Jair Bolsonaro tem sete mandatos de deputado. Não se pode negar que tem o faro afiado para as necessidades reais do eleitor, o que ele quer ouvir, que os políticos desenvolvem mais que sociólogos, antropólogos e cientistas políticos.
Donde que nunca foi lógico exigir formação intelectual deles.
Aprendi desde a adolescência com um dos grandes prefeitos de Muriaé, analfabeto de pai e mãe, que políticos são formados no voto para liderar e decidir com sabedoria.
É uma raça que, como jornalistas e apresentadores de televisão, ouve um técnico falar sobre física nuclear e sai dando aula sobre o assunto.
Garimpando com boa vontade e sem predisposição o que ele responde nas entrevistas com mais tempo, como as de ontem no Jornal Nacional e no Jornal das Dez da Globonews, percebo que sabe mais do que as frases feitas que os jornalistas gostam de tirar do contexto para desconstruí-lo.
E tem opinião mais funda formada sobre cada assunto, discutível ou não.
Economia, por exemplo. Ao contrário do que lhe acusam, ele tem uma posição geral formada sobre a necessidade de que é preciso “tirar o governo do cangote do empresariado”. Quando lhe instigam a explicar melhor, ele fala o essencial sobre desburocratização, redução da carga tributária e desoneração da folha de pagamento.
No Jornal das Dez, onde os quatro jornalistas estavam mais interessados em propostas que desconstrução, ele saiu-se melhor.
O que complica as coisas para ele é que simplifica as soluções para os problemas reais vividos pelos eleitores no mesmo tom simplório do eleitor menos esclarecido. “Bandido bom é bandido morto”, “soldado que mata tem que ser condecorado e não punido”.
Quando se cutuca mais e se sobrepõem outras perguntas, fica óbvio que ele sabe que segurança não se resolve só com isso. Tem que ter tecnologia, inteligência, recursos humanos, legislação.
Piora mais ainda que, ao dar exemplos para desconstruir o discursos de seus adversários, bate nas vítimas e não nos inimigos. Uma variação do rei que matava o mensageiro quando a notícia era ruim.
Por exemplo. Ele tem uma bronca imensa da pauta de esquerda de direitos humanos, cotas raciais, igualdade de gêneros, descriminalização de aborto e de drogas.
Na falta de arsenal intelectual ou pura paciência para bater com mais refinamento no adversário certo, produz exemplos desastrosos como o de que visitou um quilombo onde “um dos quilombolas pesava sete arrobas”. Acerta negros, gays, mulheres e domésticas com igual descuido.
É contra negros, gays, mulheres e domésticas? Acredito que seja, na verdade, mais realista e tenha pouco arsenal e pouca paciência para explicar.
No Jornal Nacional, procurou explicar a origem de sua briga com a esquerda, em 2010, quando viu um congresso sobre homossexualidade na infância promovido dentro da Câmara dos Deputados. Ou porque votou contra a lei que deu às domésticas direitos iguais a todos os trabalhadores da CLT. Queria que a implantação fosse gradativa porque haveria desemprego.
Estava sendo realista quando disse que, no quadro da legislação pré-reforma trabalhista e com toda a carga tributária brasileira, ele, se fosse empresário, não empregaria ninguém.
O fato de diagnosticar a vida real não o exime de soluções simplificadoras. E a incapacidade ou impaciência de argumentar além das frases de uso público passa por despreparo.
Ele tem, por exemplo, uma dificuldade enorme de responder o que acontecerá se perder Paulo Guedes no meio do caminho. Uma resposta fácil — troca por outro da mesma linha filosófica ou alguém mais afinado com a nova realidade — que ele não consegue processar.
Agrava que os jornalistas não ajudam.
Não porque não tenham o direito de ser implacáveis, mas por serem meio bobinhos para se aterem às frases tiradas de contexto, acharem que o entrevistado se resume àquilo e não lhe darem o devido tempo para se explicar. Ou o benefício da dúvida.
William Bonner e Renata Vasconcellos, ontem, a par das perguntas esticadas e interrupções que tiram muito tempo do entrevistado, entraram de novo nessa: de buscar suas contradições nas frases de efeito do candidato, para desconstruí-lo sem dar-lhe o devido tempo para esclarecer ou reconhecer-lhe o benefício de pensar diferente.
Com o tempo e a campanha eleitoral, suas posições devem ficar mais claras e mais amenas. Assim como as dos jornalistas. E vamos descobrir se servem mesmo para um presidente da República.
Ao contrário, Ciro e seu arsenal
É preciso que se diga que nenhum dos candidatos a vista tem a rapidez do raciocínio e a capacidade de arredondar o que tem dizer como Ciro Gomes. Responder, acrescentar o que não foi perguntado e se promover ao mesmo tempo.
No novo figurino, estava zen e firme no Jornal Nacional de segunda-feira, que lhe deu 27 minutos de escada. Com direito a entregar uma cartilha sobre como promete tirar 63 milhões de pessoas do SPC. Momento marketing, com Bonner folheando.
Não por culpa dos entrevistadores, firmes e implacáveis como das outras vezes, apenas alongados demais nas perguntas. Tomaram quase metade do tempo, segundo esta matéria do Estado de Minas. Mas porque ele não passa aperto.
Na única saia justa séria, sobre como explica posar de honesto e ter um presidente do partido — Carlos Lupi — réu em processo de corrupção, cortou a conversa na linha da “minha palavra contra a sua”:
— Ele tem toda a minha confiança.
Aposta que confundir às vezes — e rápido — pode ser melhor que explicar.
Ainda estou por entender porque, apesar de tanto preparo e arsenal, ainda exala pouca confiança.
[…] que o deputado Jair Bolsonaro de sete mandatos não é um neófito em Congresso. Deve estar colocando na sua equação que o contingente das bancadas temáticas que suas […]