Insulto e palavrões dizem menos sobre Olavo de Carvalho do que sua limitação para perceber que encarece a barganha e mais atrapalha o presidente que quer ajudar
Ainda separo em Olavo de Carvalho a sumidade intelectual de O Imbecil Coletivo, que despeja cachoeiras de ensinamento a cada vídeo, da besta fera escatológica que não vê problema no insulto e em palavrões.
Decorre de sempre achar suas explicações melhores do que a de seus adversários, mesmo os mais qualificados, e da sensação de que eles não o leram devidamente. Ou substituem os argumentos por simplificações ou desqualificações pessoais que equivalem a seus palavrões.
As simplificações/aberrações de que em geral é acusado — terra plana, nazismo de esquerda, darwinismo e nazismo — e o tom pejorativo invariável com que é tratado — ideólogo de direita, pseudo filósofo e astrólogo — não se sustentam sob alguma boa vontade de ouvi-lo. E de boa vontade dele de explicar.
Ele é o grande culpado por sua má fama por não ver problema nas simplificações, no insulto e no uso e abuso de palavrões, que utiliza quase como uma categoria de pensamento e recurso intimidatório.
Como os grandes polemistas, tem alto prazer de atrair a ira dos grandes para devolvê-la em dobro e se mostrar maior que eles. No caso de sua adversária preferencial, a esquerda simpática ao comunismo, seu ataque de baixo nível é uma questão de convicção.
Nesse trecho em que responde até com certa elegância a artigo do grande escritor João Pereira Coutinho, ele rechaça qualquer diplomacia para lidar com os simpatizantes dos regimes totalitários e seu saldo de mortes políticas:
Quando se dispõe a baixar a bola e responder ponto por ponto, a debulhar a simplificação numa enciclopédia de conceitos bem encadeados com sua voz de barítono e uma memória de elefante, dá uma aula de, até onde percebo e entendo, difícil contestação.
A melhor explicação que já li/vi sobre a contribuição africana no Brasil está nesse vídeo em que contesta longo e qualificado artigo de João Pedro Sabino Guimarães, na Época, que o acusara de preconceito por negar qualquer influência cultural negra aqui.
Sua tese é de que a raça deu incontestável contribuição material, que não é pouca, e de que toda produção artística dos negros no Brasil é de influência europeia.
Ao argumento, como sempre, ele emenda o insulto e, dependendo do tamanho da ira, o palavrão. Principais sustentáculos de uma autoridade imposta à força a uma geração de amedrontados de contestá-lo.
Daí que, mesmo estando certo, oferece a cara a tapa e todo um arsenal para ser contestado na superfície, com os mesmos recursos degradantes que utiliza.
Para quem tem excessiva boa vontade como eu, mesmo os palavrões não oferecem problema. Já escrevi que nada tenho contra eles e percebo que, em Olavo, eles têm uma curiosa inovação.
Explico.
Tenho uma velha obsessão por entender essa segunda língua suboficial de uso privado de mendigos a presidentes da República, seu uso e sua resistência na linguagem humana, apesar da dura repressão que lhe se impõe as tradições.
Quando o juiz Sérgio Moro liberou os áudios das conversas de Lula gravadas pela Polícia Federal que relevaram ao país a dimensão chula de seu palavreado privado, escrevi um artigo de boa repercussão condenando o uso de asteriscos na imprensa para camuflá-los.
O pressuposto é que a censura pública a eles tem algo de hipócrita, de camuflar o principal em favor do acessório. Dar mais importância a eles do que o escondem. No caso de Lula, a obsessão por eles acabou dando mais importância ao que ele falou do que ao que fez.
>>> Leia: O palavreado de Lula e como o grampo tira a casaca dos políticos
No caso curioso de Olavo de Carvalho, o ataque vem depois. Ele nunca joga baixo de rotular o adversário antes de qualquer argumento, de fascista, nazista ou esquerdizóide, para desqualificar o que ele tem a dizer, como se popularizou no debate político recente.
Ele nunca bate sem, antes, apresentar seus argumentos. E suas simplificações, vai-se ver, escondem argumentos mais sólidos sobre certas desonestidades intelectuais que o levaram a produzi-las.
Nesse trecho, antes de bater abaixo da linha da cintura em Lucas Mendes, ele contextualiza a polêmica que deu ao jornalista licença para acusá-lo de continuar dizendo que Obama nasceu no Quênia.
A desqualificação do adversário vem da iluminação das crenças e contradições alheias, de forma tal que torna os palavrões desnecessários. Não tivesse Olavo de Carvalho um prazer quase fálico neles, como disseram alguns artigos de articulistas respeitáveis na semana em que ele disse que o respeitável general Villas-Boas, numa cadeira de rodas, não controla nem o cu.
Suas fragilidades estão no campo das escorregadelas pessoais, pequenas vilanias da condição humana, que não ainda não comprometeram minha percepção do valor de seu conhecimento.
Um bom repórter da Época, Denis Russo Burgierman, fez por três meses o seu curso online, na intenção de escrever matéria definitiva sobre ele. Assistiu todas as aulas no sábado à noite, navegou até onde possível nas quase 500 aulas postadas desde 2009 e se lançou com humildade à tarefa de entendê-lo.
Por mais que eu também tivesse restrição às crenças ideológicas do repórter — transpiradas involuntariamente numa boa entrevista na Jovem Pan — e a mesma humildade para acreditar nas suas intenções, não vi na reportagem mais que pequenas vilanias de um homem naturalmente contraditório como nós outros.
Que camufla suas contradições e suas pequenas espertezas, para manter incólume seu legado. Para ficar em dois exemplos, resistir a assumir erros grosseiros, como o de sustentar que a Pepsi Cola adocicava sua fórmula com células de fetos abortados, e esticar o curso online mais do que o previsto e necessário para não matar a galinha dos ovos de ouro que o sustenta.
Mesmo sua relação com a Astrologia não me incomoda. Deriva de não ter me aprofundado sobre essa fase de sua formação, de achar que, até onde a vista alcança, ela não compromete seu conhecimento e que intelectuais podem ter curiosidade literária ou filosófica por sub-cultura que explicam certos fenômenos, como eu tive por telenovela.
O que tenho certeza sobre Olavo de Carvalho, porém, é de sua indiscutível inabilidade no manejo da política cotidiana de governo.
Toda sua intimidade formação intelectual não lhe permitiu perceber o básico da realidade que nos cerca: que joga pesadamente contra o presidente que pretende ajudar.
Propugna por uma revolução populista de desqualificação do Congresso e da Imprensa, sob o fogo cruzado de uma guerrilha virtual irresponsável com o objetivo insano de quebrar a espinha dorsal do governo.
Tudo o que consegue é elevar o preço da barganha. Nossos políticos mais influentes, que farejam à distância possibilidades de troca, aumentam o preço e trazem novas demandas para o balcão a cada vez que suas escatologias cibernéticas debilitam um pouco do governo.
E tornar seu presidente mais ridicularizado a cada vez que precisa vir a público defendê-lo.
Fosse pragmático, conspiraria no tom certo e longe da internet para convencer seu presidente sem dar tantos motivos a seus adversários para desqualificá-lo. Como fazia antes de atingir o estrelato no Youtube.
E nem insistiria na tecla de que não é um ideólogo — alguém que produz conhecimento com finalidade política — e nem tem qualquer interesse político no governo.
Diferente do que consegue com suas sólidas argumentações filosóficas desde Aristóteles, não convence ninguém.
Livros de Olavo de Carvalho:
Miguel Angelo Torres Potenza diz
Prezado Ramiro Batista ,
O Professor OLAVO DE CARVALHO é o maior intelectual brasileiro vivo !
O linguajar chulo olavista é espontaneo, natural e próprio da origem humilde de seu autor; além de também servir como técnica para chamar a atenção do público para as contradições das coisas e pessoas no Mundo em que vivemos, e se impor aos seus adversários, que são muitos, e o atacam frequentemente e por todos os lados como um bando de hienas carnivoras na busca por comida.
O importante não é o seu linguajar por vezes popular em demasiado, mas o conteúdo de seus ensinamentos que não encontramos igual, sem paralelo: o Prof. Olavo acabou com a hegemonia absoluta das esquerdas no campo intelectual, e preparou as bases de uma NOVA DIREITA que ressurgiu das cinzas durante aquelas Grandes Manifestações de rua aqui no Brasil em 2013: e que a Geande Midia e boa parte das esquerdas não entenderam até agora. Em suma, as pessoas pediram um Estado mais eficiente com a educação, segurança, infraestrutura e saúde públicas; além do fim da impunidade. Cansamos de ver jornalistas e politicos completamente perdidos em meio à pautas tão diversas, e que não conseguiram pela sua incapacidade intelectual traduzi-las em uma só pauta: O ESTADO BRASILEIRO É INEFICIENTE, PERDULARIO, BUROCRÁTICO, LENTO, CORRUPTO, POR EXCELÊNCIA e a IMPUNIDADE IMPERA PARA OS PODEROSOS POLITICOS ! – que difícil o resumo de tudo aquilo, não…. ? Como os jornalistas das Grandes Midias e elites politicas são fracos, mal formados, oncapazes de entender o que aconteceu em 2013 ?
Pois é, mas o Prof. Olavo de Carvalho entendeu tudo na perfeição e soube expressar- enfim, trabalho para intelectuais verdadeiros, e não para analfabetos funcionais !!!