Quando foi cassado na esteira do Mensalão e proibido de se candidatar por oito anos, o ex todo poderoso ministro da Casa Civl de Lula, José Dirceu, disse para quem quisesse ouvir que, a partir dali, iria ganhar dinheiro.
Até então, tinha-se permitido como benesses além dos presentinhos de R$ 70 permitidos pela administração pública, apenas alguns vinhos de Duda Mendonça e, até onde a história registra, uma garota de programa paga por um empreiteiro.
Criou a JD consultoria, se aproximou de empresas bem relacionadas com o governo e deu no que deu.
O hoje governador de Minas, Fernando Pimentel, também. Assim que deixou a prefeitura da capital em janeiro de 2009, sem planos imediatos para o futuro, criou uma empresa de consultoria e levantou um bom dinheiro antes de voltar ao Ministério do Desenvolvimento de Dilma, em 2011.
Idem Antônio Palocci. Caído em desgraça depois de mandar violar o sigilo bancário de um caseiro em reação ao fogo amigo interessado em desalojá-lo do Ministério da Fazenda de Lula, criou também a sua consultoria que arrecadou, só em 2010, mais de R$ 20 milhões.
Chegavam os três àquela altura da vida em que o sujeito, já batendo às portas da terceira idade, olha para trás e vê que não conseguiu muita coisa na vida com o salário público e que vai continuar não conseguindo se for viver como assalariado.
Olha para o lado e experimenta sensação maior de impotência ao ver o progresso dos amigos que preferiram o doce deleite das altas transações fora do — mas com o — governo ao ônus de se sentar numa cadeira do Estado para assinar portarias.
É a hora de se preocupar em deixar um legado patrimonial para a família, já que meio frustrado com o legado deixado para a história.
Lula certamente olhou para trás e para os lados quando saiu da Presidência em janeiro de 2011 e passou a pensar em um legado mais palpável para a família.
Nessa hora, além da tentação, entra a pressão do tempo, da mulher e dos filhos. Possivelmente, dona Marisa, entre escolhas de armários e pedalinhos ou diante de alguma resistência do marido, o tenha cutucado em alguma noite insone:
— Deixa de ser bobo, Luiz Inácio. Olha como é que estão seus amigos.
Pensei nisso ao ver de uma enfiada a quarta temporada de House of Cards, a mais completa tradução do mundo pantanoso da política, com suas caneladas, suas dissimulações e seus conflitos domésticos.
Claire Underwood, a imponente primeira-dama tão jararaca quanto o marido que ajudou a chegar à presidência dos Estados Unidos, depois de um monte esqueletos pelo caminho, quer ser vice-presidente ou qualquer coisa mais do que isso. E, pela primeira vez desde que começou sua escalada de maldades, o maior dos homens maus dos seriados americanos, Frank Underwood, fraqueja.
Impressionante como o leão de todas as certezas perde parte dos dentes, sobretudo ao final da terceira temporada, quando se desencapam os fios da relação de cumplicidade que tiveram em quase trinta anos e vão se embolar no confronto da atual etapa. Ele, apaixonado e algo débil diante das vontades dela, já não é mais o mesmo.
>>> House of Cards pode ser didático sobre o terreno pantanoso da política
>>> O que fez de Eduardo Cunha o Frank Underwood da política nacional
É que agora não está mais em jogo construir um legado na vida pública. Ou já se chegou à conclusão de que nada mais há a fazer nesse campo.
É fortalecer o castelo de cartas que realmente importa: o da família. Seja no plano afetivo ou financeiro, dependendo ou não, como no caso do Brasil, de empreiteiras envolvidas com o governo.
Ramiro Batista diz
Oh, Leandro, dê-me o prazer da leitura. Vai ver que se trata de um gancho para uma ironia.
Leandro diz
Comparar um exemplo de elegância e inteligencia como a CLAIRE com essa Marisa cara de salgadeira, sacoleira de bairro, revendedora de Jequiti é de um abuso tremendo.
Leandro diz
Nem vou ler, pq não tem comparação, Comparar essa Marisa de um Lula qualquer com um exemplo de elegância, estilo e inteligência como a Claire Underwood é de um despropósito tremendo.