O Antagonista, o último e mais bem sucedido empreendimento jornalístico do país, que já bateu até a Folha de S. Paulo em visualizações em menos de 4 anos de vida, lançou ontem sua revista digital.
Com quatro jornalistas investigativos fuçadores, tirados de seus principais grandes concorrentes (Estadão, O Globo, Veja e BuzzFeed), a Crusoé usa a ideia do náufrago que sobreviveu sem armas numa ilha por 28 anos para fazer a metáfora de que pretende ser uma ilha no jornalismo nacional, na linha do que sempre foi meta do site.
Aquele negócio de poder investigar e publicar o que os outros não podem por interesse comercial, cacoete de velho entranhado nos vícios da parcialidade mal disfarçada ou por ter que arrastar o peso de suas superestruturas.
O site nasceu e cresceu por conseguir sobreviver nos tempos da internet, com notas curtas e contundentes contra todos, no espírito do antagonista que enche o saco do protagonista, e custos baixos, muito baixos, que independem de patrocínio de governos, estatais e empresas.
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Também na linha de negócios da internet, em que basta uma pessoa dentro de casa para criar um império de comunicação (ter seu jornal-site, sua TV-youtube, sua rádio-podcasts, sua empresa de relações públicas-Facebook/Twitter/Instagram), tem uma estrutura enxuta e vive da exploração de seu cadastro de e-mails.
Enquanto o Facebook usa seus seguidores para apresentar publicidade, O Antagonista atrai suas centenas de milhares de seguidores para seu mailing e usa ferramentas espertas de persuasão para lhes vender assinaturas de produtos digitais — análises, consultoria, dicas — em sequencia ou fechados.
O sócio que o transformou num negócio, a Empiricus, é uma consultoria financeira que vende análises de investimento para o grande público que conquistou em cima do prestígio do site.
Como precisa de estrutura muito pequena, uns quatro redatores de notas no site e quatro repórteres para reportagens na revista, além do apoio técnico, pode se dar ao luxo de ser grande com pouco dinheiro.
Até agora viveu exclusivamente dos caraminguás pingados nos anúncios alocados no site pelo Google, responsáveis por aqueles pop-us irritantes que tornam sua leitura um calvário de cliques em série.
Considerando-se agora que consiga logo e fácil 20 mil assinaturas a R$ 19,90, terá uma renda de R$ 400 mil em tese bem razoável para seu tamanho. Se 50 mil, R$ 1 milhão. É muito para seus padrões e pouquíssimo para as superestruturas dos jornalões e revistonas com suas redações de 200 pessoas e maquinaria com bobinas de papel.
Jornalismo sem isenção
A receita deu ao site e pretende dar à revista a mesma agilidade investigativa e a mesma independência, mas não isenção. Até porque esse não é um valor para seus fundadores, a começar de seu principal inspirador e estrela, Diogo Mainardi.
Discípulo de Paulo Francis e Ivan Lessa, não discute com a verdade mas acha que o poder tem que ser levado a chutes e pontapés.
No texto com que retoma suas colunas que fizeram sucesso em Veja, no número zero oferecido aos assinantes, lembra a frase de Millôr Fernandes: “jornalismo é oposição, o resto é secos e molhados”.
Esse parcialismo convicto e militante que não concede o benefício da dúvida não atinge o melhor da grande imprensa, sua capacidade de análise dos vários lados, ainda que equilibrando-se nos limites da imparcialidade, e pode repetir o seu pior.
Que é o de tornar todos culpados até prova em contrário, como sempre fez com eficiência a Folha de S. Paulo, e carregar a mão para esquentar matéria, fazer notícia onde não necessariamente existe para confirmar suas teses.
Na matéria principal dessa mesma edição zero, sobre o patrimônio financeiro dos filhos de Lula, o tipo de matéria que os grandes têm pudor de tratar, alguns parágrafos forçam a mão para legitimar o objetivo massacrante da reportagem.
Fica provado que os filhos mais famosos — Fábio Luís e Luís Cláudio — vivem muito bem em apartamentos, negócios e confortos um tanto mal explicados, mas força a mão para impor suspeita sobre o patrimônio modesto de Sandro e Marcos Cláudio, moradores do ABC, e o emprego de Lurian no gabinete de um vereador do Rio.
O parágrafo que trata dos três é cheio de malícia, esquentando valores que, até prova em contrário, são razoáveis para suas ocupações: uma “camionete zero quilômetro de 90 mil reais”, uma “casa cuja aquisição foi declarada oficialmente por meio milhão de reais”, um imóvel que “vale meio milhão de reais”. Observe o “oficialmente” e meio milhão que é psicologicamente muito mais que 500 mil.
Outro problema maior vai ser resolver seus conflitos com suas principais relações de interesse: os procuradores da Lava Jato que sempre protegeram com todos os benefícios da dúvida, e a Empiricus, cujas análises um tanto sensacionalistas para vender assinaturas cheiram a charlatanismo.
No espírito do melhor antagonista que trata tudo e todos a chutes e pontapés, não tem sido e não vai ser fácil fazer notas e reportagens contra ambos.
Donde que a pretensão de ilha num jornalismo que perdeu a agilidade e a independência, faz sentido, mas pode ser que essa ilha acabe tendo que se expandir para se juntar ao continente em que estão seus concorrentes.
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