No início dos 90, quando o problema dos sem-teto havia se tornado uma epidemia nos EUA, as cidades de Saint Louis (Missouri) e Denver (Colorado) resolveram testar a teoria de um consultor do presidente George Bush, Philip Mangano, de que era preferível dar um apartamento a um sem-teto crônico, com enfermeira e assistente social, a gastar o equivalente a dez vezes mais o que custava nas ruas.
Inspirava-se nos resultados da pesquisa de um estudante de pós graduação do Boston College, Dennis Culhane, de que os homeless de fato crônicos, que resistiam nas ruas apesar de todos os esforços públicos para tirá-lo, eram poucos mas consumiam a maior fatia dos recursos alocados.
Essa visão pragmática é um murro na boca do estômago do cidadão que cumpre seus deveres e nem por isso ganha um apartamento do Estado. Não agrada a direita porque premia o preguiçoso e nem a esquerda, por ser calculista demais. Está no plano da eficiência e não daquelas boas intenções de que o inferno anda cheio.
O problema é que os resultados são pífios, como comprovou o grande Malcolm Gladwell em outro de seus grandes artigos para a The New Yorker, porque algumas pessoas difíceis são difíceis para além da capacidade do Estado de mudá-las. Crônicos de verdade quebram o apartamento e voltam para as ruas.
É das tais soluções que parecem simples, claras e erradas para problemas complexos, como no aforismo do jornalista também americano H. L. Menken, como as que volta e meia surgem por aqui como que para negar o estado de direito sem o qual a vida governada em sociedade é impossível:
- Mendigos e drogados nas ruas? Prenda ou recolha.
- A polícia não consegue conter o tráfico? Libere todas as drogas.
- A escola e a saúde públicas são uma porcaria apesar de caras? Privatize tudo.
- Os políticos são ladrões? Chame os militares.
- Superlotação e rebeliões nas presídios? Mate, solte ou dê um salário de R$ 4,7 mil ao preso, ainda assim mais baixo do que custa.
Ideias e exceções
Tais ideias derivam de nossa tendência a generalizar, ver o conjunto como sintoma da exceção. Uma “arquitetura mental”, na expressão de Gladwell, que, representada em gráfico, teria a forma de um sino, em que todos os problemas parecem estar no meio. Exemplifico: Se um policial tortura, todos são torturadores. Se um bandido mata, todos são matadores. Se um político mente e rouba, todos mentem e roubam.
Um gráfico mais correto, na forma de um taco de beisebol, como exemplifica o jornalista, indicaria que os problemas, no geral, estão nos extremos. E que a abordagem certa é tratar as pontas, as exceções, os diferentes, pelo que são: pontas, exceções, diferentes. Na melhor regra do mérito democrático, tratar diferentes de forma diferente: o policial corrupto, o professor preguiçoso, o médico que cabula o plantão, o bandido de fato periculoso.
Mas derivam também da nossa impotência diante de um serviço público incapaz de lidar com problemas que parecem insolúveis, causa e reflexo de uma sociedade em desagregação em que a exceção parece ter virado regra. E que também parece ver as coisas em forma de sino.
Nossos políticos e governantes estão a nos oferecer quase sempre soluções simples, claras e erradas: mais abrigos, mais policiais, mais e escolas e postos de saúde, mais leis, mais presídios. Ou liberdade para os presos ainda não julgados, como querem os desembargadores reunidos pela presidente do STF, Carmen Lúcia.
Mais volume e menos inteligência, enfim.
Até a chacina de Manaus, por exemplo, ninguém se lembrou de que os chefes do tráfico, os 17 bandidos crônicos enfim retirados de lá, deveriam ter sido isolados há muito tempo.
Harris diz
Como já muito bem sabia o saudoso Darcy Ribeiro: “Educação é o caminho para reduzir a criminalidade”. “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Vide notícia no link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2017/01/15/interna_politica,839547/educacao-e-o-caminho-para-reduzir-a-criminalidade.shtml
Antonio Alves de Deus diz
Toda essa essa crise exacerbada que ocorre em todos os setores públicos acontece em nome e sob os auspícios de uma pseudo democracia, no Brasil.
joelmir braga diz
Soluçaõ errada é juiz ganhar 50 mil reais e PROFEESOR GANHAR o lixo de R$2.900,00. O cancer de todo falta de educação, saude e segurança é esse nosso STF. O VERGONHA DE PAIS. O VERGONHA SABER QUE JUIZ QUE BARRA AUMENTO DE SALARIO DE VEREADORES GANHA 92.000,00. Isso mesmo. acreditem.
Jfer diz
Perfeito!
Afonso Lemos diz
Ah, perdão, esqueci de falar também sobre a corrupção. Do governo amazonense que está na cara mas insistem em não ver, juntamente com alguns do judiciário daquele estado. Tem corrupção lá, aqui, acolá. Roubam este país 24 horas por dia, todos os dias do ano. Haja dinheiro para resolver os problemas. Triste país.
Afonso Lemos diz
O preso deveria ter uma vida normal. Trabalhar, estudar, dormir, ter lazer, tudo isso sem a liberdade que temos.Deveria trabalhar no presídio sim e ser remunerado, e que essa remuneração fosse enviada à sua família. Graus de periculosidade diferentes em celas diferentes. Nada de colocar um assassino junto de alguém que deve apenas pensão à ex mulher. Coisas básicas num país que quer inventar demais. Nosso judiciário, como alguém disse mais acima, é inoperante, mais, muito mais caro que o sistema prisional e só enxerga seu umbigo. Mas é isso aí, temos um sistema prisional que merecemos, um judiciários que merecemos também. Merecemos também uma banana e uma cachaça. Eta paisinho de m…
Charles diz
A quantidade de presos provisórios poderia ser reduzida dramaticamente, e manter-se em níveis baixos se o judiciário e o ministério público fossem mais eficientes. E eles seriam mais eficientes se os seus membros deixassem as escalas de meio horário, por exemplo, e principalmente se seus rendimentos fosse ajustados ao que estabelece a constituição federal. É importante lembrar que esses órgãos tem um orçamento próprio e com o ajustamento dos salários, sobraria mais dinheiro para nomeação de novos servidores, investimento em estrutura etc.
Humberto Vieira diz
Contudo, pensamentos, idéias e críticas estão ultrapassadas quando é “apenas” sobrevivência da humanidade.
LUIZ CARLOS RHODES DE SOUZA diz
Embora ninguém ouse enfrentar e dizer que o Poder Judiciário tem sua parcela de culpa na situação de caos dos presídios brasileiros, essa casta de servidores públicos que deveria focar no servir, mas preferem ser uma oligarquia onde parte se acha “deuses” e tem suas vaidades possuídas pelo “poder”, sutilmente assumem que precisam fazer algo que foi negligenciado por longo tempo: acabam por “meiar a culpa”, sem assumir que são réus nesse “processo”. A letargia e a lentidão dos Judiciário brasileiro é algo pavoroso. Eles articulam para perpetrar seus altos salários, que chegam a mais de 250 mil reais no caso de desembargadores e mais de 100 mil reais em caso de juízes, utilizando-se das brechas deixadas pelas leis que eles dominam e interpretam para satisfazer seus deleites… Algo tem que ser mudado…
Virgilio Guimarães diz
Colocar estes presos para fabricar tijolos, manilhas, plantar e outras coisas, que ocupe 8 horas/dia. Aí Dirceu e Cunha terão pouco tempo para arquitetar ataques ao povo brasileiro .