Toda vez que há um manifestação violenta é assim.
Na falta de um rosto para culpar pelas depredações, a grande imprensa generaliza a culpa numa expressão vaga — “vândalos” —, responsabiliza mais ou menos um culpado genérico — “os partidos e movimentos de esquerda” — e pega pesado com os únicos rostos de que dispõe, o das autoridades encarregadas de zelar pela segurança.
Melhor ainda se conseguir o caso isolado de um policial, agente do Estado, se excedendo em tiros e/ou pancadas contra um manifestante ou um fotógrafo. Fica-se sabendo muito bem e justamente quem é o policial, o governo responsável por ele, mas não quem é o manifestante predador.
Mais ou menos como na guerra do tráfico no Rio. Houve um tempo em que a culpa da bala perdida em trocas de tiros na favela era sempre da polícia. Depois a coisa evoluiu para ouvir o secretário de Segurança e o governador sobre as responsabilidades compartilhadas. Como é complicado pegar o bandido, entrevistá-lo e fotografá-lo, o material disponível só permite dar destaque às responsabilidades do governo.
Com Brasília nesta semana, não foi diferente.
Depois da arruaça que pôs fogo na cidade e quebrou alguns ministérios, os destaques foram o policial que atirou, o governador que não se preparou, o presidente da Câmara que pediu a Guarda Nacional, o presidente da República que convocou o Exército, o ministro que vacilou ao explicar por que foi preciso chamar um contingente que desse conta do que a PM local não deu. Tudo emoldurado pela grande discussão se o Exército deveria ou não ser convocado.
E os oito manifestantes presos? Quem são? De onde vieram? Como chegaram? Quem os mobilizou? Quem os contratou? Cadê seus rostos? Descobri-los e expô-los seria uma grande contribuição à gênese desses movimentos e do grau de infiltração ou manipulação dentro deles. Mas qual?
A grande imprensa não quer, não consegue ou não sabe porque perdeu há algumas décadas a missão da reportagem, de catar um rosto na multidão para ir atrás da história. Foi ficando oficialesca, cada vez mais dependente do que sai dos gabinetes do poder, dos releases às conspirações de corredor.
Gilberto Dimenstein, um estudioso do assunto, abordou isso em artigo já no início dos 90, quando percebeu que os jornais só tinham vivacidade de terça a quinta-feira, quando Brasília funcionava. No resto da semana, estavam desabituados de saírem às ruas. De lá pra cá, a coisa só piorou.
Não acredito que seja só pelo empobrecimento da indústria jornalística que limitou os recursos para investigação. Mas por um certo comodismo mesmo, atávico pelo hábito dos corredores e agora — mais ainda — pelas facilidades da internet em que é possível editar um bom material de cobertura sentado na redação, selecionando fotos abundantes e gratuitas dos internautas.
Daí que a limpeza da Cracolândia pelo prefeito João Doria acabou um grande debate político de gabinete que chegou a artigos sobre a guinada direitista do prefeito, traduzida na exoneração de secretários tidos como progressistas. A cobertura local é um tanto aérea, como se fosse feita de helicóptero, sobre a multidão de zumbis dispersos pela expulsão.
De novo a pergunta: quem estava lá na Cracolândia? Eram só drogados coitados, sem família? Quem foi preso? De onde veio? Como chegou ali? Qual sua responsabilidade naquela indústria? Qual o grau de infiltração e manipulação? Cadê a história por trás do fato?
O mesmo se pode perguntar sobre o ataque a índios gamelas por fazendeiros, no Maranhão, no final de abril. Ficou-se sabendo muito sobre as posições do secretário estadual de Direitos Humanos, da Comissão Pastoral da Terra e da Funai e quase nada sobre quem atacou e quem ficou ferido. Quantos índios e quantos posseiros? Quem eram? Cadê o rosto? Como chegaram ali? Quem levou? Quem contratou? Qual o grau… etc? Cadê a história?
E o mesmo que vivo me perguntando a cada vez que se fala em medidas de retirada de sem teto das ruas das capitais.
O debate é sempre genérico em torno de soluções gastas, como abrigos, sem levar em consideração que não são apenas deserdados que estão nas ruas. Boa parte trabalha, ganha mais do que um peão de obra em pequenos serviços de lava e guarda carro, e só não volta para casa porque não está disposto a pagar um valor de passagem ultrajante, que chega a metade um salário mínimo ao mês.
Mas a imprensa, infelizmente, nada pode fazer para esclarecer o quadro. Porque ainda está nos gabinetes e corredores do poder.
Estratégia da mala
Alguém me explica a estratégia do deputado Rocha Loures.
Entendi até a hora em que devolveu a mala faltando R$ 35 mil. Quem iria provar que tinha 500 mil, se nem ele e nem o delator conferiram na hora da entrega?
Mas, quando devolve o restante, sinaliza que tentou ficar com a grana, mas devolveu quando percebeu que descobririam. É isso?
Tenentes de toga
Excelente artigo de Reinaldo Azevedo na Folha de S. Paulo, em sua defesa, comparando essa “era de procuradores e juízes militantes” a um “novo tenentismo”, o movimento de oficiais da década de 20 que não gostavam de políticos e plantaram a semente das ditaduras de Vargas e de 64.
— Carregavam uma ânsia moralista autoritária — escreve, para lembrar que, não por acaso, os generais presidentes Castelo Branco, Médici e Geisel foram tenentes do movimento.
Fui vítima de uma violência, de um crime, que, por enquanto, segue sem criminosos. Conversas minhas, ao telefone, com Andrea Neves foram pinçadas em meio a milhares de gravações. Nada traziam, obviamente, de comprometedor. A PGR diz não ter nada com isso. A PF diz não ter nada com isso. A presidente do STF lembrou a agressão a um direito constitucional: o sigilo da fonte. Também nada com isso!
Então quem tem? Vai ver o culpado sou eu! O ministro Edson Fachin liberou os grampos sem nem saber o que lá iam. Jogou no lixo o Artigo 9º da Lei 9.296, que manda destruir o material que não interessar à investigação. Depois de uma reação de indignação como raramente se viu, pôs de novo parte dos grampos sob sigilo.
Corajosamente, diz que torce para que Michel Temer cumpra seu mandato até o fim e faça as reformas que ninguém terá coragem de fazer.
— Se não fizer a reforma da previdência agora, quem terá coragem de levar essa pauta para o palanque?
edmilson soares diz
Enfim, a sensatez chega a esse jornal. Parabéns pelo artigo.
Para entender a imprensa, é necessário refletir sobre os interesses em jogo e quem a representa.
ELIOMAR GUIMARÃES DA SILVA diz
PARABÉNS A TODOS OS COMENTÁRIOS !!! VEJO QUE AINDA TEMOS MUITAS PESSOAS DESCENTES E HONESTAS NESSE PAÍS. ESSES VÂNDALOS E ARRUACEIROS APROVEITAM A OPORTUNIDADE PARA SUJAR AINDA MAIS A IMAGEM DO NOSSO BRASIL. SE QUISESSEM REALMENTE ALGUM RESULTADO PARA MOSTRAR AOS POLÍTICOS E LADRÕES O QUANTO ESTAMOS REVOLTADOS COM TODA ESSA SAFADEZA E ROUBALHEIRA, TERIAM FEITO DE FORMA LEGAL E ORDEIRA . PORQUE A PARTIR DO MOMENTO EM QUE COMETEM DEPREDAÇÃO E A DESORDEM E ENFRENTAM A POLÍCIA SE TORNAM IGUAIS OU PIORES DO QUE OS POLÍTICOS CORRUPTOS ALÉM DE SEREM MANIPULADOS POR UM GRUPO DE ESQUERDA OU SEJA LÁ O QUE FOR !!
SÓ VAMOS CONSEGUIR RESULTADOS POSITIVOS E MUDAR A CARA DA NOSSA NAÇÃO QUE TANTO AMAMOS E VOLTARMOS A SER UM PAÍS DE RESPEITO, O DIA EM QUE NÓS O POVO BRASILEIRO TIVERMOS UMA CONSCIÊNCIA MORAL DE SÓ ACEITARMOS POLÍTICOS LIMPOS E HONESTOS E DEIXARMOS DE SERMOS VENDIDOS OU COMPRADOS POR BANDIDOS E CORRUPTOS. DEUS ABENÇOE O BRASIL ! UM ABRAÇO A TODOS .
josé alves diz
Na década de 90 a imprensa detonava o Plano Real….O terrorista Franklin Martins era âncora do jornal da Globo e falava mal de tudo,que FHC fazia…Logo depois,com quel esse meliante e sua esposa foram trabalhar?,,,Por isso,somos mesmo tupiniquins…
Vanzesso diz
Parabéns pela coragem. Chega de sermos escravos da mídia. Claro que ainda existe seriedade em alguns veículos de comunicação. E muito fácil culpar a Polícia, mas bom ou ruim, ela é a fronteira entre o caos e ordem. Acabem com a polícia e depois me falem se existirá alguma democracia.
JOSIEL CHAGAS diz
EM SÍNTESE SENHORES; A NOSSA IMPRENSA É TODA MARROM, EXCETO ALGUNS BLOG’S, ELA É TODA COMPRADA, DIRECIONADA, GOVERNISTA OU ANTI GOVERNO.
Cristiano Marques diz
Com relação ao primeiro post, sua observação foi perfeita mas ela tem resposta.
Imprensa é oposição, o resto da histo’ria todos sabemos.
Marcílio Lemos diz
Ramiro, Suas palavras dizem TUDO.
Nossa imprensa já deixou, a muito tempo, de ser imparcial. Defendem bandidos, arruaceiros, posseiros e traficantes. Será que eles ainda não enxergaram que não dá mais Ibope??
Estamos cansados de ver somente a Defesa do Direitos Humanos para bandidos.
Vamos defender os nossos direitos de ir e vir. Vamos defender a Polícia, nos garantindo a Ordem e Progresso!!