Reparem em Fernando Haddad, a maior atração do segundo turno das eleições, com seus mais de 3,3 milhões de votos nas costas.
Até há pouco, quando ainda ministro da Educação, não encarava o telespectador, olhava para baixo nas entrevistas e até gaguejava. Nas entrevistas mais recentes, como candidato, já absorveu parte do traquejo da marquetagem que adestra o candidato para dividir o olhar entre o repórter e o telespectador.
É um poste, mas cada vez mais o tipo de poste que o eleitorado está aprovando. O sujeito simples, coloquial, com boa bagagem de informação mas sem afetação, com cara de professor de matemática. Ele não precisa…
…discursar bem, de grandes ênfases e nem levantar o nariz. Pode até tropeçar nas palavras. Pode até passar insegurança mesmo, um tom de falibilidade que o faz mais humano, sem tantas certezas.
– Nós sabemos que isso tudo é muito difícil, mas vamos tentar.
Esse tipo de poste que vai ganhando luz própria não é novo. Para ficar por aqui, começou com Fernando Pimentel, passou por Márcio Lacerda e Antônio Augusto Anastasia, três postes clássicos com cara de professores de geografia, e chegou ao ápice, ao nível nacional, com Dilma Roussef, a mulher que tremia nos primeiros debates na televisão. Mas o melhor nome que se pode dar-lhes é mesmo o de técnico, o sujeito avesso ao político, esse ser ameaçado de extinção por excesso de falsidade.
A última eleição trouxe um monte deles e pode estar ameaçando, seriamente, os candidatos com cara de político. Os que, mesmo se esforçando para parecerem novos, coloquiais, normais, de discurso fácil, já parecem velhos ou… políticos. Como Aécio Neves, Arthur Virgílio, Sérgio Cabral e até, vá lá, Eduardo Campos. Vivemos tempos tão apressados, que devoram e buscam rostos novos com tanta avidez, que as pessoas estão ficando velhas e superadas rápidas demais. Vale para os atores, para os apresentadores de TV e, claro, para os políticos.
Já nem falo em José Serra e Lula, velhíssimos. Mas desse time de novos meio velhos – de Aécio a Eduardo Campos – que saem como grandes protagonistas dessas eleições, com pretensões de controlar o processo em 2014 e 2018. Eles vão ter que topar com gente cada vez mais nova e gaguejante, como o próprio Haddad ou, quem sabe, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hofmann.
Que, pelo menos até lá, ainda devem estar com jeito de novo.
Ramiro Batista diz
Perfeito, Carla. A tentativa de eliminar os políticos e criar uma burocracia competente, durante a ditadura militar, não foi das melhores experiências. Os tempos são outros, mas técnicos tendem a se isolar em suas torres e a querer enquadrar a sociedade em suas teorias. Demoram a perceber/admitir que estão errados.
Carla diz
É engraçado como as coisas mudam: quando era criança e tentava ganhar os dois lados da balança, meus pais falavam “como você é política”. Agora contemporânea a essa “nova modalidade” de gestores e técnicos que eu acho fascinante porque mostra que a política evolui com o passar do tempo, mas também me preocupa na mesma intensidade. Onde ficará a figura do político? Sairá de cena por estar em desuso ou vai dividir espaço entre técnico/político?