Modelo jornalístico da “pirâmide invertida” responde as principais perguntas do texto e, com isso, organiza o pensamento para escrever bem.
Quem não passa por aquele branco na hora de começar um texto importante e urgente, opinativo, didático ou ficcional?
Com o tempo, aprendi que o desespero vem, não da falta de informação, mas do excesso.
É a tentação de falar tudo de uma vez, que acomete todos os que querem aprender a escrever bem e com menos sofrimento.
Sufocados pelo turbilhão de informações que tira o sono, não sabem como processá-las em ordem lógica, menos ainda encadeá-las de forma atraente.
E o principal: escolher o que deve ser priorizado, sem medo de cortar o desnecessário.
Então, olhe esse parágrafo, longo como não convém nos dias de hoje:
Um jovem me procurou em busca de socorro para aprender a escrever textos atraentes de forma menos sofrida, na semana passada. Ele me mandou email pedindo sugestão urgente de materiais didáticos que pudessem ajudá-lo na empreitada. Havia penado para produzir o roteiro de um vídeo e queria se ver livre desse sofrimento no futuro.
É uma perfeita pirâmide invertida, a estrutura do texto jornalístico criada pelo The New York Times no século XIX e ainda não superada quando se trata de objetividade.
Ela hierarquiza a informação por ordem de importância, a partir da resposta, logo no primeiro parágrafo, às seis perguntas clássicas: quem, o quê, quando, onde, como, por quê?
- Quem? – Um jovem…
- O quê? – …me procurou em busca de socorro para aprender a escrever textos atraentes de forma menos sofrida,
- Quando? – na semana passada.
- Como? – Ele me mandou um email, pedindo sugestão urgente de materiais didáticos que pudessem ajudá-lo na empreitada.
- Por quê? – Havia penado para produzir o roteiro de um vídeo do curso Expert Milionário e queria se ver livre desse sofrimento no futuro.
Elas estão em todo caso que se vai contar, da escapada de ontem para a balada à última derrapada do governo.
Olha, eu (quem) fui (o quê) na balada (onde) ontem (quando) com o Guto (como) para dar uma sacada no ambiente (por quê).
Quer pegar nos jornais o principal fato da semana? Esta lá:
O ministro da Saúde (quem) negou que haja risco de expansão da epidemia do novo vírus no país (o quê). Em coletiva no Palácio (onde), ontem (quando), ele contestou a denúncia de que a rede pública não está preparada para atender a demanda de prevenção e combate em tempo hábil (como). Mostrou gráficos para provar que os estoques estão… (por quê).
Chama-se pirâmide invertida por colocar a base, ou todas as respostas que sustenta e resume o texto, no topo, chamado lead no jargão das redações.
Os parágrafos seguintes vão expandir cada informação, com mais detalhes e opiniões, partindo sempre do mais para o menos importante.
Nasceu e cresceu da demanda por objetividade e pescar o leitor apressado dos jornais. E, neste sentido, pode ser contrária a seus objetivos. Como pode ser inadequada para textos criativos.
Mas não conheço melhor forma de treinamento e é o que faço quando me procuram no desespero de começara um texto.
Mas, como digo no artigo A fórmula de cinco blocos para escrever a redação descomplicada para o Enem, é a forma mais efetiva que conheço espantar o branco e a dúvida do que selecionar para começar um texto.
Com o tempo e o treino, é possível inverter as posições para se obter ênfases e efeitos.
O quando, embora raro, pode ser mais importante que o quê (“De repente, no meio da reunião, a presidente levantou a voz para dizer….). O por quê mais relevante que o quem ou o quando.
Com mais tempo ainda, com o treino da capacidade de criar ganchos e recursos excitantes, pode-se inverter a ordem de qualquer jeito, a ponto até mesmo de colocar o mais importante ao final.
Textos jornalísticos são, por natureza, funcionais. Têm a função da objetividade, neutralidade tanto quanto possível, e não servem necessariamente a pretensões poéticas ou de convencimento.
Mas continua sendo a fórmula definitiva de espantar o branco, selecionar, organizar o raciocínio e ganhar coragem para cortar o desnecessário. E não perder o sono.
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