Meu post no Facebook com a tese de que pode haver estratégia além da falta de dinheiro no parcelamento do salário do funcionalismo mineiro teve até a manhã desta terça-feira 162 curtidas, 148 compartilhamentos e 38 comentários. (Falta de dinheiro e/ou estratégia?) O que me levou a tentar uma fábula para ilustrá-la melhor.
1. Você está querendo ampliar sua casa, mas vem uma inundação. O bombeiro entra na casa alagada e diz que você vai perdê-la. Depois diz que está fazendo tudo para que você não a perca. Em seguida, que você não vai perdê-la, mas terá que se acostumar com a ideia de ficar sem a cozinha ou parte do quintal. Por fim, diz que, apesar de tudo, conseguiu que ficará sem água e sem luz por um tempo, mas com a casa inteira. E você se esquece da ampliação e fica agradecido a ele por pelo menos ter sua casa de volta.
2. Você está pedindo um aumento e vem a crise. O líder pragmático, na empresa ou no governo, diz que você pode perder o salário ou o emprego. Depois diz que está fazendo de tudo para que você não perca nem um e nem outro. Em seguida, que você não vai perdê-los, mas que terá que conviver com um parcelamento ou uma jornada maior. Por fim, diz que conseguiu manter seu salário, seu emprego e a data de vencimento. E você se esquece do aumento e fica agradecido a ele por ter seu emprego e seu salário de volta.
No primeiro caso, o risco é concreto e mensurável. No segundo, imaginário e pode ser manipulado.
O governador Fernando Pimentel pode/vai até negar que não esteja aproveitando a crise para tirar e devolver no futuro o salário integral em data certa e se fazer o novo herói do funcionalismo que quer conquistar. Mas líderes pragmáticos, ou caudilhos, aproveitam crises como oportunidade de criar dificuldade para vender facilidade, como algo inerente a suas personalidades. É tão entranhado no DNA que acabam acreditando que estão sendo sinceros.
Como diria Millôr Fernandes, “por mais hábeis que sejam, os políticos acabam sempre cometendo alguma sinceridade”.
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