Há uma virada de jogo nos métodos do Judiciário.
- A Procuradoria Geral da República conseguiu fazer com que os irmãos Batista aceitassem a proposta de R$ 10,3 bilhões de multa em troca do acordo de leniência que resgata a holding JB&F perante o governo e seus credores. O acordo começou numa proposta pífia de R$ 1 bilhão e foi saltando de patamar rapidamente — 4, 6, 8 bilhões — na proporção inversa do interesse dos procuradores em uma negociação.
- Do outro lado da praça, os ministros da Segunda Turma do STF que soltaram José Dirceu — com os votos de Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovski — deram um meio cavalo de pau e negaram a extensão do entendimento a réus envolvidos em trapalhadas semelhantes e até no mesmo processo do ex-todo ministro da Casa Civil. O revisor Toffoli descobriu dessemelhanças que justificassem manter a prisão dos co-réus, naquele tipo de elaboração sofisticada que, dependendo a hora, da inspiração e das circunstâncias, serve para prender ou soltar.
- O relator da Lava Jato, Edson Fachin, rejeitou os prazos pedidos pela defesa do presidente Michel Temer, interessada em adiar o depoimento do presidente com a Polícia Federal e tantos procedimentos quanto forem necessários para lhe dar sobrevida.
Entre uma coisa e outra, procuradores e ministros deram uma atarrachada no parafuso para contornar a grande decepção nacional que provocaram ao cometer os primeiros grandes baques contra a Lava Jato que os políticos, sozinhos, não conseguiriam.
O maior deles, a negociação benévola que garantiu liberdade, fuga garantida e estadia 5 estrelas em Nova York ao segundo maior corrupto da história, depois de Marcelo Odebrecht, e abriram a guarda para os maiores e de certa forma consequentes ataques à operação.
Como disse Tati Bernardi, colunista da Folha de S. Paulo que só entra em política quando ela lhe atinge o fígado:
— A lição que fica, diariamente, é que se você for um merda, mas dedurar o bosta, estará livre para nunca mais voltar pro esgoto.
Embora o procurador tenha elencado uma penca de bons argumentos para aceitar os termos do delator diante do tamanho das provas e de certa ameaça de morte, não se conseguiu a afastar a desconfiança de que, no mínimo, negociou mal.
Diante de um acusado enrolado em pelo menos três operações policiais grandes, qualquer outro negociador menos talentoso lhe daria mais corda para se enforcar.
— Tudo bem, vamos aguardar os desdobramentos das investigações.
E, no limite, negociar-se-ia — com ou sem mesóclise — pelo menos uma cadeiazinha leve, como a de Marcelo Odebrecht, para salvar as aparências.
Grande prova de que pode ter negociado mal é que, pela primeira vez, diante do tamanho da decepção nacional, se sentiu instado a se defender em um artigo de jornal, para a Folha de S. Paulo. Não fez mea culpa, mas quase.
Outra é que os procuradores que apertam o parafuso agora acenam para a possibilidade de Joesley Batista ser condenado nos processos da Comissão de Valores Mobiliários por operações suspeitas na véspera da delação. Seus colegas em campanha para substituir Janot chegam a dizer que podem revogar a negociação que acabou em Nova York.
Da parte do STF, o baque da libertação de José Dirceu perdeu em tamanho para a pressa do ministro Fachin de liberar sem perícia o áudio em que o presidente da República foi gravado em conversas suspeitas de madrugada com o delator. Pior, o de conversas desnecessárias às investigações, como a que fez um estrago na vida do jornalista Reinaldo Azevedo, gravado em conversa sem importância com Andrea Neves.
Bom do Judiciário é que, pelo menos e ainda, seus membros são sensíveis à opinião pública e não têm dificuldade de recuar e corrigir em seus erros. E tendem a evitar novos diante da má repercussão.
Um despreendimento que os políticos perderam já bom tempo.
Demissão pela imprensa
Osmar Serraglio não gastou 20 palavras na nota em que recusa o convite de Michel Temer de ir para outro Ministério, a fim de garantir o foro privilegiado do deputado da mala, Rodrigo Loures.
Foi uma doce vingança por ter ficado sabendo de sua demissão pela imprensa, num dos erros táticos mais simplórios — e fora dos padrões — de Temer.
Não deve estar nos seus melhores dias.
Meme de espírito de porco
Todo staff presidencial tem sempre um espírito de porco para orientar o presidente a fazer uma besteira em comunicação.
Como demoram a pegar a manha da área, os presidentes cometem besteiras primárias como essa de proibir o uso de fotos oficiais em memes, que virou vexame internacional no New York Times.
E alguém precisa de foto oficial para piada, aliás quase sempre muito óbvias? Quem vai controlar? Como?
A não ser que o governo esteja pensando em criar um Ministério para gerir o problema.
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