Ciro Gomes já armou suas baterias ontem, demarcando como pretende tratar Lula e o PT daqui pra frente em resposta à manobra do chefão petista de tirar-lhe o PSB e alguns segundos de TV, mesmo ao custo de sacrificar aliados.
— Ninguém pode falar em golpe e praticar o golpe — disse à noite, na entrada de um seminário em São Paulo, para emendar: — o PT tem a natureza do escorpião e é um dos grandes responsáveis pela tragédia brasileira.
Sobre Lula em especial, sobre quem já disse ter sido fiel por 16 anos sem um dia de dúvida, cutucou:
— Não sei o que fiz para para merecer um tratamento tão desleal e tão traiçoeiro. Esse (tipo de) comportamento está na base moral da corrupção.
A estratégia de Lula incluiu o apoio do PT aos candidatos do PSB nos estados de Amapá, Amazonas, Paraíba e Pernambuco, que implicou na retirada traumática da candidatura da promissora petista Marília Arraes em favor da reeleição do pessebista Paulo Câmara em Pernambuco.
Uma violência de oligarquia com uma jovem que está começando a vida, segundo Ciro:
— Cortar o pescoço de uma jovem pernambucana, politizada, nunca vi coisa igual.
Em troca, o PSB entregou a promessa de neutralidade na eleição presidencial e algumas cabeças, como a do candidato também promissor em Minas, o ex-prefeito da capital Márcio Lacerda.
Lula nunca precisou pagar grandes moedas pelos sacrifícios de companheiros que foi fazendo pelo caminho em nome da unidade do partido e de suas vitórias eleitorais. O único erro grave de avaliação que a história registra e quase lhe custou a carreira foi a fritura de Roberto Jefferson, que redundou no Mensalão.
Se está pagando o preço, é porque deve ter calculado a fatura. E pode ter colocado na conta que Ciro é mais forte do que aparenta e concorrente mais promissor a ocupar o seu lugar no coração do nordestino.
Um erro fora do cálculo agora pode ser subestimar o potencial de estrago de um orador contundente e sem meias palavras, experiente e manhoso, que tem mais do que confidências a esconder dos 16 anos de fidelidade a seu atual traidor. E que ainda não está morto.
Frituras, como se sabe na grelha do restaurante político, só funcionam com cachorros mortos ou quase.
O MDB de Meirelles
Banqueiros como Henrique Meirelles avaliam tudo sob a perspectiva de investimento. É o que explica queimar R$ 53 milhões próprios para comprar um MDB só pra si e viabilizar a sua candidatura de 1%. Sem esse gasto, é possível que não levasse o partido pra casa.
Como os dessa classe não dão ponto sem nó, deve estar considerando em troca fortalecer o currículo. Ser candidato a presidente do seu país era o que faltava a seu currículo internacional.
Só não precisava gastar tanto.
[…] Se pesquisasse “lula traiu ciro gomes”, para entender um dos principais imbroglios da última campanha eleitoral, o veria na terceira posição, entre os 84,4 mil resultados, o meu artigo Lula subestima preço da reação de Ciro Gomes a sua traição. […]