É curioso, bem esquisito, quase estapafúrdio o que se passou no debate com os candidatos a governador, ontem, na Globo.
O governador Fernando Pimentel…
- fez um governo desastroso, sem paralelo na história recente,
- produziu o primeiro Orçamento mineiro com déficit, já a partir do seu primeiro ano, em 2015,
- tem o apoio altamente desgastante do lulopetismo, que agora esconde,
- senta sobre uma pilha de processos judiciais que o aguardam assim que deixar o Palácio da Liberdade,
- culpa os governos passados, os federais presente e futuro por seus quatro anos de imperícia.
Ainda assim, foi quem nadou de braçada como líder de oposição.
Usou três dos cinco outros candidatos como escada — Claudiney Dulim (Avante), Dirlene Marques (Psol) e sobretudo Adalclever Lopes (MDB) — para sambar sobre os tucanos.
O desavisado que não soubesse de fato do que se trata, que descesse de Marte e desse de cara com seu jeito firme e sem dúvidas, não teria dúvidas de que os governos tucanos que o antecederam são os responsáveis pela ruína do Estado, embora tenham se passado quatro anos que foram embora. E que seu opositor principal, Antônio Anastasia, é um senador relapso com Minas e, ainda por cima, mentiroso.
Por elegância, falta de coragem ou a incompetência crônica do PSDB para fazer oposição, Anastasia não teve o mesmo traquejo e a mesma ênfase para compor com as escadas presentes, embora tivesse tentado.
Acabou cumprindo o ritual do programa e se atendo na maior parte do tempo a cumprir o script dos temas que nenhum candidato esperto cumpre nesses debates teatrais, mistura de propaganda e pegadinha.
Romeu Zema, do Novo, que poderia ajudá-lo, acabou usando uma de suas perguntas para dar escada ao palanque de Pimentel. Poderia ter escolhido a sua escada também.
(Capítulo a parte, Zema passou como promessa do que poderia ter sido. Sem um terno que lhe desse mais postura de candidato viável e conhecimento das manhas da área pública, acabou raso, enfatizando bijouterias de uma situação que é muito pior do que se imagina e do que consegue elaborar.)
O máximo a que o tucano chegou foi repetir o já esgotado em sua propaganda eleitoral, de que o governador deixou obras paralisadas.
Ainda não descobriu uma forma de dizer que Pimentel produziu o déficit atual, já no primeiro ano de governo, quando aumentou em R$ 8 bilhões a folha de pessoal. Porque seria admitir que o governador gastou o que não podia por uma causa inviável mas boa: os 47% de aumento do professorado.
Com um cardápio tão grande a explorar sobre o adversário, conseguiu apenas uma frase curta de “chega de PT”, ao final do programa.
Pior, passou os 2 minutos finais de mensagem ao eleitor na defesa. Sinal de quem está nas cordas, caiu na provocação, foi arrastado para o campo do adversário e tem mais a explicar do que a cobrar.
Pode ser que seu jeito manso, de outra cepa, avesso a jogar baixo, tenha algum apelo num eleitorado que desconfia do que se passa no Estado, por mais alienado. E que comunga com os demais brasileiros da mais funda rejeição ao petismo.
E que talvez não estivesse vendo televisão no horário. Pesquisas indicaram que os primeiros debates regionais dessas temporada foram ignorados por mais de 60% do eleitorado. Um índice próximo ao interesse pelos programas eleitorais.
Por sorte de Anastasia, a briga está nas redes sociais e no noticiário nacional, onde seu adversário, seu partido e sua candidata ao Senado vêm sendo trucidados por relacionados ao PT, a Lula e tudo o que de ruim a maioria da sociedade anda vendo neles.
Nesse campo, ele não consegue posar de oposição tão bem quando está diante de um tucano acuado.
Debate sem cronômetro
Nem tudo está perdido. O debate Folha/Uol/SBT com as vices de Alckmin, Haddad e Ciro, ontem, inovou na flexibilidade do uso do tempo.
Cada uma teve um banco de 22 minutos em hora e meia para usar como quisesse, mais ou menos para cada tema que mais lhe interessasse. À medida que iam respondendo, sem pressão, iam sendo descontadas.
Não é muito, mas é um avanço ao modelo de teatrinho de escola primária em que se transformaram os debates, com mediadores fazendo papel de cronômetro.
Ciro ainda não está morto
Sem chances de Alckmin fazer qualquer cócega em Bolsonaro, mas Ciro Gomes não está totalmente morto para balançar Haddad.
Ele está se concentrando em Minas — o estado decisivo — na reta final, fazendo o que tem que ser feito, com apoio do prefeito atleticano Alexandre Kalil.
Minha bola de cristal: se crescer nacionalmente uns 3 a 4 pontos e Haddad cair idem, que não é impossível, empatam e vão para o voto útil.
Política é uma caixinha de surpresas.
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