Parece confirmar a sina sinistra de que agosto é terrível para nossos presidentes civis. Dilma está no mesmo estado de abulia e rejeição popular que estiveram, em outros agostos célebres, Getúlio Vargas (1954), Jânio Quadros (1961), Fernando Collor de Mello (1992) e Lula (2005), depois das denúncias do Mensalão e da queda de José Dirceu.
Michel Temer parece jogar a toalha, Aloízio Mercadante nunca pareceu tão bonzinho e disposto a negociar. Os deputados de Eduardo Cunha poderiam até salvar o pacote do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas salvá-lo significa salvar a presidência de Dilma Rousseff. E isso, eles não querem.
E não se desconsidere a possibilidade de delação premiada de José Dirceu. Réu reincidente, ele pode não querer segurar sozinho a onda que segurou no Mensalão quando perceber que pode ficar o resto da vida na cadeia.
O panelaço da quinta-feira durante o programa do PT, mais ensurdecedor do que o de março, agravou a sensação de fim de mundo que pode turbinar ainda mais a manifestação prevista para o próximo dia 16.
Como disse Carlos Alberto Sardemberg, na CBN, entoando uma sensação que está nas ruas, a questão já nem é mais saber se a vaca vai para o brejo, mas com que velocidade e qual a distância do brejo. E referindo-se à expressão da presidente sobre vacas que tossem:
— Ah: e se vai tossindo ou não.
Só a oposição — FHC, Alkimin, Serra e a revista Veja —, interessado que a presidente sangre, parece querer manter o brejo em 2018.
Numa tentativa de retomar o controle da situação, a presidente Dilma fez ontem à noite uma reunião com potenciais enforcados para discutir o tamanho da corda. Um corte no tamanho do Ministério para sinalizar alguma vontade e competência para colocar ordem na casa.
Meus 35 anos de serviço público me ensinaram, porém, que não se abre a discussão com ninguém sobre cortes. É uma reunião solitária com você mesmo, no espelho. E, depois dela, parte-se para o convencimento, alianças ou o porrete.
Também é bobagem se reunir com deputados nos próximos dias, como pretende.
A essa altura, eles até aceitam mudanças, mas com outro governante. Já viram que o poder mudou de lugar.
O que ela deveria fazer é uma pauta bomba própria — corte de Ministérios, enxugamento de estatais, redução drástica dos cargos comissionados — e jogar no peito do Congresso. Se deputados e senadores rejeitarem, enfia a viola no saco e vai embora. Sai por cima, dizendo que tentou mas não deixaram.
É melhor que ir definhando, de forma literal e humilhante.
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