Especular sobre quem ganha e quem perde e o jogo da sucessão com a rejeição da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, é um jogo divertido.
1. Ela perde seu projeto pessoal. Aécio Neves perde porque a polarização que buscava pode se dar entre Dilma e Campos. Dilma e Lula perdem porque prefeririam polarizar com Aécio e porque Campos e Marina têm mais autoridade para mostrar que o rei e a rainha que ajudaram a vestir estão nus.
2. Só ganha Campos, que cresce e sai com fama de grande articulador. Problema dele é dar consequencia a um discurso reformador e modernizante com uma vice que não deixa derrubar um pé de ficus, inundar uma lagoa e matar um tatu bola para se construir usina, estrada ou indústria.
3. Aécio vai tentar recuperar terreno procurando mostrar que está mais preparado para o que Dilma e Campos/Marina, por razões ideológicas, não estão: des-regulamentar, des-estrangular e deslanchar a infra-estrutura do país. Vai dizer que investimento social é importante mas não é tudo. Agora, é preciso competência econômica. Convencer de que é preciso um choque de gestão, sem a pecha ruim que o modelo ganhou em Minas.
4. Problema para ele é que Dilma, apesar dos bloqueios ideológicos e de seu capitalismo envergonhado, terá algo a mostrar e não ele. As grandes concessões/privatizações, de estradas, portos e aeroportos travaram, mas já começam a andar.
5. Para azar de Campos e Aécio, candidato em reeleição já sai com 50% da eleição ganha. E até lá, além de Dilma ter mais serviço a mostrar, o lado mau do PT – mensalão, chavismo, invasões do MST etc – já terão sido coisa do passado e terá pouco peso na eleição. Devem ter que esperar 2018.
Há um ganho e um risco.
Pela primeira vez desde as eleições do Plano Real em 1994, sai-se da polarização PTxPSDB e cria-se uma terceira força capaz de deixar mais claro, no confronto, os equívocos e os acertos das outras duas. Melhor ainda se ajudar na desconstrução das convicções algo absolutistas dos que vêm ganhando as eleições, sem uma oposição até agora convincente.
O risco é que o surgimento desse terceiro polo mais à esquerda, com seu capitalismo de estado e suas ideias voluntaristas para inibir a livre iniciativa e controlar a sociedade, conduza a disputa para o discurso social e não para o que interessa agora: a modernização do país, que passa principalmente pelas mãos da iniciativa privada.
O pior dos mundos é os três se engalfinharem para tentar mostrar quem pode mais melhorar o Bolsa Família ao invés de descomplicar um país que não sai do lugar. Não dá para adiar de novo essa discussão.
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