Presidente reage com discurso para minorias
O presidente eleito Jair Bolsonaro retomou nesta terça-feira as transmissões pelo Facebook que ajudaram a catapultá-lo para a vitória nas eleições.
Sugerem um reação reflexa às primeiras dificuldades sérias que surgiram no paraíso da transição. Como a que tinha Lula, que punha a militância na rua a cada vez que percebia o ambiente escurecer em Brasília.
Escureceu nessa semana com a denúncia de desvios de salários de servidores do filho Flávio na Assembleia do Rio de Janeiro e o cerco das raposas da política tradicional insatisfeitas com as negociações sem políticos para formação dos Ministérios.
A mistura indigesta sugeriu perda de controle, dúvida se as negociações podem estar no caminho certo e alguma certeza de que o novo presidente eleito fora do establishment não tem base para controlar o Congresso.
Muito menos fazer os presidentes das duas casas, Câmara e Senado. O que abriu o flanco para que os donos do galinheiro — Renan Calheiros no Senado e Rodrigo Maia na Câmara — colocassem o bode de suas campanhas na sala.
Bolsonaro, raposa de sete mandatos, parece saber disso. Chamou os de sempre para conversas isoladas e deixou entrever que pode aceitar líderes de outros partidos.
De certa forma, desautorizou seus elefantinhos em casa de louça da família, que vinham se colocando na temerária tarefa de enfrentar Renan e Maia.
Contato direto pelas redes sociais
Fora isso, parece ter entendido a necessidade de se apoiar no mesmo flanco que o conduziu onde está, o contato direto com o eleitorado através de suas redes sociais, as lives do Facebook por excelência.
Assim como Lula procurava falar a seu modo, diretamente com o eleitorado, a cada aperto, ele fez o mesmo. Também a seu modo.
Ainda também como Lula, que visava as minorias nessas incursões, o discurso de Bolsonaro nessas redes também foca as minorias. Não na forma de colocar o governo a serviço delas, mas, pelo contrário, tirar o Estado do cangote delas.
Na live de ontem, ele falou para empreendedores irritados com órgãos ambientais que não vai assinar o Acordo de Paris para o clima. Prometeu aos índios que poderão explorar comercialmente suas reservas. Garantiu a desempregados que vai restringir a entrada de imigrantes como os venezuelanos.
Problema é que, enquanto isso, Renan e Maia continuam cavoucando o chão pantonoso de Brasília, onde não é preciso falar nada e prometer muito.
Onde manda quem pode e obedece quem tem juízo. E o comando de um porto ou um cargo bem localizado numa estatal valem mais que mil palavras no vento das redes.
É a demonstração de força que o novo presidente tem para testar a força já testada dos dois. A ver.
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