Houve um tempo em que era bonito nadar contra a corrente, afrontar a opinião pública e a ordem estabelecida. Na política e na literatura.
Era preciso ser revolucionário contra a opressão dos militares ou do capital e escrever só que o que confrontasse o senso comum.
Mas isso ficou tão fora de moda com a comunicação de massa e, depois, a guetização das redes sociais, que andei especulando sobre o que ainda motiva certas celebridades contra a voz da maioria, mesmo sob alto risco de queimar a reputação.
A partir de três exemplos:
- Gilmar Mendes.
Mais polêmico de nossos juízes, o ministro do Supremo abriu uma guerra contra os procuradores da Lava Jato, deu aquele voto um tanto heterodoxo que decidiu pelo arquivamento da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE e não viu problema em ir jantar com o próprio em meio a um tiroteio político-jurídico em que o bom senso aconselhava estarem em espaços distantes. - Reinaldo Azevedo.
Mais polêmico de nossos colunistas, o ex-jornalista de Veja abriu também uma guerra contra a operação desde que o presidente da Odebrecht foi preso e, com maior virulência, quando vazaram suas confidências com a fonte Andrea Neves. Chegou a dizer em seu último artigo para a Folha de S. Paulo que os procuradores estão no caminho da delinquência e que o STF nunca esteve tão pusilânime. Em um de seus posts agora no site da RedeTV, disse que Rodrigo Janot tem um estoque de velhacaria com a condescendência do ministro Edson Fachin, que atua como contínuo do Ministério Público. - Lair Ribeiro.
Mais polêmico de nossos médicos popstar, o nutrólogo e neurolinguista que inventou o livro de autoajuda brasileiro e teve passagem por Harvard tem arrepiado os médicos com teses um tanto heterodoxas contra verdades estabelecidas por sua comunidade. Como as vantagens do leite (“nenhum adulto deve tomar”), do filtro solar (“dá câncer”) e da gordura vegetal (“gordura saturada não faz mal ao coração”). Quase derrubou a internet recentemente com o vídeo em defendia 32 copos de água para compensar o estrago de um refrigerante no organismo.
Os três não têm medo de nadar contra a corrente.
Pelo contrário, parecem exibir certo prazer de testar os limites da opinião pública, o consenso da média, num tipo de radicalização meio fora do tempo. Em se dando que não agem por outras motivações que não a radicalidade de suas convicções.
É como se os três radicalizassem até a raiz mais funda de seus conhecimentos, como um tipo de defesa contra a simplificação, a generalização e o alargamento dos conceitos da era das mídias digitais e da pós verdade, em que cada um faz a sua.
Nela, dependendo da força da corrente de opinião construída, qualquer um pode ser preso, qualquer pensamento politicamente correto pode virar lei e qualquer empulhação da propaganda farmacêutica pode se tornar verdade científica.
O problema é que o paroxismo que pode levar ao contrário. Que o intento de vanguarda que as rupturas com a ordem estabelecida sugere podem indicar um namoro com o reacionarismo. E um tremendo estrago na imagem que construíram.
- Gilmar Mendes parece radicalizar tanto seu conceito de estado de direito que pode tomar toda inovação de interpretação dos jovens procuradores da Lava Jato como atentado à ordem em que nasceu e cresceu. Prender alguém sem culpa formada e decisão transitada em julgado seria o maior deles.
- Reinaldo Azevedo vai tão fundo na racionalidade do pensamento e na letra da lei para combater a militância política dos procuradores ou politicamente correta dos pensadores de redes sociais que chega ao paradoxo de se apegar às mesmas firulas jurídicas de que se valem os advogados para chicanas. Foi provavelmente o único jornalista de prestígio a defender aquele voto heterodoxo de Gilmar no TSE, contra todas as más evidências processuais que o senso comum percebeu.
- Lair Ribeiro parece tão convencido da radicalidade de seus conhecimentos sobre as competências naturais do organismo humano para superar adversidades que acaba por caminhar na fronteira perigosa de namorar o curandeirismo e a negação das conquistas da Medicina.
É o preço a pagar por tentar serem fundos em suas convicções numa época em que tudo é raso.
Sem tempo e disposição de parar para ler e entender as razões profundas dos três, a voz da maioria tende a colocar em dúvida suas reputações. Pode achar apenas um caso de quem está fora do lugar ou querendo aparecer por outras razões.
O que os salva — e serve como lição — é que já têm alguma reputação construída e podem merecer alguma boa vontade de quem os respeitou no passado. Mas se você está começando agora e pretendendo fazer alguma carreira no Direito, no Jornalismo (ou Literatura, vá lá) ou na Medicina, convém dançar conforme a música.
Toninho Coelho diz
Hoje, em 2022, estamos observando o quanto Reinaldo Azevedo estava certo. Os lavajatistas estão se roendo. Moro e sua corja afundaram nossas empresas com aval da midía. Parabéns Reinaldo!!!
Climenia diz
Ei! Eu sei que isto é meio off-topic mas eu queria saber
se você sabe onde eu poderia buscar um plugin de
captcha para meu formulário de comentário? Eu estou
usando a mesma plataforma de blog como o seu e eu estou tendo problemas encontrar um?
Muito obrigado!
cristiano marques diz
Os dois primeiros fogem ao senso comum, ‘a mesmice do contra.
Gilmar Mendes é o único juiz que ataca os altos salários do judiciário.
Reinaldo Azevedo é especialista em nadar contra a corrente.
Já Lair Ribeiro, acho que está perdendo audiência.
Apelou.
Ricardo Kertzman diz
Ah, me esqueci: você ganha quanto para não falar do Aécio, hein?!?
Ricardo Kertzman diz
Excelente, Ramiro! Só não gostei do “convém dançar conforme a música”, hehe. Abrs
Roberto diz
Sem ofensa, curiosidade de saber, se possível: gira em torno de quanto o ganho do blogueiro com estes blogs?
Roberto diz
Gilmar Mendes o Advogado do Psdb, O “Juiz” mais parcial que já vi parece que tem o rabo preso quando diz
que a lava-jato foi longe demais. Ora quem combate o combatente da corrupção, só pode fazer parte da
mesma.
Bethãnia Lima diz
Por favor, associar Gilmar Mendes e Reinaldo Azevedo, é um grande desrespeito ao Dr. Lair Ribeiro e a seus seguidores. Fazendo-me o favor! Absurdo.