As nomeações do presidente eleito Jair Bolsonaro para seu Ministério passam longe do modelo que se consolidou desde os anos 50 de Getúlio Vargas, de submeter o governo aos partidos majoritários no Congresso.
Só Jânio Quadros, que renunciou sete meses depois de empossado, e Fernando Collor de Mello, defenestrado por impeachment dois anos depois, ousaram desafiar o método.
No seu caso, ignorou os caciques partidários, priorizou indicações das bancadas temáticas que se sobrepõem aos partidos (boi/agricultura, bala/segurança e bíblia/evangélicos) e ouviu mais os filhos e ídolos (o filósofo Olavo de Carvalho) que lideranças tradicionais.
Ainda puxou para perto no Palácio a patota militar que, por tradição, torce bem o nariz para a classe que frequenta o outro lado da Praça dos Três Poderes.
Para susto geral na Esplanada hoje, nomeou para a Secretaria Geral da Presidência o general amigo de décadas, Carlos Alberto dos Santos Cruz, comandante da bem sucedida missão de paz no Haiti. A pasta tem entre suas funções da Casa Civil de Onyx Lorenzoni, de articulação política com o Congresso.
Articulação política militar
Não tem perigo de dar certo, estimam os analistas políticos, também de nariz torcido.
Na conta catastrófica estaria como sempre a fatura do centrão, o grosso de parlamentares que vivem de verbas e cargos para ostentar poder em seus currais eleitorais.
Esse gado sempre foi e continua dominado pelos caciques ladinos que conhecem bem suas aspirações e com os quais o presidente não parece não ter interesse ou habilidade de negociar. Renan Calheiros, candidato à presidência do Senado, é o primeiro. Rodrigo Maia, quase eleito presidente da Câmara, o segundo.
Para agravar, numa outra conta que não fecha, Bolsonaro conversa com Rodrigo Maia, mas atende o seu já chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni, a quem entregou três ministérios importantes. Que Rodrigo Maia não reconhece como seus e nem como fatura a quitar quando presidente, em fevereiro.
Mas é preciso colocar nessa conta que há bons indicativos de que o mundo mudou na eleição que devastou a classe política tal como é conhecida e que há uma avalanche de deputados novos por tomar posse. O próprio presidente eleito é produto dessa revolução e dessa era em que um deputado do baixo clero com 1% nas pesquisas e R$ 3 milhões no bolso, sem partidos e sem TV, pode dar uma lavada geral no establishment político.
Nomeação de um chefe de gabinete
Também que o deputado Jair Bolsonaro de sete mandatos não é um neófito em Congresso. Deve estar colocando na sua equação que o contingente das bancadas temáticas que suas nomeações para o Ministério acabam de arrastar é maior e mais fiel do que as tradicionais.
E que, embora não visível, tem uma estratégia de administração que faz sentido em sua cabeça. Depois de se trazer para perto seus generais mais queridos e mais brilhantes, Mourão na vice e Augusto Heleno no Gabinete Militar, fecha o arco com sua nomeação de hoje.
Deve ser resposta a um desejo seu de ter um chefe de gabinete ao modo de Donald Trump, outro de seus ídolos. O modelo norte-americano, em que esse quase guarda-costas cerca, filtra, encaminha e ajuda a resolver os problemas do governo, já foi elogiado por ele.
No seu caso, terá nele, mais Mourão e Heleno, três chefes de gabinete. Onyx Lorenzoni, de quem os três desconfiam, se vira com a turma do outro lado da praça. Mas debaixo de seus olhos.
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