Profissionais de marketing e políticos experientes disseram no início do ano que essa eleição, que se prometia sanguinária, seria campo fértil para um candidato maduro, experiente e pacificador.
Fernando Haddad, jovem mas experiente, por força das circunstâncias, começa a construir o figurino de pacificador com que pretende se contrapor a Jair Bolsonaro, segundo última decisão da cúpula de seu partido.
Admitiu em sabatina da Folha de S. Paulo que o segundo turno será um disputa de rejeições — anti-petismo e anti-bolsonarismo — e quer operar contra isso.
Detentor exclusivo da patente de radicalização que rachou o país, o PT tem autoridade de desfazê-la se de fato se dispuser a isso. E Haddad tem pinta para tanto.
Tanto que é mal visto pela ala majoritária e radical do partido, que o acha meio tucano. Como em certo tempo achou o mesmo de Fernando Pimentel. A mesma que orbita em torno de Lula, o mestre criador dessa patente — em décadas de demonização da elite desde o berço do ABC —que custou a digerir a sua candidatura.
Para isso, por decisão dessa cúpula,
- já lançou pontes até para o PSDB, que tem um Fernando Henrique Cardoso que gosta dele,
- tem dado entrevistas serenas onde ameniza a política anti-econômica do seu estatismo de berço,
- não nega que vá privatizar alguma coisa, de forma a não torturar os ouvidos do mercado,
- anuncia que sua campanha será a civilização contra a barbárie, em referência ao que seria o atraso configurado em Jair Bolsonaro,
- não bate de frente nem com o adversário e nem com a Justiça, deixando para as tropas virtuais o serviço de fazê-lo.
Faria ainda melhor se tivesse a ousadia de vir a público e dizer com todas as letras que:
— Nós fazemos a autocrítica de termos dividido o país entre “nós e eles”, mas nos penitenciamos e queremos construir um novo país, de paz, trabalho e prosperidade, etc.
O primeiro problema é que é mas fácil um petista ir preso do que fazer autocrítica.
Segundo, como sempre, o partido é quem manda. Como foi no primeiro governo Lula, comandado a partir da Casa Civil por José Dirceu. E tem um histórico terrível de criar dificuldades para seus governantes. Lula é o único que tem domínio sobre suas diferentes alas e, se aceitou ser comandado por José Dirceu até certa altura, é porque lhe convinha.
Haddad não é experiente para tanto. Pode posar de cordeiro agora, como Lula posou na campanha de 20o2, mas pode não ter força para domar as garras da turma quando — e se — chegar lá.
Como tocar um governo pacificador com José Dirceu, Gleisi Hoffman, Lindbergh Farias e Franklin Martins, para lembrar só esses, dando as cartas?
Marketing de Bolsonaro visa Lula
Chama na “live” de Bolsonaro direto do hospital, com quase 5 milhões de visualizações em 24 horas só no Facebook, que ele salta sobre Haddad e busca polarização direta com Lula.
É o único dos candidatos à direita que viu na desconstrução do ex-presidente o alvo certo para crescer nas pesquisas. Nenhuma outra abordagem lhe parece mais óbvia para explorar o anti-petismo que parece majoritário hoje.
Com isso, já bateu 33% na do BTG/Pactual de anteontem, 28,2% na da CNT/MDA de ontem. Já quase 80% de voto consolidado.
Com medo de bater em Lula e na ilusão de atrair alguma parte do espólio do petista, as alternativas pelo centro direita — Alckmin, Álvaro, Meirelles —só desabaram.
Quem polarizou, só ele, levou.
Elias Josevaldo diz
E? Esquece o PT, cara. É patético usar o PT para atrair a audiência de boçais.
Mas claro, você precisa de cliques nas notícias né? hahaha, jornalismo brasileiro realmente é patético, se é que podemos chamar isso de ‘jornalismo’.