A sabatina de Marina Silva no Jornal Nacional só não foi mais tranquila porque William Bonner e Renata Vasconcellos tendem a tumultuar. Perguntam, interrompem, provocam e se desviam do assunto quando o entrevistado começa a concatenar o raciocínio e convencê-los.
A tendência de flagrar contradições a partir de frases fora de contexto ou irrelevâncias do passado ficou mais clara com Marina, porque, reconheça-se, tem uma vida de poucas contradições e nenhuma grave.
Se houve algum tumulto, é porque os dois apresentadores foram, como nas outras entrevistas, apressados, detalhistas e um tanto quanto moralistas.
Qualquer adulto sabe que, quando ela apoiou Aécio Neves e Eduardo Campos, hoje delatado apesar de morto, não havia as informações de hoje.
Como muito bem sugeriu, a maioria dos 51 milhões que votou nele — quem sabe Bonner, quem sabe Renata — também não votaria se tivesse as informações de que se dispõe agora.
Suas alianças regionais hoje com partidos que condena — do PT ao MDB — foi a única saia justa de relevo.
Saiu-se mais ou menos bem dizendo que leva em conta a trajetória dos candidatos, porque não se pode generalizar a respeito dos partidos. “Em todos, há bons quadros.” Mas, neste ponto, esqueceram de perguntar por que, quando lhe interessou, ela generalizou contra todos no passado?
Sua capacidade de liderança, dado certo esvaziamento de seu partido e sua incapacidade de turbiná-lo com boas alianças, foi uma insistência dos apresentadores que não pegou por falta de apoio na realidade.
No seu melhor momento, ainda que muito interrompida, demonstrou que foi sua liderança que permitiu conciliar interesses de todos os lados e liberar a maior parte dos grandes licenciamentos ambientais para hidrelétricas, quando ministra de Lula. É o contrário da fama de xiita ambiental que já teve.
É difícil ficar contra Marina, que tem uma carreira bonita, uma funda disposição democrática e um discurso consequente. Sua fragilidade, que Renata tentou explorar no início, que me parece a mais grave, é a mania de “debater” tudo.
Por uma herança de sua história sindical junto com o PT que, como se dizia, se reunia para discutir até quem vai bater um prego, tende à generalização, evita propostas claras e dificilmente trata de questões macro. Está sempre propondo debates, plebiscitos, planos.
É o que mais debilita essa professora que só perdeu o jeito de freira porque soltou um pouco o cabelo colado no couro cabeludo desde que saiu do seringal. Foi a grande novidade estética de um jeito franzino que sugere fragilidade para os grandes desafios que se colocam, apesar de sua história em contrário.
Ganha corpo quando discursa, como no ótimo minuto de despedida. Mas continua deixando a impressão de que é frágil para a tarefa.
Tiro no pé para Alckmin
Se o JN foi bom Ciro, ótimo para Bolsonaro e mas ou menos para Marina, foi quase um tiro no pé para Alckmin.
Bonner e Renata o espremeram sobre corrupção por 17 dos 27 minutos, suas alianças perigosas com o Centrão, suas contradições de defender ética sem ter expulsado filiados réus ou condenados, como Aécio Neves e Eduardo Azeredo, e suas mal explicadas verbas de campanha.
Nos dez que faltaram, procuraram desconstruir tudo o que ele tem por apresentar de favorável como governador de São Paulo.
O estado tem de fato obras e números vistosos, as contas mais ajustadas e os melhores índices de redução de criminalidade do Brasil, mas valeu a tática de pegar uma exceção para bombardear o todo.
— Ah, mas o TCU encontrou irregularidades no contrato tal…
Para aparecer no Jornal Nacional, é bom estar limpinho e não ser vitrine. Geraldo fez pouco da opinião pública sobre o risco das suas alianças, confiando que seu tempo exagerado no horário eleitoral vai apagar tudo. Enquanto aguarda o horário eleitoral, talvez fosse melhor ficar na moita.
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