Henrique Meirelles ainda era presidente mundial do BankBoston quando contou numa palestra em São Paulo, no início dos 2.000, que pegara um táxi numa cidade alemã de que não me lembro.
O motorista bem vestido, formal e educado, em um tempo que não havia o Uber que internacionalizou a gentileza, lhe perguntou se queria janela aberta, som, ar condicionado e informações sobre os prédios, parques e monumentos por que iam passando.
Pegara outro, tempos depois, em Bogotá.
O sujeito ao volante, suado, mal vestido e falante, disparou a falar de calor e de futebol logo de saída e ocupou o resto da viagem dando aulas sobre o governo, os políticos, a corrupção, a alta dos preços e a qualidade dos serviços públicos. Tudo, menos sobre o que dizia respeito ao serviço que estava prestando.
Os exemplos deram base para sua explanação sobre eficiência, foco no resultado e o que faz a diferença nas empresas e serve também para entender por que certos países dão certo e outros, não.
Imagino que o hoje ministro da Fazenda do governo Temer, senhor do mundo que se sentou à mesa de grandes líderes mundiais na condição de presidente de um dos maiores bancos privados do mundo, deve estar se sentindo um taxista alemão em Brasília num engarrafamento de taxistas colombianos.
Tem participado de entrevistas e rodas de conversas inesgotáveis para ensinar a técnicos, políticos, líderes sindicais, agentes econômicos e jornalistas a matemática simples de que não se pode gastar mais do que se arrecada e, como em qualquer negócio, não se cresce sem contas saneadas.
É uma algaravia de gente barulhenta e estressada, agarrada a seus interesses pessoais e apressada para dividir o butim de um governo que mal começou, dividida em grandes discussões sobre se as pastas devem ter ou não negros, mulheres e gays.
Surpreendentemente, parece feliz como pinto no lixo.
Carreira pública
Deputado eleito por Goiás e licenciado para dirigir o Banco Central de Lula, que o queria logo no início do governo Dilma, parece ter aguardado desde então com ansiedade a oportunidade de provar seus méritos de iniciativa privada no exercício de uma carreira pública que produzisse resultados objetivos para o grosso da população.
Deve pretender encerrar sua carreira com serviços prestados ao país e não às empresas que ajudou a alavancar. E operar com dedicação para inserir esse país de taxistas mal educados na nova ordem mundial em que a ideologia que conta é a da rapidez, da seriedade e da eficiência.
Na mesma palestra, ele contou que, ainda na presidência do BankBoston, fez viagens pelo interior dos EUA atrás de pequenos empreendedores de desempenho surpreendente nos cadastros do banco.
Descobriu duas mocinhas recém-formadas que tocavam uma confecção de rentabilidade acima dos padrões do ramo, manejando um negócio sem funcionários que contratava online designers na Itália, bordadeiras em Israel e logística no Canadá.
Linhagem de políticos
Foi seu grande insight sobre globalização, intercessão dos mercados e as potencialidades infinitas do novo mercado eletrônico para alavancar pessoas, ideias e projetos no mundo todo.
E certamente como algo do tipo seria inaplicável no país em que taxistas tratam motorista de Uber a pancada e um sindicalismo século XIX que senta em cima de qualquer tentativa de reforma para dar flexibilidade e racionalidade às leis trabalhistas.
Pois é esse senhor de inserção planetária, executivo completo com experiência de sobra em administração privada, competência indiscutível para escalar técnicos, delegar e cobrar, com jogo de cintura da linhagem de políticos da família, que o país está tendo a oportunidade de ter à frente de suas contas e de seu projeto de modernização.
Difícil imaginar que pudéssemos achar alguém melhor e tão à vontade, como parece, para enfrentar tanta dificuldade, equilibrar tanto interesse disperso e enfrentar tanto taxista de Bogotá gritando ao mesmo tempo.
Tomara que dê conta, que dê a volta por cima e viva muito para prestar grandes serviços ao país.
Se estiver querendo ser candidato a presidente em 2018, como sempre acaba acontecendo, que seja.
Alexandre Resende Rodrigues diz
Todos temos uma historinha de alguém que foi para o exterior e voltou enfeitiçado pela educação e organização de outros povos, mas assim que desembarcou no Brasil voltou a ser brasileiro sem educação, sem organização, sem caráter e é assim com Meireles também, ele vai ser brasileiro de novo, precisa dar oportunidade para alguém desconhecido pq os que conhecemos são mais do mesmo, chega de brasileiros alegres e hospitaleiros, agora precisamos dos sérios e honestos.
Leonardo Fernandes diz
Extremamente preconceituoso e extremamente ingênuo esse analista. Ou talvez não seja ingênuo. Seria mais para má-fé já que desconhece ou finge desconhecer que o atual ministro cumprirá o mesmo papel que já cumpriu anteriormente. A banca financeira agradece com lágrimas nos olhos…
Rafael Augusto Ramos diz
Materia boa porém achei um pouco preconceituoso o titulo
Gilney Guimarães diz
Uma das poucas atitudes conscientes do Lula foi exatamente ter o Meirelles em seu ministério e quis que a Dilma também o chamasse. Então porque que estes esquerdistas ficam ai o criticando de esquecer os trabalhadores? Ou será que o Lula não é nada esquerdista e só fazia fachada? Queiram ou não, gostem ou não, o Brasil vai parar de despencar ladeira a baixo. Este equipe juvenil anterior, que era da pior espécie, nos levou para este buraco que a população ainda não tem noção, a não ser os que já estão desempregados que estão a beira do desespero. Outra detalhe importante, quem assumiu o governo não foi a oposição. Foram os ex-amigos do PT. Temer foi convidado nas duas vezes para vice presidente. Só que ele, por estas injustiças e falhas do nosso sistema eleitoral é muito mais preparado, mais experiente, com uma formação acadêmica muito melhor, com muito mais conhecimento, com muito mais cultura e muito mais educado que a Presidente. Enquanto tivermos este sistema eleitoral e esta população, em sua maior parte, carente, sem cultura, sem senso crítico político nenhum, massa de manobra, teremos o risco de termos no futuro, estes arroubos da natureza nos governando. O PT mostrou-se competente demais em se beneficiar destas características. Tem em seus pilares de atuação, a propaganda,( geralmente enganosa), a mentira contada repetidamente, a política assistencialista mantenedora de uma pobreza relativa e uma falsa nova classe média.
Célton diz
AFF!!!
FLAMMARION FINOTI DE OLIVEIRA diz
Lobo em pele de cordeiro! Já esteve no poder em outras ocasiões. Sempre que há uma crise os trabalhadores são sempre sacrificados e vem aquele discurso de que o povo tem que fazer a sua parte. Isso para que quadrilhas de políticos corruptos e de empresários sem escrúpulos se deitem nas costas do povo. Que adianta cortar na carne do povo enquanto o grosso do dinheiro sai nas obras hiperfaturadas, propinas, desvios, cabides de emprego? Ele pode ter boas intenções, mas está em outra quadrilha agora é vai fazer o que as quadrilhas fazem!
Roberto Jardim diz
O problema do ministro é tudo que o rodeia de muito perto. Os piores corruptos do mundo, disfarçados de pastores evangélicos, narcotraficante disfarçado de empresário. Nossa constituição nos encheu de direitos mas se esqueceu de forçar o estado a prestá-los punindo nossos dirigentes que não cumprem seus deveres. Se um cidadão comete um crime passível de multa, com certeza será multado, mas se a pena for prisão, certamente não ficará na cadeia. É um estado arrecadador que não protege os seus cidadãos.