Quis o destino que a abertura das Olimpíadas no Brasil coincidisse com a aprovação do relatório de cassação da presidente Dilma Rouseff na comissão do impeachment no Senado. Durasse mais alguns dias depois do 21 de agosto previsto, o encerramento coincidiria com a cassação definitiva em plenário, prevista para o final do mês.
Ao arrematar o maior dos arranjos políticos de nossa história, coroaria uma sequencia de arranjos que vem colocando ordem na casa desde que a presidente foi afastada temporariamente pela Câmara dos Deputados.
A saber:
- Composição de um bom Ministério e recomposição com a exoneração dos ministros envolvidos em denúncias da Lava Jato.
- Abertura de canais de negociação com lideranças de trabalhadores para encaminhamento de uma reforma da Previdência.
- Encaminhamento da renegociação da dívida dos Estados.
- Afastamento do problemático aliado e presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
- Eleição de um aliado afinado e disposto a ajudar, Rodrigo Maia.
Assim como fecham um ciclo, as Olimpíadas devem também abrir um novo de otimismo e confiança no país. Por extensão, no governo.
Mais seguro além do que transparece no cargo e mais fortalecido pelas enxame de adesões que o cheiro do poder atrai, Michel temer vai poder ampliar seu arco de alianças (não se descarte uma aproximação com Lula), tocar algumas reformas e fechar o ano melhor do que começou.
Qualquer melhora, diante do quadro de desarranjo institucional, econômico e político, é lucro.
Difícil que Olimpíadas dêem errado. Nunca deram, mesmo sob ameaças e atentados em diferentes épocas. Na entrega das medalhas na cerimônia de encerramento, por piores que sejam os resultados, vai se respirar o ar que teve contaminar a população desde a abertura, hoje: o de que esse país, apesar de tudo, tem jeito.
Como lembrou a Veja em sua última matéria de capa, o próprio Rio de Janeiro que nos traduz lá fora é um caso de resiliência que sempre dá a volta por cima, mesmo que para piorar depois.
Estava no fundo do poço e cercado de descrença quando fez em 1922 a Exposição Internacional do Centenário da Independência (havia, no lugar do zika, a febre amarela); em 1948, quanto começou a fazer o Maracanã para sediar a Copa de 1950; em 1992, quando fez sem conflitos o maior dos encontros ambientais, a Rio 92.
Não tem risco de dar errado, mesmo não dando tudo certo. E Michel Temer vai poder erguer sua tocha simbólica que vai manter acesa uma chama de esperança pelo menos até as eleições de 2018.
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