Uma tese controversa, aberta a debates.
A vaia a Dilma na abertura da Copa pode ter contribuído para sua recuperação de quatro pontos no Datafolha de hoje, tanto ou mais que o otimismo pátrio que, segundo também a pesquisa, deu saltos significativos.
Fora o fato de que sempre se confunde país com governo, os benefícios da vitimização é fenômeno antigo em política. Já teve grandes comprovações na história – Hitler e Alemanha destruída pelos acordos da Primeira Guerra –, foi manejada com maestria por minorias e está em toda a literatura maquiavélica, segundo a qual o inimigo tem que ser cooptado ou destruído, mas nunca desmoralizado.
Me lembra a famosa entrevista que Lula deu a Pedro Bial, no Palácio do Planalto, no último dia de 2005, para exumar as misérias do mensalão que o tinham abatido como homem e político nos seis meses anteriores.
Tinha vivido seu inferno político naquele período, comprovado no desespero catatônico visível nas entrevistas – é famosa a que deu em Paris, logo no início, falando que a corrupção era prática antiga no país –, na raiva incontida nos discursos de rua com que ameaçou mobilizar o país e nos índices desmoralizastes de aprovação nas pesquisas, no fim do ano.
Mas, para surpresa geral, ele começou a recuperar terreno nos índices de aprovação das pesquisas logo em seguida à entrevista.
Analistas de jornais não entenderam e não escreveram sobre o fenômeno, mas raposas políticas velhas de guerra não tiveram muitas dúvidas de que o repórter trilhou o caminho que produz as vítimas: bateu além da conta.
Na entrevista disponível neste site de memória da Rede Globo, vê-se que, muito bem armado de todas as provas até então levantadas pela imprensa e a CPI dos Correios, acuou a autoridade máxima do país sem piedade. Raro em repórteres, em geral inibidos diante da autoridade, ele não engoliu as tergiversações, insistiu em perguntas não respondidas, jogou provas na mesa a cada vez que ele dissimulava ou as negava.
Cumpriu sua obrigação, enfim, com um homem debilitado.
Só se entende que o presidente tenha se beneficiado do entrevero, mesmo não explicando nada, porque, mais esperto que Bial, enrolou com competência e teve tempo (35 minutos) de sobra para recuperar o fôlego e passar a sensação de que, na pior das hipóteses, tinha se saído melhor do que a encomenda.
Em algum momento, imperceptível, inconsciente e ainda inseguro, recuperou a quase inconsciente capacidade de vitimar-se que desenvolveu na oposição desde que líder operário no ABC. Ali estava um homem que, como nos bons tempos da oposição, passara por dias difíceis, tinha ido ao fundo do poço, mas que, por sua história, merecia um crédito que o repórter todo poderoso à sua frente não estava lhe dando.
Uma vaia colossal como a do Itaquerão pode ter o mesmo peso de uma entrevista ingrata como aquela. O próprio Datafolha apurou que 76% dos entrevistados não aprovam o que fizeram com a presidente no estádio.
Num post no Facebook, já contaminado por essa ideia, cheguei a dizer que ela vinha recebendo solidariedade da opinião pública e, se tivesse discursado, mesmo sob vaias, atrairia mais condolências. Considerei um erro de seus conselheiros terem-na desaconselhado a discursar. É um tipo de covardia que não cabe em candidatos a estadistas.
É o que continuo achando para a final, quando se prevê que ela entregará a taça ao campeão. Se for vaiada enquanto entrega, bom. Se discursar na cerimônia e for mais vaiada ainda, melhor.
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