Temos problemas imensos, vergonhosos e inéditos:
- a maior crise penitenciária da história moderna,
- o maior escândalo de corrupção do planeta,
- duas outras grandes delações do fim do mundo a caminho (recall das delações da Andrade Gutierrez e da Camargo Correia, com todos os seus executivos),
- outra Lava Jato no forno, as operações de Brasília que descobrem desvios astronômicos dos fundos de pensão das estatais e de investimentos do FGTS (Sépsis, Greenfield e Cui Bono?),
- a volta de doenças e epidemias do século XV, como, entre outras, Sífilis e Febre Amarela.
Mas não há mais uma sensação de fim de mundo.
Estivéssemos no início do ano passado, a caminho do impeachment, era caso de dar tiro no ouvido.
Hoje, porém, a sensação é de dor mansa dosada de certa condescendência alimentada por uma expectativa leve. A fase do “pior não pode ficar”, superada pelo “o pior já passou”, vai sendo substituída pela “no fim, tudo se resolve”.
Porque, como sempre, é a economia, estúpido.
Depois de fechar o ano com um saldo de aprovação de pelo menos dez pequenas e grandes reformas (veja meu texto), o governo colheu um pequeno surto de alegria, ainda que um tanto contida, na queda de juros anunciada pelo Banco Central, neste início de mês, alavancada pela queda do dólar e a subida das bolsas. A disparada das ações da Vale no pregão de ontem, por conta de decisões sobre produção da China, sugeriu a ideia de que há certa reordenação no mundo.
Escrevi na minha página do Facebook que Michel Temer riu o riso que estava previsto para vir no fim do ano. E ontem, na onda, embarcando para Davos, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles previu início da recuperação já no primeiro trimestre e um dezembro com fortes sinais de retomada do crescimento.
A persistir o quadro, o país sai da lama e Michel Temer do atoleiro pessoal.
A nova Lava Jato de Brasília, que chega no calcanhar do PMDB mais próximo dele, não pode impedi-lo por crimes anteriores ao exercício do cargo.
Sua única ameaça é o processo no TSE, que vai analisar a cassação da chapa que compôs com Dilma Rousseff para as eleições de 2014. Mas, como tudo que uma economia temperada de otimismo gera, aposto que, quando o processo for à votação, lá para maio, um dos ministros vai pedir vistas.
Mais alguma injeção de otimismo e as coisas se alongam para 2018, até as eleições, quando mais nada acontece.
Até lá, esse negócio de chacina em presídio, operações contra corrupção e doenças medievais são incidentes da paisagem.
Ramiro Batista diz
Corrigido, Demétrius. É preciso lembrar que são três grandes operações, incluindo, principalmente, a da carteira do FGTS. Mas vou conferir e melhorar.
DEMÉTRIUS MONTEIRO diz
Prezado Ramiro Batista,
a notícia de que teriam havido “desvios de até 1 trilhão dos fundos de pensão das estatais e do fundo de investimento do FGTS” é complemente absurda. Motivo: o patrimônio dos fundos (R$ 750 bilhões) e do FGTS (R$ 500 bilhões) perfazem um montante aproximado de R$ 1,25 trilhão. Então os desvios teriam sumido com 80% desse patrimônio?? Certamente que a turma de sempre deve ter tirado muita coisa, mas essa informação de R$ 1 trilhão é, definitivamente, descabida.