Boa a notícia de que o acordo entre PSB, PSDB e PT para a Prefeitura de Belo Horizonte fez água. Porque afasta a ideia ruim de que a campanha estava controlada por um arranjo de cúpula sem oposição para já definir o resultado das eleições estaduais de 2014. Unanimidade neste caso não é só burra, como diria Nelson Rodrigues. É perigosa.
Aécio Neves, um dos fiadores do acordo, aprendeu com o avô a arte de costurar alianças para fabricar consensos entre onças e jacarés e parece achar que é possível resolver todas as eleições com elas. Costurou sua eleição à presidência da Câmara assim, chegou ao governo de Minas pelo mesmo caminho e foi quase incensado à senador do mesmo jeito. Um dia teria/terá que disputar uma eleição difícil.
Problema é que agora trombou no, digamos assim, jeito PT de ser. O partido não tem tradição de alianças, a não ser em torno dele mesmo, e, por virtude ou defeito de sua democracia interna, tem mais de um cacique com quem conversar. Costurou só com Fernando Pimentel e subestimou as outras alas, principalmente a das viúvas de Patrus Ananias sempre ansiosas pelo primeiro cargo a vista, e a de atiradores teimosos como o vice Roberto Carvalho (Arquivo EM).
Exemplar típico de uma das alas mais guerrilheiras do partido, tem aquele fanatismo irredutível dos que continuam lutando mesmo quando parece já ter esquecido os motivos. Brigou com o prefeito Márcio Lacerda durante quase todo o governo, continuou brigando até sábado quando tudo estava certo para se manter a aliança municipal com o PSB e o PSDB, ainda brigava ontem quando a executiva estadual já havia decidido indicar Patrus como candidato e vai brigar até a última hora, quando certamente colocará alguma condição que o faça render sem maiores prejuízos.
Os caciques Aécio, Fernando Pimentel e Márcio Lacerda parecem ter subestimado essa força e não aprendido nada do perigo de fabricar alianças com um partido sem dono – ou de vários donos – e refratário a elas. Parece terem esquecido rápido o fiasco do primeiro turno das eleições de 2008, quando lideranças do partido trabalharam contra o acordo, e o calvário que foi a convivência do prefeito com os petistas nos quatro anos de sua administração.
Talvez ainda aprendam que democracia é assim mesmo. Para o eleitor, a disputa sob a luz do sol, com suas possibilidades de alternativas, é muito mais interessante – e indispensável – que os acertos de cúpula.
Roberto Carvalho, por linhas tortas, por intenções que não se conhece e sob o risco de virar o vilão da história, riu por último e acabou viabilizando o que o eleitorado andava esperando.
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