Presidente do Senado se notabilizou mais pelo que impediu Bolsonaro de fazer e só tem ativo de conciliação para eleitorado que quer experiência e resultados
Rodrigo Pacheco é daqueles casos raros de carreira meteórica impressionante num meio em que não se sobe só por ter dinheiro para bancar uma campanha milionária. É preciso ajudar a sorte com o tipo de preparo necessário para estar pronto quando a oportunidade aparece.
Em oito anos, pulou de professor e advogado semi obscuro, com atuação de algum destaque na OAB e no conselho federal da Ordem, a presidente do Senado e candidato potencial a presidente da República.
Deputado federal aos 38 anos, em 2014, mais por competência da campanha do que por conexões políticas, saltou de deputado irrelevante nos dois primeiros anos a presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça.
Advogado de brilho de réus do Mensalão, do tipo que domina a alquimia de colocar culpados dentro da lei, nadava num Congresso aparvalhado com a devastação da Lava Jato sobre a classe política em sua melhor fase.
Foi determinante para fulminar a famosa proposta de Dez Medidas Contra a Corrupção, dos procuradores da operação, e, posteriormente, livrar o presidente Michel Temer de dois processos de impeachment. Com o talento alquimista de não parecer que estava contra.
Não há uma só entrevista em que tenha combatido a proposta ou o processo. Da mesma forma que nunca pareceu combater o projeto de lei que ajudou a derrubar, que reduzia de 15 para 10 anos o prazo de troca da frota das empresas de ônibus, em que estavam os interesses de sua família, empresários da
Foi o misto de sorte e preparo que também o colocou à frente da campanha pelo Senado em Minas, depois de um terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, em 2016, e ter tido o tirocínio de deixar o MDB de muitos caciques em direção ao DEM.
Navegou na paisagem desolada de falta de boas opções para concorrer contra a candidatura de Dilma Rousseff, fulminada de morte desde a primeira hora pelo desgaste monumental do PT, vulnerável até mesmo a um novato de boa ficha.
Foi com o mesmo bafejo da sorte com o espírito de alquimista que levou a presidência do Senado, ao sinalizar que poderia fazer alguma coisa para a maioria preocupada com a Justiça.
Sobretudo o presidente da República às voltas com os processos contra a família, inclusive e principalmente o do senador Flávio, sob a perspectiva à época de ter o mandato cassado.
Descontada a alquimia, a sorte e o preparo, não se sobe tão rápido sem alta competência articulatória que esse filho de Porto Velho crescido em Passos quer levar para a campanha presidencial como atributo de mineiro, a raça de políticos identificados com conciliação.
Lançou-se evocando Juscelino Kubitscheck e Tancredo Neves, os paradigmas de político em que a articulação precede o resultado, na aposta de que é o melhor recurso de marketing para apaziguar um país conflagrado que vai chegar às eleições em guerra
Pode ser que seja bem-sucedido, abençoado pelos dons e os anjos da sorte que não lhe largam, mas pela primeira vez terá que responder a uma pergunta ingrata para os candidatos a cargo executivo: o que fez até agora?
A resposta desconfortável é “nada” do ponto de vista da expectativa comum dos eleitores, que votam para prefeito, governador ou presidente avaliando o currículo do que se possa visualizar nas ruas, nas fábricas ou no bolso: obras, empregos, melhoria de vida.
Sobretudo nessa eleição em que se vai pedir muita experiência. Os candidatos mais potenciais são executivos de alta carga de serviço prestado, presidente, governadores, ex-governador ou ex-presidente.
O que tem menos e por isso menos chances, Sérgio Moro, apoia-se entretanto num recall poderoso de ter mandado para a cadeia os poderosos que o ideário popular adora odiar.
Com sua projeção no segundo mais alto posto da República, Rodrigo Pacheco notabilizou-se mais pelo que impediu o presidente de fazer — voto impresso, regulação das redes sociais, impeachment de Alexandre de Moraes e aprovação de um ministro terrivelmente evangélico — do que pelo poderia ter feito de resultados concretos para a população.
Empacou as reformas do Imposto de Renda e do texto que viabilizaria a privatização dos Correios. Na melhor oportunidade que teve de dar à sociedade um resultado palpável, não conseguiu ou não quis articular o necessário para aprovar a minirreforma que criaria bons milhares de empregos temporários, num país em crise profunda.
Não por convicção contra a suspensão de exigência das obrigações trabalhistas nesses casos, porque votara a favor da maior e mais pertinente reforma de objetivos semelhantes, no governo Temer. E nem certamente por capacidade de articulação, já devidamente provadas nessa biografia curta e retumbante.
Vai para a eleição com o azar de apresentar um balanço de coisas ruins de engolir pelo eleitorado, se conseguir emplacar o que ainda lhe falta entregar: aumento de impostos, venda de estatais, freios e contrapesos ao presidente meio maluquete.
Pode ser que use sua alquimia misturada à mandinga mágica articulatória para transformar seu currículo de vacuidades num ativo eleitoral.
Poder de conciliação e articulação, só? E até que ponto, se não conseguir aprovar a maioria que lhe foi entregue? Como dizer que podia fazê-lo, mas não quis?
Vai ser até divertido descobrir como. Até onde sei, não é fácil.
> Publicado no Estado de Minas, em 28/10/2021
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