Os promotores de São Paulo que pediram a prisão de Lula reuniram um conjunto considerável de provas e testemunhos de que ele e outras 15 pessoas contribuíram para ocultar a propriedade do triplex do Guarujá, como forma de lavagem de benefício ganho da OAS na megaoperação de salvamento da cooperativa dos bancários, a Bancoop.
Num de seus pontos mais fortes, disseram que a empreiteira lesou 7.138 pessoas, incluindo as que não levaram seus apartamentos, para presentear o ex-presidente.
Só que, cogito (ergo sum), diante de nossas últimas experiências, prisão anunciada tende a não acontecer no Brasil.
As que acontecem são as de Sérgio Moro, que o investigado fica sabendo quando dá com o japonês na porta, às 6h da manhã.
A impressão é que o promotor Cássio Conserino e seus jovens colegas, sem a experiência e a frieza da turma de Moro, se sentiram um tanto obrigados a prestar contas à sociedade e tornar pública a necessidade de prisão.
É como se tivessem se sentindo intimidados pelo combate retórico de Lula e as artimanhas de sua defesa para não depor — provocando o STF, questionando a obrigatoriedade do comparecimento e, por fim, admitindo responder por escrito.
O que, tudo somado, significa que o ex-presidente ganhou mais uma.
Fora o fato de que lhe dá um novo e forte motivo para se dizer perseguido, de agora pra frente não faltarão questionamentos a firulas jurídicas que podem desmontar a acusação.
Um senador da oposição, Cássio Cunha Lima, já disse que o pedido de prisão, antes de julgamento, é frágil. Analistas jurídicos de peso já estão nos jornais falando de exagero, não havendo risco de fuga, destruição de provas e obstrução da Justiça.
O risco, há. E não é que os promotores tenham errado além do razoável. É que mexeram com quem não deve.
A prisão de Lula soa algo meio inacreditável e desproporcional, dados nossos costumes, mesmo para quem é contra ele. Na sua crônica em O Globo contra a condução coercitiva da sexta-feira passada, o humorista Luís Fernando Veríssimo lembrou que biografia é algo que deve ser considerado, tanto quanto, acho eu, os atestados de bons antecedentes no caso de réus primários.
Diante de um quadro desfavorável desses, a juíza do caso, Maria Priscilla Ernandes, pode pensar duas vezes antes de decretar a prisão.
Se alguém quer ver Lula preso, será melhor aguardar outros dos processos contra ele, sobretudo os que estão nas mãos de Moro. Que prende primeiro e explica depois.
Se até lá, ele não tiver aceito o convite da presidente Dilma para ser ministro.
Manoel Guimarães diz
Assino embaixo.