Economista e analista de mercado, pós graduado em administração e finanças, Gunter Zibell tem feito no seu perfil no Facebook uma conta simples de desenhar:
Se os R$ 280 (28%) de custo previdenciário tirados de um salário de R$ 1 mil fossem depositados num fundo com rendimento de poupança de apenas 0,2% (descontado IRPF e inflação), em 35 anos esse trabalhador teria acumulado o suficiente para receber R$ 920,00 por mais 35 anos (margem bem superior aos 70% que a Previdência devolve em aposentadorias acima do salário). Se aplicasse por 49 anos, como quer o governo, sua renda mensal seria de pelo menos de duas vezes e meia, R$ 2,5 mil. O que quer dizer que, se um jovem entrou no mercado de trabalho com carteira assinada aos 16 anos, poderia se aposentar aos 51 e não ficar devendo nada a ninguém.
Só que o governo quer que esse trabalhador pague até os 65 além dos 35 de contribuição para pagar despesas que não são dele: os aposentados rurais que nunca contribuíram, os que contribuíram por apenas 15 anos, o Bolsa Família, o seguro defeso para que os pescadores possam proteger peixes nos quatro meses de desova e, por fim, o atendimento universal do SUS nos postos quebrados e nos hospitais mal geridos.
Essa matemática simples não aparece no discurso do governo e nem no da oposição que foi para as ruas, porque os dois vêem a previdência do mesmo jeito: um sistema de repartição solidário em que o trabalhador é chamado a contribuir com parte do seu salário para pagar a conta da montanha de benefícios que foram sendo criados nas últimas décadas.
Um imposto no seu contracheque. Uma arrecadação tributária para o governo. Um confisco de sua renda.
Fosse mais honesto em sua defesa, o governo diria o seguinte:
— Nós achamos que o dinheiro é seu, que você o amealhou honestamente a vida inteira, abrindo mão de 1 terço da sua renda, mas eu preciso que você contribua por mais uns anos para pagar o déficit que você não ajudou a construir.
Fosse mais honesta em seu ataque, a oposição e seus sindicatos diriam o seguinte:
— Nós achamos que o dinheiro é seu, que você o amealhou honestamente a vida inteira, abrindo mão de 1 terço da sua renda, mas você tem que contribuir por mais uns anos para fazer a redistribuição de renda pelo qual sempre lutamos.
Discurso político
O governo tem a desculpa de não saber o que fazer mesmo.
Com um déficit de R$ 150 bilhões e sem ter como aumentar impostos e inventar milagres para ampliar a receita, precisa cortar na despesa. Um tanto napoleanicamente para acenar disposição de reforma para o mercado, embora tenha peso quase zero para corrigir o problema em curto prazo.
Não tem como mudar o regime a essa altura. Mudar para um sistema de contribuição, em que a arrecadação de cada trabalhador seria individualizada e aplicada em fundos, requereria, como sugere Gunter, que o governo devolvesse que acumulou de cada um em forma de títulos públicos que constituiriam esses fundos.
Os líderes de oposição, nos parlamentos ou nas ruas, como sempre, não gostam de fazer contas. Por conveniência ou ignorância.
Economistas como Joana Mostafa, de um grupo de trabalho do Instituto de Ciências Aplicadas (Ipea), tem os melhores argumentos que li sobre por que as mulheres deveriam aposentador mais cedo (trabalham matematicamente mais para manter o lar) e o que significa ampliar de 15 para 25 anos a idade mínima para aposentadoria (criaria uma geração de desvalidos sem acesso à Previdência). Mas também não acena com a mais pífia sugestão para suprir esse déficit de 3% do PIB e dar sustentação a um sistema que não se sustenta.
A não ser que continue confiscando a renda do trabalhador para bancar os cursos sociais.
Ambos, governo e oposição, deveriam ter a coragem de defender um sistema de contribuição de contas individualizadas, para que o trabalhador se aposentasse na idade em que acabasse de formar seu pecúlio. E um imposto real, cobrado como imposto mesmo, para pagar a outra conta.
Mas parece meio pedir demais a um universo político que adora uma cortina de fumaça.
marcus brunetta diz
Prezado Ramiro:
Já tinha feito o mesmo cálculo do Zibell , que por sinal é de uma simplicidade acaciana, e considero um cinismo deslavado do governo desconsiderar o fato que a poupança acumulada pelo contribuinte do INSS
durante sua dura vida de trabalho seja mais do que suficiente, se honestamente administrada, de
financiar a sua aposentadoria durante toda sua existência e mais além.
Entretanto o governo insiste em calcular o balanço da previdência em bases correntes e obrigar patrões, empregados e aposentados a financiar as benesses do estado, contribuindo com alíquotas cada vez mais elevadas e durante períodos cada vez mais prolongados. É um acinte ao senso comum e à honestidade do estado. Além do mais obrigar aposentados a contribuir a fundo perdido para o INSS, bem como taxar imposto de renda sobre proventos de aposentadoria é uma atrocidade.
ezequiel diz
Isso é um tampa na cara do trabalhador e ao mesmo tempo chamando de idiota, vamos mudar isso ai porque tá de brincadeira se passar no congresso, estamos fritos arrumar empregado aos 30 anos tá dificil, imagine com 50,55 e 65 anos…vai prá p. q. pariu!
Gerald diz
Tá errado errado. INSS não tem de pagar SUAS, bolsa família, pescador etc essas despesas devem ser custeadas de outras fontes. Não misturemos alho com bugalhos. O INSS é auto sustentável. O problema maior do desequilíbrio financeiro é o pagamento de juros dá dívida pública
Não é nada de ação social e nem o INSS.
Cristiano Marques diz
INSS paga conta do SUS?
Não sabia.