Dia desses, uma rádio de notícias da capital abriu uma guerra contra os cavalos de rua, aqueles que puxam carroça e, como as prostitutas, exercem a profissão mais antiga do mundo.
Chutaram em 10 mil o número deles pelas ruas de Belo Horizonte e entrevistaram uma ambientalista de passeata, dessas que a produção das emissoras sacam da agenda surrada quando precisam rechear uma matéria.
Como sempre acontece quando se abre espaço para esses especialistas de plantão sempre prontos a “discutir” tudo, ela defendeu a necessidade de “discutir políticas públicas de proteção aos animais de rua”. Faltou dizer “em estado de rua”, o mesmo que atualmente, política e corretamente, atribuem aos mendigos.
Me surpreendeu que, de repente, não mais que de repente, jornalistas e ambientalistas tivessem descoberto que a cidade de quase 120 anos têm cavalos. Que, de repente, não mais que de repente, como quem nunca aguou uma samambaia, tivessem se percebido preocupados com um tipo de trabalho que existe por aqui desde quando a capital ainda estava nos canteiros. E que passassem a dar lição de moral de como tratá-los a velhos carroceiros que devem ter herdado de pais e avós a profissão.
Nada contra protegê-los, em geral maltratados mesmo num negócio medieval tocado a pouca ração e muito chicote. Mas me chamou a atenção o tom elevado da cobertura. Um tom de descoberta, de iluminação, de quase catarse, que me pareceu ter menos a ver com os cavalos do que com a prazer quase erótico de se ter descoberto uma causa para preencher o dia.
E, de repente, não mais que de repente, me acendeu também a ideia do quanto andam precisando de uma causa. Jornalistas, ativistas de todos os naipes e quem quer que tenha um instrumento de comunicação à mão, parecem desesperados por pegar a laço uma causa qualquer que passe voando pelo nariz. Como quem caça um pernilongo que pode ser dengue.
Seja numa passeata, numa rádio ou numa conta em rede social.
As passeatas ficaram mais fáceis desde o advento do PT, o fim do regime militar, da polarização política e do inimigo comum a enfrentar, encarnado nos militares. As rádios e os canais de notícia 24 horas ampliaram geometricamente o tempo disponível a ser preenchido por jornalistas estressados, por entendidos, intrometidos ou entediados. E as contas em rede social, ampliando o número de rádios e TV para o tamanho do universo humano (uma ideia na cabeça e uma câmera no computador), vieram completar o quadro.
Daí que as causas também se multiplicaram e acabaram ficando tão banais quanto os pernilongos: incômodos, fartos e de vida curta.
A que fim chegaram as campanhas contra drogas, corrupção e violência? Alguém aí se lembra da campanha para retirar Renan Calheiros da presidência do Senado? Alguém ainda acha que vai dar alguma coisa a campanha pela retirada do pastor Marcos Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
Acho que não. Do lado de lá, os políticos também já aprenderam que escândalos em tempo de rede social não duram mais que 15 minutos. Menos do que um pernilongo.
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