Chama-se “precificar” no mercado financeiro o cálculo do risco embutido numa carteira de investimentos. Há até um modelo de nome em inglês — CAPM (Capital Asset Pricing Model) — para calcular o limite de prejuízo numa carteira de ações considerando as variáveis não controláveis.
Quer dizer, se o pior acontecer e uma ação vier a seu preço mais baixo, “estamos no lucro”.
Os mercados político e financeiro começaram a comprar esta semana ações Rodrigo Maia, no cálculo de que nada muito grave pode acontecer se ele assumir a presidência no lugar de Michel Temer. Dependendo das circunstâncias, pode até dar um lucrinho, na medida em que dará certa paz ao primeiro e fará as reformas do segundo.
Podem ter ficado mais confortáveis ontem, confiantes na segurança de seus investimentos, com a declaração de um dos principais agentes do primeiro, o presidente do PSDB Tasso Jereissati.
Ao admitir publicamente que o presidente não tem mais condições de garantir a governabilidade e dar uma facada pública nas costas do correligionário que seu partido sustentava, um cacique como ele já deveria estar antevendo os sinais favoráveis da nova aposta ou agindo com certo tipo de informação privilegiada para aumentar artificialmente o valor da ação.
Ativo de variadas utilidades, Rodrigo Maia tem o controle da Câmara dos Deputados, como demonstrou quando se impôs tatica e silenciosamente como solução para substituir Eduardo Cunha e cassá-lo depois, articulando larga maioria.
Também já costurou o apoio de todos os partidos dentro da Câmara e vem sinalizando imagem como candidato. Cumpre agenda fora da Câmara, tenta se aproximar da presidente do STF, evita proximidade com Temer e presidir reuniões polêmicas de plenário em que possa expor suas divergências com adversários.
Manterá a lealdade a Temer para consumo externo, mas é difícil imaginar que, com tanto controle e ciência do seu poder, tenha deixado passar debaixo das pernas sem consciência a indicação de um relator independente — ainda que independente nos moldes fisiológicos do PMDB — na comissão que vai analisar a procedência da denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente.
Chegada a hora, se preciso, não terá dificuldade de fazer o aliado de primeira hora entender que, em determinado ponto crítico, quando a situação degringola, a ruptura pode ser uma redução dos prejuízos e um ganho, ainda que tímido, para todos.
Pode até negociar uma saída honrosa.
De minha parte, já apostei em ações de foro privilegiado para ex-presidentes. Já escrevi que, no limite, quanto não tiver mais saída, Michel Temer pode aceitar uma renúncia em troca da conciliação nacional e, claro, de uma PEC que preserve os ex-presidentes longe da primeira instância. Apoio de todos os lados, dentro do Congresso, não faltaria.
É preciso considerar, porém, se os líderes dos dois mercados colocaram na equação duas das principais variáveis não controláveis:
- Assim que sentar na cadeira, Rodrigo Maia vira alvo da flecha de Rodrigo Janot, por conta dos codinomes a ele relacionados — Botafogo, Jogador e Volante — nas planilhas da Odebrecht.
- Irritado com as traições, como a de Jereissati ontem, Temer pode resistir e deteriorar ainda mais o ambiente, político ou financeiro, sacrificando os ganhos ainda que parcos em que os investidores de Brasília apostam.
Data determinante para o início do grande pregão é o da reunião da Comissão de Constituição e Justiça, na próxima semana, que vai votar o relatório do tal relator independente Sérgio Zveiter.
Se a denúncia for aceita e for para o plenário, onde se dará um processo como o do impeachment, os investidores podem começar a comemorar o prejuízo. Calculado.
cristiano marques diz
E Moreira Franco, o primeiro sogro
, como fica nesta história toda?
Se Rodrigo Maia estiver traindo, sogro traído é o último a saber?
P: Zveiter independente?
Esta Coca é Fanta.