O empresário americano Timothy Ferris criou um organograma para sua empresa sem ele e sem um só empregado. Apenas com o poder da internet.
Estruturado por processos, tem a publicidade no topo, o gerenciamento de vendas por meio eletrônico logo abaixo, seguido do processamento de distribuição, entrega e reclamações. No pé, como um bico de funil por onde tudo desagua, sua conta bancária recebendo os lucros.
Às segundas-feiras, analisa relatórios e, nos dias 1º e 15, as contas bancárias.
Se encontra alguma imprecisão, resolve com um email para um de seus operadores na China, na Índia ou na Indonésia.
Se não, volta para o kendo, a pintura, o ciclismo ou algum outro divertimento em alguma parte do mundo, como um campeonato de tango em Buenos Aires, um torneio nacional de kickboxing chinês ou a participação em uma série de TV de Hong Kong,
– Não sou uma oficina pela qual tudo precise passar. Sou mais como um policial na beira da estrada que pode entrar nela se for preciso verificar se as engrenagens estão funcionando.
Trabalha quatro horas por semana, segundo conta no best-seller que está fazendo a cabeça de nove entre dez empreendedores digitais e pode ser considerado uma espécie de radicalização ou ponto de chegada do tal ócio criativo sobre o qual teorizou o italiano Domenico de Masi no fim dos anos 90.
Ao contrário de Masi e dos paradigmas modernos de que é preciso trabalhar no que se gosta e aposentar cedo, ele defende que é preciso fazer as pessoas trabalharem por você e ter miniaposentadorias ao longo da vida, que não sejam pausa de descanso, mas de reflexão.
Poder trabalhar menos
Por que 8 horas todo dia para completar um trabalho?
Ferris acha anacrônico que alguém precise trabalhar de 9h às 17h, como se convencionou.
– Esse horário é um acordo social coletivo e um legado jurássico da abordagem do resultado por volume. Como é possível que todas as pessoas do mundo precisem exatamente de oito horas para completar seu trabalho? Não é. Esse período é uma arbitrariedade.
Ele sempre conseguiu muito mais resultado em muito menos tempo, nos empregos convencionais que ocupou, e se irritava que tivesse que cumprir tempo inútil.
Quando montou seu negócio de sucesso, de vendas online de um suplemento alimentar para atletas, viu-se emaranhado em quase 12 horas diárias de tarefas inúteis e delegáveis ou interrupções desnecessárias. Temia ficar, como bem ilustra, como o empresário gordo, careca e estressado numa BMW, brigando contra o tempo.
Seu livro é o apanhado desse aprendizado e domínio das técnicas para automatizar seu negócio, eliminar a inutilidade, educar as pessoas para não dependerem dele e gastar o tempo com o que realmente importa.
Para chegar à engrenagem azeitada que lhe dá dinheiro e aposentadorias frequentes, ele terceiriza todos os serviços ao redor do mundo, de secretária à distribuição, e dá autonomia aos terceirizados para que conversem e decidam dentro de determinados limites, esticados a cada vez que amplia a confiança.
O segredo foi se libertar de tudo que toma tempo inútil, eliminando informação desnecessária e educando seus contratados a não ocupá-lo com falsas emergências.
– Emergência não existe.
Propõe uma dieta pobre em informação – “assim como o homem moderno consome muitas calorias de pouco teor nutritivo, quem trabalha com comunicação consome dados em excesso e das fontes erradas” – e o cultivo de uma ignorância seletiva:
– Proponho que você desenvolva a incomum habilidade de ser seletivamente ignorante. É imperativo que você aprenda a ignorar ou a redirecionar todas as informações e interrupções irrelevantes, desimportantes ou impraticáveis. A maior parte se enquadra nessas três categorias.
O que acabou lhe permitindo checar os emails apenas uma vez por semana, depois de terceirizar para um operador da Índia até suas pesquisas no Google.
Poder comunicar melhor
Eliminou pessoas e clientes onerosos com base na Lei de Pareto, segundo a qual 80% das coisas são feitas por 20% das pessoas. Ou 80% das compras são feitas por 20% dos cientes. E adotou que uma tarefa aumentará de importância e de complexidade em relação tempo alocado para sua realização, segundo a lei de Parkinson.
A pressão do tempo o fará cumprir a tarefa, tenha quatro, oito ou 24 horas.
Trabalhe Quatro Horas por Semana quebra esses e outros paradigmas que pareciam ainda modernos, como a ideia de que é preciso restringir o horário de trabalho para liberar tempo de lazer e se aposentar cedo.
E sua ideia de aposentadoria não passa por descanso depois do fim da jornada de 30 anos, mas um conceito de mini-aposentadorias sempre, a cada dois meses. Não como descanso, mas como pausa para refletir e começar de novo.
Outros paradigmas que pareciam modernos e a nova forma que os vê:
- Trabalhar para si mesmo.
- Não, fazer outras pessoas trabalharem para você.
- Trabalhar quando você quer.
- Evitar trabalhar só pelo trabalho e fazer o menor esforço para o melhor resultado.
- Aposentar-se precomente, ainda jovem.
- Distribuir períodos de descanso e miniaposentadorias ao longo da vida e reconhecer que a inatividade não é o objetivo.
- Comprar todas as coisas que você quer ter.
- Fazer tudo o que você quer fazer e ser tudo aquilo que você quer ser.
- Ser o patrão em vez de empregado, estar no comando.
- Não ser nem o patrão e nem o empregado, mas o proprietário e ter alguém para operar o negócio.
- Ganhar uma tonelada de dinheiro.
- Ganhar uma tonelada de dinheiro com uma razão específica e sonhos definidos a serem perseguidos, incluindo cronogramas e métodos de ação.
- Ter mais.
- Ter mais qualidade e menos bagunça, ter reservas financeiras apenas como justificativa para gastar tempo com coisas que importam.
- Alcançar a estabilidade final, seja abrindo o capital da empresa, vendendo ou aposentado-se com a galinha dos ovos de ouro.
- Não. Pensar grande, mas garantir uma renda constante.
- Ter liberdade para fazer aquilo que você não gosta.
- Ter a liberdade de não fazer aquilo de que você não gosta e também a determinação de perseguir seus sonhos.
O grande senão do livro é o título algo mágico, para efeito publicitário, sem um detalhamento consistente de que tal medida de tempo seja possível.
Embora pareça factível, pela cachoeira de insights, bons exemplos e dicas verificáveis de ferramentas disponíveis na internet, não dá para confiar às cegas que alguém com um negócio planetário gaste só quatro horas semanais para ler relatórios e checar a conta bancária.
Não precisava baixar tanto o parâmetro para continuar confiável.
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