Já foi o tempo que o jornalismo de denúncia dependia de provas concretas.
Com a Lava Jato e uma fé um tanto sem dúvidas no trabalho dos procuradores, os grandes veículos de comunicação tem tomado indícios como suficientes para denunciar autoridades.
É um tipo de jornalismo premonitório, que trabalha com a certeza um tanto mediúnica de que, dada a riqueza de sinais, alguma coisa séria vai acontecer.
Líder nesse tipo método, a revista Veja colocou na capa desta semana o ministro do STF, Dias Toffoli, sob a acusação de que “pode” ter merecido a reforma de sua casa em Brasília do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, o mesmo que reformou o triplex e o sítio de Lula.
A denúncia se assenta em um dos anexos do pedido de delação do empreiteiro, em negociação com os procuradores. Como a própria matéria diz em três diferentes pontos, “é sinal de que algo subterrâneo está para vir”, “é sugestão de que algo grave está por vir” ou, mais especificamente:
“Delegados envolvidos na investigação, ex-ministros do STF, procuradores da República e advogados ouvidos por Veja são unânimes em afirmar que o relato feito por Léo Pinheiro no anexo, tal como está, apenas constrange Toffoli. Mas ele sinaliza que, na hora do detalhamento de uma delação homologada, haverá cheiro de enxofre no ar.”
É o jornalismo do que pode acontecer.
Para fortalecer seus argumentos, a revista lista alguns indícios nada desprezíveis arrolados pelos procuradores:
- O engenheiro foi indicado pela OAS e fez o trabalho de graça, sem saber de quem era a casa.
- Trocas de mensagem indicam que o empreiteiro esteve na casa do ministro em outra ocasião, para tratar de negócios do seu interesse, lhe enviou presente e cogitou ir à sua festa de aniversário.
- Empreiteiro recorria ao ministro para encaminhar pendências junto à Advocacia Geral da União, que Toffoli comandou antes de ser nomeado ministro do Supremo, em 2009, e pelo menos de uma obra no aeroporto de Guarulhos, de um conjunto de empreiteiras para as quais o ministro havia advogado, em 2005.
- Advogado do PT e de empreiteiros, o ministro votou pela absolvição de José Dirceu no processo do Mensalão e pediu para se transferir da Primeira para a Segunda Turma do STF que julga os casos da Lava Jato.
- Ali, votou a favor da revogação da prisão preventiva de nove empreiteiros, incluindo Léo Pinheiro.
A revista não estabelece relações que seriam inevitáveis entre o vazamento do anexo da delação e o fato de ele ter revogado há poucas semanas a prisão preventiva de Paulo Bernardo, sobre quem a PF tinha, não indícios, mas provas. Como ministro do Planejamento, atuou para a contratação da Consist, que repassou parte da taxa recebida de todas as operações de crédito consignado para o PT e a campanha de sua mulher, a senadora Gleisi Hoffman.
A omissão tem a ver com um dos problemas do método.
Jornalismo premonitório
A publicação pode ser manipulada pelos interessados no jogo político, como foi no passado quando José Dirceu usava denúncias e procuradores afoitos para esquentar o processo de impeachment de Fernando Collor de Melo ou por Marcos Valério para mandar recado de que tinha denúncia pesada contra Lula, que não apresentou. Pelo menos à revista, numa matéria de indícios que ficou famosa pelas promessas de futuro.
Cria do modelo americano, pautado na liberdade absoluta de pensamento e na ideia de que figura pública não tem direito a sigilo, o jornalismo de indício acaba porém acertando mais do que errando. E se firma como contraponto ao antigo, meio de compadrio, um tanto conivente com quem está no poder, pelo menos no Brasil.
A maior parte das premonições de Veja, apesar de irritantes, acabaram se comprovando. É de se contar nos dedos de uma mão seus vexames, como os recursos milionários inexistentes descobertos nas contas do deputado Ibsen Pinheiro, no início dos 90, e do senador e ex-jogador Romário, recentemente.
O de que Lula estaria conspirando para pedir asilo em países amigos de seu governo, que também mereceu capa, ainda está por se comprovar. Se Lula mudar de ideia e resolver corresponder às expectativas da revista.
Me lembra a história da rainha Vitória, empolgada com a manchete do Times de que a Força Britânica havia ganho mais uma batalha nas guerras de conquista na África. Alertada por um general de que havia um equívoco, telegramas chegavam com informação contrária, de uma derrota, ela mandou, mais ou menos assim:
— Então tratem de voltar a ganhar a batalha. O Times não pode mentir.
Ramon da Silva Drumond diz
Onde há fumaça, há fogo. Ou Planet Hemp !!!
Carlos Macieira diz
Para um cara como este chegar ao Supremo alguma coisa ele deu em contrapartida!!!!
Carlos Macieira diz
Para um cara como este chegar ao Supremo alguma coisa ele deu contrapartida!!!!
Din diz
Quem não é idiota, sabe q Imprensa, quase, senão toda, tem lado. Só q no Brasil, o peso de cada uma é o q diferencia na influência. A Globo, Band, SBT e a Veja, por ex. deixam claro de q lado estão. Imparcialidade nas comunicações, é sonho de uma ética q não existe. Tóffoli estão ligando ao PT e já condenando; Gilmar escancara suas predileções partidárias, é posto em várias situações de suspeição e estes meios de comunicação silenciam…então, o q nos resta senão assitir impotentes ao q o poder nos impõe? No Brasil é assim…a verdade aparece, mas os interesses é o q prevalece.
Jorjão diz
Neste país existe este tipo de jornalismo, sem checar a veracidade das informações é porque as indenizações são irrisórias diante dos estragos feitos pelas reportagens. O bolso é a parte mais sensível do ser humano….
Marcus Vinicius diz
A situação principal é: ele não deveria estar lá. Não preenche critérios para o cargo e as atuações profissionais do passado servem suficientemente para balizar qualquer denúncia.
Deitou nesta cama, agora aguente.
laertes duca diz
O “denuncismo” foi criado na imprensa desde Collor de Melo. Qualquer rumor vira notícia, furo jornalístico, etc. Toda fofoca é válida na ânsia de ser o primeiro a noticiar. Hoje nem mais podemos dar crédito nas informações colhidas na net. Deveria haver uma orientação mais rígida na hora de divulgar. Confirmar com outras fontes e com a própria. Consultar antes de afirmar. Denúncia vazia não promove o jornal, nem o leitor e menos ainda o denunciado. Atenção ao ler e, principalmente, no JULGAR.
João Faria diz
Não é só a Veja. Todo o jornalismo de direita e os blogs “limpos” também adotam esta postura. Pior, esta manipulação tem em uma ponta o MP na outra a imprensa. Alienados são aqueles que acreditam nestas “manchetes premonitórias”. Parece também que o objetivo desta última manchete da Veja e anular a delação da OAS para preservar com isso Aécio e outros tucanos. Prestem atenção.
Adriana diz
Muito boa análise, Ramiro. A Veja, como todo o resto, incluindo os blogs sujos, são a cara da falência do jornalismom Alguns servem apenas para os jogos de poder, como vc bem destacou. E nisso cumprem até um papel importante.
Mas não é este o papel da imprensa.
Fernando diz
O Estado de Minas faz o mesmo tipo de jornalismo. Nesta matéria vcs dizem acima que o sítio e o triplex são do Lula.
Ora, não tem nem uma semana que a PF lançou o relatório do caso Triplex e o nome do Lula sequer aparece.
A PF.
Nem essa declaração de inocência do Lula vcs consideraram.
Cadeia para os corruptos e corruptores que vcs sempre defenderam, bem para aqueles supostos jornalistas que não sabem o que é jornalismo.
Giovanni diz
UAI, vocês fazem parte da mídia comprada. Esquerdopatas. preferem adotar uma dese de defesa explicita da marionete Toffoli. Na linha editorial de vocês, o “Novo Jornalismo de Indício e Premonição” não vale nada. Deve valer mais é a carteirinha do PT que seus editores tem nas carteiras. Aliás, recheadas com um dinheiro que, adivinhem, também veio desses mesmos governos do PT. Lamentável…
Mario diz
Este, nem curriculum tem para estar onde está! Demorou alguém denunciá-lo!