muuuito longas, sem prejuízo do resultado. O pai viaja com o filho para um acampamento, da saída à volta para a casa. Depois, com a mulher e o casal de filhos, faz uma jornada de ida e volta à casa dos pais/avós para um sarau esticado e sem compromisso.
Mas talvez não tivesse a identidade desse diretor da trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Entardecer e Antes do Anoitecer, os três construído em cima de praticamente um só diálogo. Longo. E lindo.
Esse pai, Stephen Hawk, é o mesmo dos três filmes e envelhece aqui, nos 12 anos, tão bem quanto envelheceu nos outros. E vale muito a pena prestar atenção na devastação do tempo em Patricia Arquette, a prostituta do primeiro grande roteiro de Quentin Tarantino, Amor à Queima Roupa, de 1993.
– É que eu eu esperava mais da vida – arrebata, no que parece ser a síntese do filme.
Aqui, a engenharia dos 12 anos parece mais importante que o roteiro. Mas como escreve leve e bem o diretor Linklater.
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