O WhatsApp é uma festa, por onde passeiam e se informam todos os dias mais de 120 milhões de brasileiros entre filminhos engraçadinhos de pets, acidentes de carro, flagrantes de assaltos e assassinatos, pegadinhas, mensagens de autoajuda e muita, muita, mulher pelada.
— Vamos interromper a nossa programação para o “ponte que partiu de hoje”— diz mais ou menos uma das mensagens mais recentes e recorrentes que dá um refresco na miscelânia com o filme de uma mulher em geral estupenda, pelada, parada ou em ação.
E muito, muito Bolsonaro, claro. O candidato é onipresente em fotos, filmes, textões e testinhos, montagens altamente manipuladas por uma legião de editores amadores e apaixonados pelo capitão, no Brasil e no mundo.
E a maioria a favor e cruelmente detratora dos adversários. Manuela D’Ávila, a vice de Fernando Haddad que seus fiéis chamam de comunista, já apareceu com tatuagem de Che Guevara no peito e uma camiseta com a palavra de ordem “Jesus é Travesti”.
Com a marca de 81% de seus eleitores usando a ferramenta, segundo o DataFolha, acima da média nacional de 68% e da dos demais candidatos (de 50 a 71%, no caso de Ciro), com uma devoção elevada em alguns decibéis, ele tem uma presença avassaladora e massacrante.
Com apenas 8 segundos de TV, tornou irrelevantes a propaganda eleitoral, a profissão dos marqueteiros que faturavam até R$ 50 milhões numa campanha, os debates televisivos e, sobretudo, o noticiário a seu respeito.
Desde segunda-feira circula um vídeo que explica muita coisa do mundo paralelo que ele criou, mais eficiente do que as mídias tradicionais.
Um de seus fiéis pegou o vídeo em que ele responde a críticas de seus principais detratores — Alckmin, Ciro e Marina — e fez uma montagem em que os três assistem passivos, num gif animado, à sua explicação contra suas denúncias nos meios tradicionais. Sobre 13º, CPMF, violência contra mulheres, para ficar só em três.
É altamente convincente.
O mundo ainda está por entender porque a totalizante campanha das mulheres #EleNão, no sábado, logo após a capa degradante de sua separação judicial na Veja, tiveram efeito contrário em sua ascensão nas pesquisas, sobretudo entre as mulheres, as protagonistas do evento. E por que, para boa parte dos brasileiros, a manifestação a seu favor no domingo, em número muito menor na mídia tradicional, havia superado a das mulheres.
O que, ao fim e ao cabo, explica por que ele não precisa ir ao debate da Globo, nesta quinta-feira, com ou sem atestado médico.
Muito antes dos outros candidatos, por iniciativa menos sua do que de um imenso voluntariado cansado da putaria dos políticos, ele montou a sua própria Rede Bolsonaro de Televisão e Outras Mídias, muito mais eficiente. De potencial comparável à guerra ganha pelos caminhoneiros, na greve que parou o país em maio.
Impressionante que os marqueteiros e os políticos mais tarimbados não tivessem previsto essa bolha e tivessem apostado unhas, dentes e muito dinheiro na conquista e alguns minutos no horário de TV das redes tradicionais.
Na de Bolsonaro, ele ainda consegue o discurso de mão única, onde é possível dizer o que quer, contra quem quiser, na hora que quer, na quantidade de tempo necessário, sem o risco do contraponto.
Não conseguiria evidentemente se não tivesse o discurso que quer ser ouvido, que hora alguma soa como mentira ou dissimulação. Jair Bolsonaro soa como alguém que acredita de fato no que fala, com indiscutível autenticidade. E, por acaso, acredita naquilo que a maioria da sociedade, por ora, quer ouvir.
A rejeição ao PT
Ricardo Kertzman, do blog Opinião Sem Medo, aqui do Uai, pinçou dois pontos assustadores do programa de Haddad, registrado no TSE, que explica em parte por que a maioria da sociedade quer qualquer outra candidato viável que possa banir o partido da vida pública:
- Implantar o quesito cor como critério de atendimento na Saúde.
- Garantir bolsas de estudo a travestis, transgêneros e transsexuais.
E faz uma boa pergunta: quantos negros, índios ou transgêneros têm na cúpula do PT?
Recentemente, por acaso, circulou um comentário sobre foto do lançamento da candidatura de Haddad, na porta da prisão de Lula em Curitiba, que parecia convenção do Partido Republicano dos EUA. Só brancos com cara de protestantes anglo-saxões americanos.
Ciro tenta substituir Haddad
Ciro a toda. Em campanha em São Paulo, desafiou Bolsonaro a ir ao debate de hoje na Globo — “atestado médico falso é crime” — e sugeriu que Alckmin e Marina Silva deveriam apoiá-lo ainda no primeiro turno, antes da eleição de domingo.
Em terceiro lugar e com a campanha de Haddad em crise, quando a rejeição de Lula começa a pesar mais do que o apoio, ele coloca como alternativa, sem muitas perspectivas, porém.
As pesquisas do DataFolha e do Ibope, de terça e ontem, deixam Haddad firme na faixa de 22% e ele estacionado em 11%. Votos de Alckmin e Marina, como ele quer, não lhe serão suficientes, não parece haver tempo e, ainda, podem ir para Bolsonaro em boa parte.
Para quitar a fatura no primeiro turno.
[…] ganho as eleições com eles, gastando miseravelmente e ao arrepio do establishment jornalístico como nunca antes, tem se […]