Os grampos do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, plantados em março para colher inconfidências de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, divulgados nesta semana, ajudam a elucidar porque a maioria dos políticos em Brasília resolveu apressar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A saber:
- Já havia a convicção de que ela já não tinha mais qualquer convicção de governar em fevereiro, quando ocorreu a prisão de seu marqueteiro de campanha, João Santana.
- Também já havia algum consenso de que o processo de impeachment tocado por Eduardo Cunha na Câmara, por crime de responsabilidade, tinha alguma consistência. Mas a certeza sobre o perigo das provas a serem colhidas de João Santana desviou o foco para o TSE.
- Agravou-se a percepção de que a chapa Dilma e Temer poderia ser cassada no tribunal, onde já havia um volume assustador de gastos ilegais de campanha. Mas agora as denúncias a atingiam diretamente. Ela teria negociado pessoalmente pagamentos ilegais a ele com dinheiro desviado da Petrobras.
- Para entregar os anéis e não perder os dedos, o PMDB entendeu que era melhor se antecipar ao TSE e salvar pelo menos Michel Temer. Com o impeachment, a ação no TSE perderia sentido e o vice-presidente se manteria na presidência até o fim do mandato, 2018.
- Temer na presidência reduziria a pressão popular que animava a Lava Jato, ajudaria a restabelecer as pontes implodidas com o resto da classe política e o Judiciário. E haveria a possibilidade bastante consistente de que um governo de união nacional bem sucedido ainda daria reeleição a Temer em 2018.
- Cunha e Temer, ressentidos por várias razões com Dilma, já estavam convencidos, mas Renan resistia porque operava com Dilma e Lula. Recebeu o ex-presidente junto com José Sarney e levara a sério a possibilidade de Lula tocar um parlamentarismo branco como primeiro ministro de Dilma. A manobra para que ele viesse a ser chefe da Casa Civil teve o apoio dele.
- Havia também a resistência do PSDB, que preferia a cassação da chapa Dilma/Temer e convocação de eleições gerais em que o derrotado Aécio Neves nas eleições de 2014 poderia galvanizar a decepção com sua algoz. A possibilidade de reeleição de Temer em 2018 seria quase fim de carreira para ele, que pretendia navegar até lá na morte lenta de Dilma.
- Com o agravamento do clima em março e o passeio de Sérgio Machado com seu gravador embutido pela capital, acenando a com a possibilidade de delação premiada que derrubasse a cúpula do PMDB, mas também do PSDB, resolveram apressar o carro.
- Principal resistente e indispensável aos votos para o impeachment, o PSDB foi convencido por Jucá de que Aécio não teria chances numa nova eleição dado o agravamento do clima e denúncias potenciais da delação e Sérgio Machado contra membros do seu partido. Temer prometeu não ser candidato e completou o convencimento.
- Renan resistiu até a última hora, porque tinha compromissos pessoais com a presidente a quem ouvia e aconselhava. Era o único. Se dependesse dele e não da teimosia inegociável dela, a teria convencido a renunciar. Macaco velho, porém, soube fazer jogo duplo e surfar na onda do impeachment quando quando ela chegou.
A saída pelo que parece ser um acordão e eventual debilidade do governo Temer pelo cerco da Lava Jato daria novo motivo para os adeptos de Dilma alimentarem uma campanha e uma ilusão de que ela volte.
Não volta.
Se há uma certeza absoluta na maioria dos políticos de Brasília é que ela não tem mais condição alguma de governar e menos ainda de tocar um grande acordo que seria, como se falou de sobra nas gravações, “bom para todo mundo”.
Se, na pior das hipóteses, o governo Temer perder sustentação com novas denúncias da Lava Jato que abatam seu núcleo principal, eles devem voltar o foco para o TSE e considerar a possibilidade de eleições gerais.
Não está claro nas gravações de Sérgio Machado. Mas, não se duvide da capacidade deles de conciliar interesses e se unir quando o perigo ronda e coloca em risco a sobrevivência em comum.
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