
João Ubaldo Ribeiro contava no seu jeito entre sério e debochado que decidira escrever as quase mil páginas do seu Viva o Povo Brasileiro! para atender a um pedido do pai, para quem livro tinha de parar em pé. Livro de escritor respeitável tinha que ser grosso.
Ando pensando nisso quando pego a revista Veja, que acompanho desde os tempos em que o livro foi escrito, no início dos 80, se desmilinguindo. Está cada vez mais fina, quase folheto de farmácia, com suas 96 páginas em média, sustentadas por alguma reportagem mais longa ou denúncia exclusiva de capa (como o provável indiciamento de Lula por ocultação do apartamento do Guarujá, nesta semana).
É a aposta com jeito de tendência dos impressos jornalísticos diante da destruição criativa da internet. Cada vez mais enxutos, finos mesmo, apostam em material exclusivo para driblar a informação online gratuita que vai matá-los mais cedo ou mais tarde e os custos cada vez mais pesados com a perda de anúncios e circulação.
Para ficar em em revista e em Veja. Ela comete a temeridade de ser profunda no site e sumária no impresso, resumindo temas que foram assunto da semana em notinhas de menos de três linhas em/ou infográficos que nada acrescentam e matariam de raiva leitores como o pai de João Ubaldo.
Revista, talvez dissesse, tem que ser grossa. Leitor de revistas por uma vida, na idade em que aquele pai intuía sobre o triunfo do volume sobre a pressa, acho o mesmo.
Por duas razões principais:
- É ilusão achar que o leitor se dispõe a pagar por algo que, de uma outra forma outra, terá de graça algumas horas ou minutos depois de publicado no grande boca-a-boca virtual das redes sociais
- O leitor típico e cada vez mais raro de revista, como eu, é o de domingo, que tem/tinha prazer de se estirar num sofá ou numa rede entre cadernos e encartes espalhados para recuperar o que a pressa da semana o impediu de ler. Ou melhorar sua percepção sobre o que ouviu falar ou ainda conferir se a opinião da revista ou do jornal coincide com a sua.
Daí que só vejo futuro para os impressos, principalmente revistas, se forem grossos, no sentido literal do termo, de lombada quadrada e muito material visual, para passar de mão em mão pela família no fim de semana e sobreviver por uma ou mais semanas na recepção do dentista. De pé, de preferência. Como uma Vogue, por exemplo.
Nessa linha, teriam que investir em mais análise e grandes reportagens, sim, mas bastaria terem um bom apanhado da semana, em resumos consistentes e levemente analíticos, que cumprissem a função de sanar um tipo de angústia do homem do nosso tempo de não estar podendo acompanhar tudo. Não as notinhas desprezíveis que reduzem a epitáfio até obituário de grandes personalidades e esgota toda a leitura de um exemplar em menos de 15 minutos.
Vai atender dinossauros como eu, certamente, mas ainda únicos sobreviventes do nicho que lhes resta.
Jornal impresso é outra história, que pretendo tratar em outro post.
Sabe que eu acho que não faltam jornalistas, Claudemir. Apesar da crise, o expediente da revista é cheio de grandes jornalistas que publicam algo lá uma vez ou outra. Precisavam ser postos para trabalhar mais. O formato tem que mudar, claro.
Tenho a mesma sensação, Guilherme. Como disse lá, sou leitor de décadas. O principal problema dela, para mim, não é a postura política, mas o esvaziamento do conteúdo. Infelizmente, está acabando.
Concordo plenamente. Sou leitor assíduo de revistas, principalmente Veja que leio desde minha adolescência, e o que venho observando não me agradou. A revista ficou mais fina e seu estilo gráfico também mudou para pior. Estou com a edição 2461 em mãos e vejo a redução do espaço para Cultura(Cinema, Livros, Veja Recomenda e Os mais vendidos) ainda menor, o que é muito triste pois era uma das partes que mais me interessava junto com política, economia e assuntos Internacionais. Meu pai assina a anos. Quando não compro em banca ou supermercado pego emprestada de alguém. É a revista semanal de minha família.Hoje em dia ela não está valendo uma assinatura.
Tenho acompanhado a perda de conteúdo da Veja e observei que ela afina mais no início de ano. Pelo visto a redação não substitui jornalistas em férias.
O leitor está pagando cada vez mais por matéria ou por linha escrita.