Nada tenho contra memes, desde que inteligentes, espirituosos e inofensivos.
O meme é a atualização virtual e tecnológica da velha piada política que o latim abençoou com uma frase feia como é o latim: ridendo castigat mores. Rindo se castigam os costumes.
“Gilmar Mendes acaba de conceder habeas corpus ao homem que esfaqueou Bolsonaro.”
“Eleição sai da fase de grupos e entra na fase do mata-mata.”
“Facada como essa, quando não mata, elege.”“A barriga do Bolsonaro teve mais pontos que o Alckmin.”
O meme, que aqui substitui a palavra humor, é uma forma divertida de iluminar pelo exagero as percepções coletivas, reflexo da sabedoria popular.
Quando faz rir é porque “acertou na mosca”. Ou, para usar uma imagem desses tempos, foi “um murro ou estômago” ou “bateu no fígado”.
Essa é a melhor parte dos brasileiros, que debocham dos políticos, prefeitos, governadores e presidentes, da Colônia até a República, sem maiores pretensões do que fazer farra no bar com os amigos.
Um povo que tem candidatos civilizados, que foram unânimes em se solidarizar com o adversário e suspenderam suas campanhas hoje.
Um povo que tem uma equipe médica rápida, competente e responsável, desde os profissionais que fizeram o que precisava ser feito a tempo aos que se deslocaram de um centro de excelência em São Paulo para ajudar no que fosse preciso para avaliar se era caso de transferência.
Um povo que tem uma polícia esforçada e ágil quando flagrada no contrapé da história, a despeito de suas limitações de recursos.
Um povo que tem uma imprensa altamente competente e consciente de sua missão numa hora dessas, preocupada com informação precisa, sem preconceito e alarme. Agregadora, sobretudo.
Um povo cujas altas autoridades, apesar da conjuntura miserável de degradação das instituições, parecem conscientes de suas altas responsabilidades nas notas que emitiram realçando a gravidade da hora para nossas conquistas democráticas.
Um povo que tem multidões solidárias, do calçadão da Halfed ao resto do país.
Resta apenas uma parte de gente maldosa espalhada nas redes sociais, aproveitando o baixo custo de opinar sem conhecimento e multiplicar seu preconceito. E que acabam criando um clima de guerra que, no limite, põe uma faca na mão de um maluco — que há em todos os partidos — que vai expiar seus delírios numa caminhada pacífica num calçadão contra um candidato arrastado por um monte de gente de bem.
São os que não conseguem fazer memes inteligentes e, por isso, contribuir com algum nível com o debate político.
Como estou otimista, quero acreditar que são minoria. E que não podemos acreditar que sejam capazes de instalar um clima de barbárie contra a maioria bem intencionada.
Que entendam a facada no líder de pesquisas como um limite de onde se deve começar a recuar.
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