Largada bem sucedida elimina as más impressões sobre o ex juiz, mas polarização anunciada por Ciro Gomes transfere disputa acirrada para a terceira via
Segue o texto do vídeo que pode ser acessado ao fim do post, como também o link do artigo que o inspirou:
Como ficam os cinco principais candidatos à Presidência da República com a entrada de Sergio Moro na disputa, principalmente depois do discurso retumbante em que ele mostrou a que veio e depois da volta de Ciro Gomes, que resolveu bater pesado nele, criando uma polarização debaixo da polarização?
É o que vou te contar, já pedindo para você não se esquecer de dar uma curtida, compartilhar e se inscrever no meu canal, se gostar.
Bom. O Sergio Moro fez tudo certinho na sua primeira manifestação pública como candidato a presidente, no discurso redondo de afiliação ao Podemos. Ele abateu quase todas as restrições que haviam contra sua capacidade eleitoral. Até as minhas, inclusive.
Foi muito inteligente em transformar em virtude, logo de cara, o seu principal problema, que é aquela voz de taquara rachada.
— O Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendam a voz do povo brasileiro.
Ponto. E mandou muito bem no conteúdo. Não deixou de falar na corrupção, como não poderia deixar de falar, porque é o que lhe define em relação aos outros. E falou o que era preciso sobre política, economia, assistência social e gestão pública responsável.
Mostrou enfim a que veio, provou que tem cacife de candidato e confirmou que pode ser a melhor encarnação da terceira via para enfrentar a polarização Lula/Bolsonaro.
Só que, no fim da tarde do mesmo dia em que sacudiu o parquinho, o Ciro Gomes reapareceu para criar uma nova polarização, agora com ele. Sim, além de Lula e Bolsonaro, que vinha desancando, agora é Moro o seu adversário preferencial.
Ciro tinha suspendido a sua campanha para forçar seu partido a votar contra a PEC dos Precatórios e ressurgiu definindo seu foco nos três. Mostrando que está disposto a disputar com Sérgio Moro, e do seu jeito pesadão, a vaga de Bolsonaro contra Lula na terceira via.
Ele vem com sangue nos olhos para disputar com Sérgio Moro os 33% dos eleitores, aquela faixa dos Nem Lula Nem Bolsonaro, que espera somar aos 20% de Bolsonaro. Com a soma dos dois, de mais de metade do eleitorado, é que vai encarar Lula, por enquanto dono da outra metade.
Que é o mesmo raciocínio de Moro, os 33% do terço nem-nem, com a vantagem de que já herda ou tira por acomodação natural o eleitorado de Bolsonaro.
Com isso, com a repaginada dos dois nessa sub polarização debaixo da polarização, a situação dos cinco candidatos de maior potencial nas pesquisas, fica desse jeito:
Lula. É o melhor dos mundos para ele. Está mais do que consolidado como candidato único à esquerda, com até 48% de indicações de primeiro turno em algumas pesquisas. E vai assistir de camarote a briga pelo lugar de Bolsonaro, na outra ponta. Seus problemas, que é outra longa conversa e outro vídeo, são as denúncias de corrupção que a presença de Moro escancara, e as más companhias com quem a centro direita não gosta de vê-lo acompanhado: PT e MST, por exemplo. Muita gente na centro direita gosta do Lula, mas detesta os dois.
Jair Bolsonaro. O presidente caiu mais um pouco nas últimas pesquisas, já está patinando em torno de 20% nas indicações de primeiro turno, um piso que parece ser fácil ser ultrapassado pelos dois terceiros aí.
Mas, como eu já disse em outro vídeo aqui, não está morto. E, na verdade, nunca teve mais estruturado do que agora, com forte apoio do Centrão, caneta cheia para despejar dinheiro e, no ano que vem, vai fazer aquelas propagandas hollywoodianas de obras para mostrar no horário eleitoral e surpreender, como sempre ocorre com candidatos a reeleição e aconteceu, com muita eficiência, na campanha de Dilma.
Ela também parecia que estava morta, mas a campanha eleitoral de João Santana mostrando aquele país que não existe na televisão, fez toda a diferença. E deve acontecer o mesmo com Bolsonaro.
Ciro. Ele começava a se sobressair no terceiro lugar, furando com muita dificuldade a polarização na grande mídia. É o mais combativo de todos candidatos, tem mais biografia, experiência de campanha, casco duro, verborragia e pouquíssimo telhado de vidro.
Sua vulnerabilidade é a ambiguidade, aquele seu jeito de meio biruta de aeroporto que acha possível falar hoje o contrário do que falava ontem. O que gera desconfiança, certo pé atrás, certo mal estar, claro. E a agressividade incorrigível que às vezes beira a falta de escrúpulos. Turbinada agora com seu marqueteiro, João Santana, o mesmo de Lula e Dilma, que bate pesado como estratégia moral de campanha e parece ter nascido para trabalhar com Ciro.
Sergio Moro. Como eu disse, com seu discurso inaugural retumbante, ele pra mim superou de vez aquela má impressão de que não daria mais do que um bom candidato a senador, deputado federal ou quiçá, segundo as más línguas, vereador em Curitiba.
Além da estatura e do conteúdo, mostrou também capacidade de arregimentar apoio importante. Estava lá toda a militância do MBL e a turma expelida por Jair Bolsonaro, que veio das grandes mobilizações do impeachment de Dilma, lá em 2015, que deram na campanha vitoriosa de Bolsonaro contra o PT. Sergio Moro estava em casa, com uma turma de alta capacidade de mobilização.
Esse novo figurino abateu também até mesmo a ideia de que ele não teria experiência e capacidade administrativa. Continua não tendo, mas mostrou que tem capacidade de formar boa equipe, que tem discurso, que tem programa, que tem perspectiva de poder para superar suas limitações.
Seu nó é mesmo Ciro Gomes. Que, agressivo ou não, congruente ou ambíguo, certo ou errado, inescrupuloso ou não, tem muito potencial para desmontá-lo psicologica e tecnicamente.
E tem por fim João Doria ou Eduardo Leite pelo PSDB, que vão ter que fazer muita força para tentar fazer algumas cócegas nessa segunda polarização, que parece vir a ser tão radical quanto a dos dois líderes poderosos das pesquisas.
O João Doria me parece mais adequado para essa campanha que se anuncia sangrenta, só para quem tem nervos de aço e frieza, que aliás é o caso do Moro.
Doria é mais contundente e mais bem sucedido em disputas anteriores contra o PT. Sabe das manhas todas do partido de Lula e sabe bater onde lhe dói o calcanhar. Não me esqueço da vez em que o PT o acusou de que iria privatizar até cemitérios, e ele desmontou o palanque e a bandeira do partido com uma só frase. “Sim, eu sou o candidato que vai privatizar cemitérios”.
É por aí. Posso estar enganado, a ver, mas acho Eduardo Leite mansinho demais para uma campanha em que vai correr sangue. Ha ha ha. Em que a ponderação e a promessa de paz para uma sociedade em guerra não parece estar definitivamente no cenário.
Leia o artigo: Como ficam os 5 principais candidatos diante da polarização Moro/Ciro
Veja o vídeo:
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