O uso de palavrões é, digamos, uma gramática não oficial do Brasil, de tão incorporados ao linguajar diário. Só aparecem quando absolutamente necessários na imprensa seguidos de um asterisco.
Os de uso mais corrente são:
- O c*, onde as pessoas irritadas mandam enfiar alguma coisa.
- O outro c*, precedido em geral “do”, para designar uma coisa especial cuja rima mais comum é baralho. Do baralho.
- O p*, produto final de uma relação sexual bem sucedida, utilizada com espécie de interjeição que enfatiza qualquer argumento, bom ou ruim.
- O b*, excremento humano usado como adjetivo na avaliação de qualquer coisa ruim.
- O pqp, um tipo de surpresa diante de algo grandioso, bom ou ruim, não necessariamente ligado ao fato de o interlocutor mais próximo ter ou não uma mãe que exerce a profissão mais antiga do mundo.
- O fdp, um tipo de vocativo que pode ser ofensivo ou carinhoso, sem também necessária relação com a mãe do ofendido ou acarinhado. Sacana, em linguagem culta.
- O f*, que pode ser substituído pela ordem que se dá ao jardineiro quando se mostra uma grama alta e ordena-se: “poda-se”.
Com os políticos também, não é diferente.
Nos meus mais de 30 anos de proximidade com a raça, posso garantir que na vida comum, sem a casaca das obrigações cerimoniais, falam tanto palavrão quanto bêbados jogando sinuca e coçando aquela parte da anatomia que a imprensa chamaria de s*.
É de uso tão comum entre eles que ninguém entendeu a ira do presidente Itamar Franco, no início dos 90, quando Lula o chamou de fdp quase como um elogio por estar manobrando com esperteza o Congresso. Mas o presidente que encaminhou a criação do Real e era tão temperamental quanto sem humor, levou o xingamento ao pé da letra e levou a celeuma até a p* das eleições para sua sucessão.
Nada tenho contra palavrões e, no meu mundo ideal, acho que a imprensa não deveria usar asteriscos. Se os jornais já incorporaram a palavra “bunda” aos bons modos da gramática jornalística, por que não enfiar o resto? No bom sentido?
A repressão às palavras feias, na escola, na gramática, na imprensa, acaba chamando mais atenção do que merecem e camuflando o que de fato importa quando explodem na vida pública.
O problema das conversas de Lula gravadas pela Polícia Federal não foi a cascata de nomes feios que despejou no telefone como se jogando sinuca. Mas o catálogo de procedimentos reprováveis que deu a entender serem tão comuns na vida dos políticos quanto o uso de palavrões, tal a desenvoltura que os tratou e o tom de quem não costuma ser desobedecido.
Listo pelo menos três:
- Ter dito que nomeou o procurador geral da República na expectativa de que ele atendesse seus pleitos no futuro.
- Ter sugerido que se deve tratar adversário a pancada, para usar uma palavra aceita na norma culta, quando disse que seus “peões” iriam cobrir de p* os “coxinhas”.
- Ter chamado de “tranqueira” as centenas de presentes recebidos da generosidade do povo brasileiro e de chefes de Estado.
Tradução de desprezo pelas instituições, pela divergência democrática e pelo patrimônio público, têm o mesmo status de palavrões cabeludos e não deveriam ter sido ditas nem dentro do banheiro, com luz apagada e dando descarga. Menos por um ex-presidente da República e líder de massas com responsabilidade de preservá-los.
Me rendo à tradição de que certa compostura de respeito a códigos mínimos de civilidade requer o uso das palavras certas em público. Mesmo que mascarem a tensão entre uma ética pública e uma ética privada, tão forte em nossa sociedade quanto o falso pudor por palavras feias.
Mas precisamos aprender a nos preocupar menos com elas do que o que camuflam. Nossa excessiva preocupação com elas e os códigos de conduta pode nos desviar do que realmente importa, os comportamentos que subjazem a elas.
Assim como o governo não deve se preocupar apenas com o fato de terem sido vazadas, não podemos nos preocupar mais com o fato de terem sido ditas do que com o que escondem.
Ou acabaremos por cobrar mais compostura gramatical/cerimonial do que comportamento ético, mais preocupados em manter um falso equilíbrio social do que em arrancar-lhe a casca.
O que redundaria num equilíbrio, para usar um asterisco, de b*.
Cícero Alvernaz diz
Ex-presidente, para alguns, presidente, repelente, excrescente, pertinente, mente e consente, e agora é um ex quase ministro decadente. Essa não é a imagem do Brasil, minha gente. E bola pra frente!
Mario diz
Fazer da figura da ignorância do molusco, um modelo do profissional “Torneiro Mecânico” é de um preconceito absurdo. Não quer dizer que um TM não conheça o bom vocabulário português, principalmente considerando os de ‘nível superior’ , em sua grande maioria nesse país, não saberem diferenciar substantivos de verbos ou adjetivos!!!!!!!!!! Vejam as provas do Enem e outras aplicadas para verificarem a condição dos estudantes e ‘formandos’ das universidades públicas e privadas!
Aos ‘doutores’, menos, né!
José Correa diz
Discordo. Quem tem um curso de torneiro mecânico, consegue sim expressar palavras da língua portuguesa sem usar de palavrões. O caráter não é concedido num curso de doutorado na Sourbonne.
vicente diz
Lula falou o que todos sabem e dizem as escondidas. A moral da politica é a moral dos mineiros: Pode-se fazer tudo, desde que ninguem saiba…
Magelo diz
Daniel e Vadir. Vocês disseram tudo. Acrescento apenas minha indignação.
Waldir Salvador diz
A verdade meu caros é que estamos em meio a uma enorme desilusão com o verdadeiro significado de “Pátria” . O respeito ao país, aos seus cidadãos, a evolução da sua história, sua honra, o amor de cada um de nós pela terra em nascemos e vivemos, a sua economia, a sua credibilidade interna e externa, estão sendo todos jogados ao chão, uma humilhação sem precedentes, Não como não se entristecer com isso!!! indiferente ao seu grau de instrução, suas limitações intelectuais, mentais e de caráter, o brasileiro Lula e seus seguidores acéfalos não podem e não tem direito de fazer esse sangramento com o mais purdo e verdadeiro sentido de Pátria, da nossa Pátria! Que a justiça seja capaz de restabelecer a “Ordem e Progresso” que intitula a nossa bandeira e ainda nos emociona de verdade! Estamos com saudade do Brasil do nosso Brasil e não disso que esses depravados o transformaram nesses últimos anos e que agora está sendo escancarado a todos nós. Deus salve a república!!!
alvaro mello diz
Isso foi Presidente do Brasil, c aquela conversa mole p enganar os necessitados, e o fim, a onde chegamos, este cara tem que ser realmente presidente da quadrilha e dos zé ruelas do PT
Edmilson diz
Palavras bonitas podem até diminuir o cheiro, mas não o fato de que muita merda foi escrita. Vide comentários…
Alexandre N S Rosa diz
A única coisa que salvou aqui foi o comentário do senhor Daniel dos Santos, exceto quando disse que foi um ótimo texto.
Daniel Santos diz
Ótimo texto Ramiro! Porém vocês se esqueceu de mencionar a questão do nível cultural de Lula! Quem tem um curso de Torneiro Mecânico apenas, não consegue expressar palavras oriundas da língua portuguesa. Por outro lado nota-se que seu discurso é programado para militância! Se o Lula praticar a flatulência (pum), a militância apoia. Fora isso o mesmo deve ter sido motivo de chacota no exterior pelo baixíssimo grau de cultura,.excetuando os países Africanos e Bolivarianos que se igualam a ele na intelectualidade. O povo que aceita e elege um Presidentes sem formação, pode tranquilamente confiar em um curandeiro que não possui o curso de medicina. No caso do Brasil as covas já estão abertas no cemitério social. A morte é quase certa pois, o nosso pais já está doente há 14 anos sendo que nós últimos dois anos encontra-se no CTI.