Publico em ordem cronológica 50 dos quase 150 artigos que escrevi aqui, no calor dos principais fatos políticos que se precipitaram quase diariamente na montanha russa que foi um dos mais tumultuados anos de nossa história.
É uma opção derivada da dificuldade de selecionar alguns entre tantos eventos dramáticos que me inspiraram quase epifanias, a meu jeito pretensioso de tentar entender à luz da comunicação e das ambições de poder nosso jeito de ser e estar brasileiro nessa parte da história que me cabe viver.
Não espero que sejam lidos de novo, claro, mas que a deslizada por seus títulos e resumos na tela forme um conjunto inspirador provocado por curiosidade, certa nostalgia e até algum interesse histórico.
Foi o pior ano da minha geração para os brasileiros e dos melhores para mim, da classe dos jornalistas que, como se sabe, crescem na crise. Publiquei o conjunto mais consistente de meus escritos e obtive uma repercussão que não seria possível se não tivessem sido reproduzidos e destacados aqui no Uai.
Foi o melhor ano de nossa parceria, que requer registro e agradecimento, à direção e sobretudo aos capistas do site que trataram cada um como se fosse o mais importante do dia. (Tenho grande dívida também com a Agência Brasil, da nossa EBC, cujo trabalho intelectual explorei para ilustrar com suas fotos a maioria dos artigos.)
Espero que esta visão de jornalista que não muda nada, mas gera aprendizado e crescimento a cada crise, inspirem meus leitores no próximo ano que promete mais e novas emoções.
Boa deslizada.
30 de janeiro
Fatiamento das ações pelo STF espalha outras Lava Jato pelo país
“Já vinha se consolidando que Joaquim Barbosa no Mensalão e Sérgio Moro na Lava Jato fossem pontos fora da curva na tradição de impunidade dos poderosos na Justiça brasileira. A sequencia de ações fora do Paraná, sobretudo as que envolvem o ex-presidente Lula, os presidentes da Câmara e do Senado, o governador de Minas, entre outros, pode indicar que outros candidatos a Moro e Barbosa estejam brotando, que outros juízes e procuradores estejam mordendo, para o bem, um certo tipo de mosca azul.”
13 de fevereiro
Três razões por que a ação do triplex incomoda mais Lula
“Cogito (ergo sum) que nenhum dos processos em que Lula é citado na Lava Jato provoque mais o seu instinto de comunicador do que o que apura ter ganho da empreiteira OAS a reforma e decoração do apartamento triplex na praia do Guarujá. Não somente por conter provas bastante comprometedoras, mas por abarcar três fragilidades que certamente gostaria de manter longe de sua biografia: o favorecimento à família, o interesse pessoal e a traição aos companheiros.”
26 de fevereiro
Sete contradições da narrativa de João Santana perante Moro
“Para quem tem certo prazer de manipular a narrativa da imprensa, como ficou provado no livro João Santana — um marqueteiro no poder, de Luiz Maklouf Carvalho, João Santana está esbarrando nos limites desse poder quando é preciso recontar a própria história. Não dá para engolir nos depoimentos dele e da mulher na Lava Jato.”
7 de março
O discurso de Lula contra a imprensa e a arte de eleger inimigos
“Em seu pronunciamento para esquentar a militância, assim que voltou à sede do PT depois do depoimento à PF, na sexta-feira, Lula fez algumas provocações à Rede Globo que são recorrentes em seus discursos: 1. Eleger um inimigo que dê coerência a seu discurso de perseguido. Na falta da Globo, sempre recorre às elites. 2. Desviar em direção a um inimigo plausível o foco das denúncias contra ele. 3. Definir um novo campo de batalha onde a luta política possa mascarar ou substituir o que de fato se trata: a luta jurídica.”
13 de fevereiro
O problema da jornada do herói no discurso de Lula
“Eu tive a mesma impressão quando vi e revi o vídeo de 3 minutos e meio, gravado de improviso e cara lavada nesta semana, para levantar o astral da militância sem motivos para comemorar os 36 anos do partido que fundou e com o qual se confunde. É tão redondo e faz tanto sentido, que “a gente quase acredita nele”. Qual o segredo? O que explica o fascínio de um discurso que rachou o país ao meio e ainda sustenta fãs ardorosos dispostos a defendê-lo e a seu autor até a morte, mesmo com provas abundantes de que ambos perderam a coerência?”
13 de março
Se foi como o domingo de Collor, Dilma pode ter mais 43 dias de governo
“Se foi como o domingo negro de Collor, de 16 de agosto de 1992, o de ontem pode dar à presidente Dilma Rousseff 43 dias de sobrevida. Seu impacto político estimula a ideia de que os fatos podem se precipitar nos próximos dias e dar a Dilma uma sobrevida que lembra a do primeiro presidente cassado do país, em 1992. O STF fecha sua decisão sobre o rito do impeachment e a Câmara dos Deputados instala o processo, ainda esta semana. O PMDB antecipa o rompimento com o governo, adiado por 30 dias na convenção de sábado.”
23 de março
Moro saca o holofote e abate um líder e um sistema
“O juiz Sérgio Moro nunca negou que a pressão da opinião pública é parte essencial de sua ação. Em seu já famoso artigo de 2004 sobre a operação italiana Mãos Limpas, em que se inspirou para tocar a Lava Jato, ele coloca a comunicação de seus atos para mobilizar a opinião pública como um dos tripés de sua estratégia, que se completa com a delação premiada e um responsável sistema de recolhimento de provas.”
27 de março
Por que manifestos de artistas não fazem mais sucesso?
“Nas últimas semanas, dois manifestos das indústrias do livro e do cinema nacionais, com mais de 8 mil assinaturas cada, causaram mais constrangimento que respeito, apesar da repercussão que os artistas sempre provocam. Se defendiam uma causa nobre, como é da natureza dos manifestos, neste caso a defesa da democracia, por que tiveram efeito contrário?”
5 de abril
Lula e Cunha tramam nas sombras, na guerra do impeachment
“As duas raposas mais felpudas da malandragem política nacional estão numa guerra excitante para ver quem ganha a guerra do impeachment. Como são estratégias que não podem ser ditas à luz do dia, operam nas sombras.”
12 de abril
É claro que Dilma não está sendo julgada só pelas pedaladas
“A essa altura, não tem conversa mais inútil, ingênua e de certa forma farisaica do que esta de que a presidente Dilma Rousseff está sendo condenada sem crime ou por um crime pequeno — as “pedaladas fiscais” — como o atraso do pagamento da fatura de um cartão de crédito. Sim, ela está. Os deputados estão decidindo politicamente, como é do direito deles. Em defesa deles, pode-se dizer que os aliados da presidente, no Congresso, nas ruas, nas redes sociais, também não a defendem por razões legais.”
14 de abril
Efeito manada pula do carro de Dilma para o restaurante de Temer
” A expressão “efeito manada” esteve em boa parte do noticiário desta quarta-feira — só em O Globo apareceu no título das colunas de Ilimar Franco, Lauro Jardim e Merval Pereira — para explicar a debandada dos deputados, mesmo os fiéis ao governo, para o lado do restaurante cheio do vice Michel Temer. Estão agindo por status, ambição de poder, aprovação social ou sobrevivência, como em tudo na política e na política da vida.”
18 de abril
Nunca houve um presidente como Eduardo Cunha, o que ri por último
“Temer cozinhou seu ódio lentamente, articulando a seu estilo formiguinha. Eduardo Cunha idem, no seu estilo trator. Em junho, quando ele aprovava o que queria contra o governo, manipulando como boneco de ventríloquo os cordões do Congresso, fui um dos que o compararam a Frank Underwood, o parlamentar sem escrúpulos de House of Cards que consegue o que quer usando ou triturando amigos e inimigos, com um talento irresistível para fazer alianças, manter os aliados sob controle, virar votações e puxar a escada de traidores.”
25 de abril
PT e PSDB caem do caminhão de mudança, sem cavalo arriado
“O PT e o PSDB estão, como se dizia, como o cachorro que caiu da mudança. Tinham projetos mais ou menos consistentes para chegar a 2018, aos trancos e barrancos no caminhão alquebrado do país idem, mas foram ejetados para fora no quebra-mola do impeachment. O PT jogava com a recuperação a médio prazo da popularidade da presidente Dilma e o esquecimento da Lava Jato, assim que Lula retomasse as rédeas do governo como chefe da Casa Civil. O PSDB apostava no sangramento lento, gradual ou acelerado da mesma presidente e não à toa resistiu o quanto pôde ao impeachment.”
30 de abril
Janaína Paschoal seria uma grande petista, se estivesse do outro lado
“Janaína Paschoal, a coautora do pedido de impeachment que derrubou a presidente da República, é vulcânica. Daquele tipo que preenche um palco ou um vídeo inteiros com movimentos largos, olhos vivos e retórica de incendiar plateias. Dir-se-ia performática, se não traduzisse profunda convicção no que diz. Nada mais parecido do que uma petista dos bons tempos…”
5 de maio
Lindbergh, Caiado, impeachment e as boas voltas que o mundo dá
“Vinte e quatro anos depois do impeachment de Collor, algumas eleições e escândalos no meio, alguns quilos e cabelos brancos a mais, os dois defendem o contrário. Com palavras muito semelhantes às que usaram lá atrás.”
7 de maio
Jefferson e cunha: o jogo jogado dos nossos malvados favoritos
“Em duas entrevistas recentes de boa repercussão, ao Estadão e ao programa Roda Viva da Tv Cultura, o ex-deputado Roberto Jefferson disse que o deputado apeado da presidência da Câmara nesta semana, Eduardo Cunha, era seu “bandido preferido”. Comemorava de certa forma o fato de Lula e seu grupo terem encontrado enfim um “bandido à sua altura”. No sentido de conhecer o inimigo e usar os seus métodos.”
9 de maio
Janot, Zavascki e como calibrar o peso da gratidão aos padrinhos
“É também de Alexandre Dumas a frase que me ocorre nesses dias de grandes conflitos morais, em que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, e o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, têm que colocar no banco dos réus os padrinhos de seus cargos — ‘Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão.’ — Lula nomeou o primeiro e Dilma indicou o segundo, naquele tipo de favor que define uma história, e se acham no direito de merecer alguma boa vontade quando forem julgados por terem comandado, por ação ou omissão, o mais bem documentado esquema de desvios de dinheiro público do país.”
12 de maio
Enfrentamento sem talento agravou os problemas de Dilma
“Governantes cometem grandes erros com a melhor das intenções. Só vão aprender que os cometeram quando o tempo comprova que eram, de fato, erros. Quando têm a grandeza de aprender com eles e construir pontes com a classe política e a sociedade para superá-los. Herdeira e autora de um monte de acertos que levaram alguns dos senadores de seu partido a choro sincero nos discursos desta quarta-feira no Senado, Dilma Vana Rousseff cometeu grandes erros que compõem o compêndio que está no fundo real de seu processo de impeachment.”
19 de maio
Artistas voltam aos protestos sem saber para que querem Ministério
“Também não sei se existe uma forma de direita ou de esquerda, conservadora ou progressista, de estruturar um organismo público de preservação e fomento dos bens culturais do país. Deve existir uma forma correta. De que tamanho? Com que objetivo? Quais seus limites? O problema é que não parece haver ninguém habilitado a responder, a começar pelos artistas.”
27 de maio
Por que se apressou o impeachment, segundo os grampos de Sérgio Machado
“Os grampos do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, plantados em março para colher inconfidências de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, divulgados nesta semana, ajudam a elucidar porque a maioria dos políticos em Brasília resolveu apressar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.”
4 de junho
Recuos de Temer lembram Itamar e o risco de agradar o inimigo
“Para enfrentar críticas e pressões no Congresso, nas ruas, no noticiário e nas redes sociais, o presidente interino Michel Temer já coleciona em menos de um mês de trabalho uma lista considerável de recuos para adornar sua biografia.”
9 de junho
Tiro alto de Janot une políticos e pode ter efeito contrário
“— Ou nos locupletemos todos ou restaure-se a moralidade. — A frase atribuída a entre outros Stanislaw Ponte Preta pode ser vertida para “ou nos unimos ou vamos todos para a cadeia”, depois que o procurador geral da República Rodrigo Janot pediu a prisão da cúpula do PMDB — Cunha, Jucá, Renan e Sarney. Desde o início da Lava Jato que não se via um movimento tão coeso de políticos de todos os partidos…”
25 de junho
O fraseado corporal de Temer e o que se passa na cabeça dos cachorros
“Espécie de acrobata dos dedos com talento involuntário para dançar suave como um mordomo inglês num salão tumultuado, ele parece ter o talento de Cesar Millan para domar cachorros ferozes e indisciplinados na grande briga de rua que chegou para apartear em Brasília. Com o mesmo respeito para encarar um pitbull como Eduardo Cunha, um buldogue ladino como Renan Calheiros ou uma akita imprevisível como Dilma Rousseff. Sem baixar a guarda para alguns dobermans do STF e um são-bernardo como Rodrigo Janot, enquanto mantém uma distância respeitável de um rotweiller como Sérgio Moro.”
5 de agosto
Olimpíada deve fechar ciclo de arranjos políticos e ampliar otimismo
“Quis o destino que a abertura das Olimpíadas no Brasil coincidisse com a aprovação do relatório de cassação da presidente Dilma Rouseff na comissão do impeachment no Senado. Durasse mais alguns dias depois do 21 de agosto previsto, o encerramento coincidirá com a cassação definitiva em plenário, prevista para o final do mês. Ao arrematar o maior dos arranjos políticos de nossa história, coroaria uma sequencia de arranjos que vem colocando ordem na casa desde que a presidente foi afastada temporariamente pela Câmara dos Deputados.”
6 de agosto
Zabatella, o Zepelim e o problema de ser um artista do lado do poder
“E é bem possível que se sentisse autêntica ao defender os governos petistas que, na sua concepção, estavam mais do lado dos oprimidos como Geni do que da elite hipócrita que os explora — políticos, bispos e banqueiros incluídos. O problema foi ela não ter percebido que nunca foi bem assim. Os governos que defendeu até os dentes e o último minuto, inclusive em depoimento dramático no Palácio do Planalto, sempre mantiveram um pacto muito esperto com as elites, modernas ou arcaicas, para manter sob controle o mundo de Geni.”
11 de agosto
O que move a obstrução e a obstrução de Lindbergh, Gleisi e Vanessa?
“O que deve ficar para a história do julgamento da presidente Dilma Rousseff no Senado são os quase quatro meses de obstrução da banda de música (já apelidada “do jardim da infância” e “da chupeta”) formada especialmente pelos senadores Lindbergh Farias, Gleisi Hoffman e Vanessa Grazziotin. Ao longo desse tempo, eles infernizaram a vida dos acusadores e da população, contestando até o limite da paciência questões vencidas, brechas inexistentes ou normas indiscutíveis, ignorando o quorum contrário acachapante.”
18 de agosto
Dilma, Temer e por que, na política ou no esporte, vence o mais adaptado
“Na Política, que aprendi antes de assistir uma olimpíada, raro vi vencerem os melhores e nunca os mais fortes. Minha primeira ilha de galápagos foi o pântano da escolha do governador de Minas por via indireta, pelo general Ernesto Geisel, nos estertores da ditadura militar, no final dos anos 70.”
26 de agosto
Bandeira do golpe busca nicho eleitoral para travessia do deserto
“Gastei muito tutano para tentar entender o que leva a banda de música do PT no Senado — formada em especial por Lindbergh Farias, Gleisi Hoffman e Vanessa Grazziotin — a obstruir a reta final do impeachment, sabendo de sua inutilidade e sem pudor de atormentar a vida de quem está dentro e fora do Senado. Rindo, em boa parte das vezes. Cheguei a escrever que pode ser apenas falta de autocrítica para saber a hora de parar, depois de avaliar que não pode ser apenas pela necessidade de aparecer para seus feudos eleitorais. Mas hoje acho o contrário: eles sabem exatamente que não podem parar.”
30 de agosto
Sete manhas e uma verdade no discurso de despedida de Dilma no Senado
“Uma Dilma Rousseff de quase corpo inteiro e uma habilidade desconhecida para seus padrões de impaciência brotou das 14 horas de pronunciamento na Comissão Especial do Impeachment, no Senado. Firme na maior parte das vezes, embora um tanto tortuosa como sempre, emplacou algumas manhas para dissimular seus erros no discurso lido por 47 minutos e nas respostas aos questionamentos dos senadores.”
8 de setembro
Pressa e reformas não mudam o humor das ruas, muito pelo contrário
“Há uma falsa questão no ar, de que o governo precisa apressar as reformas para reduzir o mal estar e a má vontade que se traduzem nas manifestações de rua e nas vaias a cada vez que alguém do governo põe a cara para fora. Que acaba criando a falsa polêmica da pressa com que devem ser aprovadas, como se fizesse muita diferença se a reforma da Previdência fosse enviada ao Congresso antes ou depois da eleição de 3 de outubro.”
26 de setembro
Eleição pulverizada, é a primeira descontaminada de ideologia em décadas
“Pulverizada em número de candidatos, partidos e tendências, essa pode ser a primeira eleição municipal em décadas sem polarização ideológica ou vinculada a motivações externas que não os problemas da cidade. Em cada uma das três maiores capitais do sudeste, cerca de uma dezena de candidatos de tendências variadas se apresentam ao eleitorado segundo seu recall pessoal e suas propostas para encarar os grandes desafios de mobilidade e segurança, principalmente, sem lastro em alguma grande ideia ou comprometimento político.”
29 de setembro
Sete sacadas sobre as eleições dos neófitos e dos animadores de auditório
“A julgar pelo quadro de pesquisas na reta final do primeiro turno das eleições municipais no sudeste, interpreto, infiro e prevejo que: 1. Os animadores de plateia estão na frente: os apresentadores de TV João Dória e Celso Russomano em São Paulo, o pastor Marcelo Crivella no Rio de Janeiro, o goleiro João Leite e o dirigente do Atlético, Alexandre Kalil, em Belo Horizonte. 2. Na linha Donald Trump, há um grande espaço de crescimento para os neófitos em política, chamados aventureiros, que navegam na degradação da classe política…”
3 de outubro
Dez saldos da eleição que fortaleceu Aécio e Alckmin para 2018
“O que depreendo, infiro e prevejo a partir dos resultados do primeiro turno da eleição municipal de 2016: 1. O PSDB ganhou a eleição. 2. O PT perdeu do jeito acachapante que se previa. 3. O PMDB de Temer, forte com Dilma, caiu para a segunda divisão. 4. A queda do PT não significou o desmanche das esquerdas…”
6 de outubro
Kalil é um João Dória sem verniz e uma tendência eleitoral
“Alexandre Kalil e João Dória são os dois lados de uma mesma moeda separados pelo corte da sofisticação que opõe dois brasis. O bugre da várzea sem origem de casta, que não completou os estudos, fez fortuna entre peões de obra e jogadores de futebol, se veste como quem vai para o trabalho, fala com a finesse de quem está tomando cerveja no boteco da esquina. O patricinho de família quatrocentona, de pai que estudou na Sorbonne, fez carreira entre celebridades no mundo do jornalismo e da publicidade, se veste como quem vai para festa e fala como quem toma vinho com grandes empresários em salões de tapete vermelho. Com diferentes graus de sucesso, os dois têm porém os mesmos princípios e o mesmo discurso…”
17 de outubro
Temer veste Marcela para melhorar seu marketing
“O governo vai negar até sua morte, no final de 2018, mas nada me tira da cabeça que a exibição aparentemente involuntária de quem se casou com um presidente da República, ampliada com as movimentações de mudança para Brasília e acompanhamento do presidente em viagens internacionais, não é totalmente gratuita.É parte de uma estratégia mais ampla de marketing e relações públicas para criar fatos e melhorar a cara de um governo em que a maioria quer acreditar, mas vem achando difícil.”
25 de outubro
Sete sinais de que Kalil é mais político que João Leite
“Se tem um candidato com toda a manha que se costuma atribuir a políticos tarimbados, na campanha de Belo Horizonte, é Alexandre Kalil, o empresário e ex cartola do Atlético que se apresenta ao eleitorado com o mote da moda: “Chega de político!” A julgar pelo noticiário e os dois últimos debates, ele vem fazendo em campanha, por intuição ou cálculo, tudo o que os políticos matreiros fazem.”
1 de novembro
Voto de protesto à direita pela velha ordem rejeita PT e não políticos
“Nem foi uma rejeição total aos políticos e nem tão onda conservadora, como se esperava e se disse (eu mesmo) sobre as eleições municipais de 2016. No balanço geral, não se pode dizer que foram rejeitados políticos numa eleição em que: 1) reelegeram-se metade dos prefeitos, 2) retomaram suas cadeiras ex-prefeitos antigos como Íris Rezende em Goiânia, Rafael Greca em Curitiba, Artur Virgílio Neto em Manaus ou Humberto Souto em Montes Claros, 3) deram banho os filhos de políticos ou oligarquias…”
3 de novembro
Discurso político de Ana Júlia não ajuda entender reforma do ensino
“Na parte mais aplaudida de seu discurso de 10 minutos perante os deputados na Assembleia Legislativa do Paraná, que bombou na internet, a jovem Ana Júlia Pires Ribeiro disse e repetiu que uma escola sem partido é uma escola racista, é uma escola homofóbica. Data venia, é o contrário. Uma escola sem partido é que a ensina o aluno as origens do termo, sua conjuntura, suas implicações atuais, suas relações de poder numa sociedade plural, seu uso inclusive em manifestações de estudantes que ocupam escolas. A pensar, em suma.”
7 de novembro
Como Kalil em BH, Trump encarna todo o mal estar com os políticos
“Se Donald Trump fosse um candidato menos polêmico que Alexandre Kalil, com suas declarações estapafúrdias, venceria fácil as eleições polarizadas de amanhã contra Hillary Clinton, a João Leite de lá. A ex primeira dama, senadora e secretária de Estado é a candidata mais preparada segundo o figurino da tradição que contempla aquele tipo de político talhado na vida pública. Por isso mesmo, porém, encarna todo cansaço da população com um tipo de gente que não resolve os seus problemas e parece disposta mais que nunca a apostar num outsider que fale sua língua e simplifique as coisas. Como em Belo Horizonte ou nas eleições Brasil afora, prometa mais do que o mesmo.”
9 de novembro
Torcida por Hillary pode explicar fiasco dos institutos de pesquisa na eleição americana
“Todos os institutos de pesquisa americanos, todos sem exceção, erraram o resultado das eleições de ontem. É possível que seus especialistas não tivessem dados suficientes que lhes dessem segurança para definir para que lado a balança estava pendendo na reta final da mais polarizada das eleições americanas, com imigrantes e brancos correndo para antecipar votos. Mas duas coisas podem ter pesado na decisão de antecipar o resultado de boca de urna, que os grandes jornais e redes de TV cautelarmente evitam: arrogância e torcida.”
10 de novembro
Nem de direita e nem de esquerda, mundo da era Trump é tribal
“Houve uma maioria branca de classe média baixa que votou em Donald Trump, mas também ruralistas, trabalhadores de fábrica, pequenos empreendedores, investidores de Wall Street, imigrantes mais antigos, protestantes, mulheres, jovens e velhos, independente se brancos, pardos, negros e amarelos. A divisão mais razoável a ser feita é a que nicho pertencem, a que ramo do setor produtivo ou de crença estão os que se julgam prejudicados pela ordem vigente que, a pretexto de globalizar o tráfego de produtos e pessoas, desestruturou a segurança dentro de casa.”
17 de novembro
Políticos enfim se afinam e vão à luta para enquadrar Judiciário
“Deputados e senadores vão à guerra para garrotear o Judiciário na ação e no bolso. Em três grandes frentes: 1. Incluem mecanismos espertos no projeto de lei de combate a corrupção, proposto pelo próprio Judiciário. 2. Retomam o projeto de abuso de autoridade para dar uma freada na empolgação da PF com seus helicópteros cinematográficos e dos procuradores com seus powerpoints bombásticos. 3. Criam uma comissão especial para desnudar os altos salários de promotores e juízes, seus penduricalhos, e seus mecanismos espertos de premiar com aposentadoria juízes envolvidos em crimes.”
22 de novembro
A queda do ministro da Cultura e o problema de estar certo em política
“A queda do ministro da Cultura é daqueles fenômenos não raros em governos jovens em que a imaturidade tromba com a prepotência e a inabilidade de ambos provoca um estrago na imagem e no andamento da administração. Ou então é um caso de inabilidade dupla: dele, de usar as ferramentas que aprendeu para contornar um problema antes que se transformasse, como se transformou, num estrago para a imagem e o andamento do governo; de Geddel, cuja esperteza em excesso o impediu de perceber a hora de parar com um interlocutor desconfortável..”
28 de novembro
Calero põe Temer diante do espelho negro das redes sociais
“Temer, Renan e Maia, com seus modos do século XX e linguajar do XIX (“des-razoável”, “indigno”), me pareceram uma ampliação daquela metáfora potente da desmoralização dos modelos tradicionais de poder, na política e na comunicação. Diante da roda apressada das novas mídias em desvario, são pobres e velhos coitados atônitos, sem saber o que fazer. Vão perder, sempre. A não ser que mudem seus hábitos, para algo mais adequado ao século XXI e a esse cenário devastador e inexorável da internet.”
30 de novembro
Propostas contra a corrupção foram o maior tiro no pé do Judiciário
“Vai ficar na história das boas intenções o maior tiro no pé já dado pelo Judiciário ao mandar para um Congresso entrincheirado o projeto das dez medidas contra corrupção. Os deputados o desfiguraram totalmente nesta madrugada, retirando todos os mecanismos de aprimoramento de investigação e punição de agentes políticos.”
5 de dezembro
Sabedoria das ruas bate no Congresso e acha que não é hora de Temer
“A multidão impressionante em várias capitais delimitou muito claramente as críticas ao Congresso, que teria aproveitado a madrugada da comoção nacional pela tragédia do time de Chapecó para desfigurar o projeto contra a corrupção e emparedar o Judiciário. Em defesa da Lava Jato, bateram muito especificamente nos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia e Renan Calheiros.”
8 de dezembro
Bode de Renan reabre diálogo e era de acertos em Brasília
“Nos últimos tempos, ameaçava a sala do Judiciário com os bodes da comissão especial dos altos salários, da urgência no texto aprovado na Câmara que desfigurou as dez medidas contra corrupção e por fim na votação do projeto de abuso de autoridade que enquadra juízes e promotores. O último foi a desobediência à liminar que o afastava da presidência do Senado. Desencadeou uma cadeia de acertos entre os altos escalões da República que redundou no recuo em forma de missa fúnebre, na sessão de ontem do Supremo.
13 de dezembro
Na linha de tiro, Lula, Renan e Temer correm contra o tempo
“Cada qual à sua maneira, cada um dos três personagens mais visados no festival de vazamentos da Lava Jato apareceram com pressa no noticiário desta segunda-feira, em que o país parecia de novo derreter.”
14 de dezembro
Codinomes revelam em que graus Odebrecht desprezava os políticos
“Pode-se dividir os codinomes escolhidos pela Odebrecht para nominar os políticos nas planilhas de seu departamento de propinas em pelo menos três categorias de alguma relação com o nível de relevância que atribuía a cada um na pirâmide do plano de investimentos que fazia neles nos últimos anos. Cada uma sugere um nível de deboche que se reduz à medida que sobe a hierarquia de importância dos delatados. Ou se amplia, em sentido inverso.”
22 de dezembro
Dez reformas de Temer fecham ano com horizonte de bom senso
” Ninguém achou que fosse ser diferente. É quase impossível fazer reforma estrutural, limpar o passado e refazer o presente, num país cartorial de máquina pública inchada e engessada, Congresso desmoralizado e corporações públicas e privadas apressadas em assegurar o seu naco antes que o país acabe. Mas não é pouco o que Michel Temer conseguiu aprovar ou encaminhar em seus oito meses de governo, tropeçando no seu jeito vacilante, pouco à vontade diante do alto índice de rejeição que vazou da minoria comprometida com o governo anterior para uma faixa mais larga da população sem preconceito ideológico.”
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