Os Estados Unidos tem um avião chamado drone, não tripulado, guiado pelo mais sofisticado sistema de controle remoto. Ele permite que dois soldados em terra, em salas de ar refrigerado (foto), sem sair de casa, cacem, fotografem e bombardeiem com precisão alvos humanos em qualquer parte do mundo.
A justificativa para sua existência é que o Congresso americano autorizou.
Mais ou menos como se o Congresso brasileiro autorizasse a FAB a mandar aviões teleguiados sobre a Colômbia fuzilar traficantes ou sobre a Argentina, para destruir bases nacionalizadas da Petrobras ou, como estamos no país do futebol, espionar treinadores da seleção argentina.
A dimensão ética dessa interferência, como se os deputados americanos tivessem jurisprudência sobre o resto do mundo, está no DNA do modo estadunidense de lidar com o mundo desde que decidiram que devem proteger seus negócios fora do país. E não deveria surpreender quando o presidente vem a público admitir que seu governo vasculha a vida de cidadãos em qualquer parte do mundo, em conluio com as gigantes da internet. Com uma boa frase de efeito:
– Não se pode ter 100% de segurança, 100% de privacidade e zero por cento de inconveniente.
O que o novo episódio explica é que, quanto maior, melhor e mais avançada a tecnologia, mais esse DNA pode ser testado e expandido. Natural que a internet, que sistematizou e acelerou todos os processos, também servisse, claro, para modernizar o modelo de expansão desse império moderno.
Foi a tecnologia, aliás, desde sempre, que criou e impulsionou impérios – a navegação para os marítimos, a máquina a vapor para os ingleses, a indústria de armas para os americanos, para não irmos mais longe.
Cruzar e invadir dado alheio, no Facebook, no Google ou no cartão de crédito, como se sabe, não é privilégio dos Estados Unidos. É de quase toda organização que quer conhecer e controlar os desejos de quem quer que dedilhe alguma coisa em computadores, tablets ou smartphones.
Tem guerra que mata e tem guerra que não. A tecnologia favorece ambas.
Deixe um comentário